Brexit e BPNexit

Todos nos lembramos, na nossa juventude, do jogo terrível dos labirintos. Havia-os mais simples,  mas os intrincados e complexos eram exaustivos. Alguns resolviam-se em minutos, outros em horas e outros não os resolvíamos por perdermos a paciência.
Mas estes labirintos eram os de passatempo, que resolvíamos por distração. Depois houve também  “O General em seu Labirinto”, romance de Gabriel Garcia Marquez,  inspirado na vida de Simon Bolivar, El Libertador. Toda a sua vida , este herói sul americano tentou romper a cadeia que lhe era imposta pelo poder espanhol. Um labirinto imenso,  com vitórias inspiradoras em todo o continente mas que o levou, inevitavelmente, à morte. Um labirinto sem fim mas com percurso orientador. Sabia-se o que se queria.
Nos tempos que correm assistimos, intrigados, ao início de labirintos tremendos, com incontáveis percursos, indefinidas consequências para as quais não há, de momento, soluções. Ninguém sabe como tudo acabará, mas tudo vai começar. O famoso artigo 50 está concretizado e o Brexit vai começar.  Um circo que já teve uns “clowns”, tipo Farage, sempre de riso alvar e muita cerveja à mão, que rapidamente se retirou depois de perceber a alhada que tinha arranjado. Arranjá-la ainda é o mal menor, mas não saber como a resolver é bastante pior. A cobardia levou-o, a ele e muitos outros, para o tal labirinto de que não se conhece a saída. Veremos, se tivermos vida para isso, como se vão resolver os milhares de acordos que têm que ser alterados com a União Europeia e como vão ficar, à saída do labirinto, as situações tão interessantes da Escócia, das Irlandas e de Gibraltar. Enfim, uma saída que não se conhece, mas em torno da qual muita legislação será produzida, para gáudio dos grandes escritórios de advogados por esta Europa fora.
Haverá um fim.
Mais interessante, no entanto, é o escaldante labirinto que desde há anos se criou em torno do portuguesíssimo BPN. Aí, sim, tudo foi relatado, descrito, apontado, exaustivamente escalpelizado. O problema tinha vivido o seu labirinto e a conclusão estava  à porta.  Mas eis senão quando, de repente e sem aviso prévio, se confirmou que o labirinto não tinha saída. Há toneladas de culpas, transgressões, ludíbrios, aparentes e enormes vigarices mas, “helas”, não há culpados. Eles estão todos indiciados, inventariados, assinalados mas … não foram encontradas provas! O “exit”, a saída deste labirinto é realmente à portuguesa. Queremos confiar na justiça, queremos acreditar que a nossa sociedade se pauta por valores de seriedade, honestidade e ética e confrontamo-nos, de repente, com este pavoroso labirinto. Corações menos fortes podem não aguentar estes espasmos da sociedade. Claro que a jurisprudência nos virá explicar, a todos os ignorantes, que as leis têm os seus caminhos, que as moedas têm duas faces, mas nunca nos explicará quais as verdadeiras implicações, políticas e outras, que impediram a famosa e tão desejada recolha de provas conclusivas.
Como quando éramos miudos, este é dos tais labirintos tão complicados que não os acabávamos por falta de paciência.

Pior que o Brexit, este BPNexit incomoda-nos na nossa essência de cidadãos. Isto já acabou ou ainda vamos assistir a mais episódios?

Um pensamento sobre “Brexit e BPNexit

  1. Curiosa, a forma como o sorriso de satisfação se foi transformando, ao ler com o interesse já habitual, os textos deste blog. Ao passar os olhos, pela descrição dos jogos de labirintos da nossa juventude, senti que um sorriso de saudade se fixava no meu rosto, levando-me de imediato, aos tempos em que a palavra de honra, tinha apenas um e único significado. Eram os ingénuos labirintos, que percorríamos com um lápis, sobre as folhas dos jornais, e os bem desenhados labirintos dos jardins, que nos deixavam ansiosos por encontrar uma saída rápida. Também, das labirínticas negociações de uma saída europeia, cheia de dissabores, o meu semblante se modificou, com um sorriso diferente, cheio de amargura e de incertezas. Desses jogos, até aos labirínticos corredores da Justiça, onde os longos processos de fraudes se acomodam, a aguardar a fadiga das memórias, o meu sorriso passou a alternar-se pela tristeza e pela ira. Por mais que estiquemos o pescoço, tentando observar uma saída justa, apenas restou a saudade daqueles tempos, mas já sem o sorriso inicial…!

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