ACABOU A “CENTRAL DA BAIXA”

Para as gerações mais novas a “Central da Baixa” não lhes diz nada. É normal, nem sequer saberem do que se trata. Mas os pais e os avós deles sabem do que falo.  Fazendo um “rewind” no tempo (como eles dizem) a “Central da Baixa” era uma confeitaria-restaurante que se localizava na Rua Áurea (ou do Ouro), em Lisboa, ao lado de um edifício com uma fachada lindíssima que foi a sede do banco Totta e Açores. Calma, isto não é pré-história, tudo se passa há umas dezenas de anos, no centro nevrálgico da nossa capital.

A  “Central da Baixa” era uma reputada pastelaria onde os frequentadores da zona tomavam o pequeno almoço, de pé, ao balcão. Onde iam tomar um café a meio da manhã ou da tarde, onde almoçavam coisas simples e rápidas mas com sabor português. Foi, durante muitos anos, passagem e ponto de encontro quase obrigatório para muitos dos funcionários, públicos ou civis, que trabalhavam na área. Os oficiais da Armada, quando colocados em serviço no antigo Ministério da Marinha (mais conhecido pela Nau de Pedra), onde hoje continuam a funcionar os serviços da Marinha, não dispensavam passar pela “Central”, falar e trocar ideias sobre coisas que, dentro do Ministério, não seriam tão respiráveis. Não seria, propriamente, um local de conspiração mas muita gente que gostava de “falar mais à vontade” era lá que se encontrava, tomava o café ou prolongava a conversa à hora de almoço. Depois da minha vida na Armada, já na vida civil, por coincidência trabalhei, durante uns breves anos, também perto da Rua do Ouro. E lá me ia encontrando com gente conhecida, militares ou não. Não era ambiente requintado mas acolhedor. O café era bom, os pastéis de nata recomendáveis e os caracóis eram extraordinários.

Ao passar por lá recentemente verifiquei que já não havia a “Central”. Foi substituida por uma “Padaria Portuguesa”. Nada contra, compreendo perfeitamente, até tomei lá o tal café com um bolito (mais trivial…).  Mas o choque foi enorme. Tive a sensação de que tinha desaparecido uma das pirâmides do Egito ou as ruínas de Petra. Ou talvez um pouco da defunta Sociedade das Nações… Relembrei algumas caras conhecidas que por ali andaram no tempo em que fui cliente mais assíduo. Se calhar alguns deles também se foram,  como a “Central”…  Desculpem este saudosismo repentino que não é doentio. Foi apenas um estremeção nas minhas recordações. E o que lá está agora, está muito bem e bem organizado. Agora tira-se uma etiqueta com número à entrada com dizeres à escolha: “Para tomar na loja” ou “Para levar para Fora”. Nos meus tempos não havia nada disso, era a “granel” ao balcão e, de uma forma geral, a ordem de chegada era respeitada. Os empregados conheciam quase toda a gente e estavam atentos.

Os meus netos se lessem isto (acho que não têm paciência) teriam umas boas alcunhas para me gozar. Enfim, como disse alguém importante: “É a vida!”

3 pensamentos sobre “ACABOU A “CENTRAL DA BAIXA”

  1. Recordo-me muito bem da Central da Baixa, ponto de encontro para tantos almoços rápidos. Inicialmente, estava a fazer confusão com a Casa Chinesa, o que me daria também para lamentar, caso mudasse de ramo. Mas temos que considerar que o mundo não para, como também não parou com o desaparecimento da Colombo em troca de mais um Mc Donald´s , a Brasileira da Rua Sá da Bandeira, no Porto, e ainda a Marques, na rua Garrett, ou a Ferrari, na rua Nova do Almada, que desapareceu aquando do incêndio do Chiado, não havendo ninguém que se interessasse em a restaurar. Somos assim, um pouco perdulários de lugares que fizeram parte do nosso quotidiano…! Eu ia já terminar, mas comecei a pensar sobre o que diriam os parisienses e os milhões de turistas de todo o mundo, se encerrassem o Café de la Paix ?( Passe a minha imodéstia saloia )…!

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