OPAN

Nos tempos que correm as instituições, nacionais ou estrangeiras, que se dão a conhecer pelas iniciais das palavras que as constituem, dão-nos autênticas dores de cabeça e levam-nos quase até ao precipício da nossa ignorância. Obras há, geralmente de natureza mais técnica, que, como introdução,  apresentam páginas inteiras de abreviaturas codificadas, os chamados acrónimos, sem as quais a interpretação da leitura da obra seria quase incompreensível. Se nos lembrarmos de algumas mais corriqueiras como NATO, OTAN, ATP, EMGFA, EME, EMA, EMFA, ACNUR, OIM, ONU, COI, COP, OEA, AMI, WWF, ONG, IPDJ  logo nos ocorrem os milhares de outras com que temos sido confrontados ao longo da vida , de que já nem nos lembramos mas que nos foram, em certas fases, quase que indispensáveis.

Mas não se assustem com o acrónimo OPAN que escolhi para este texto. É coisa bem  simples mas que os mais novos que connosco convivem desconhecem por completo. E como foi importante para nós, os mais velhos…  Trata-se, como muitos se lembrarão, das iniciais por que era conhecida uma famosa cadeira do antigo ensino liceal, a Organização Política e Administrativa da Nação. Isto passava-se, claro, no tempo do Estado Novo, décadas durante as quais nascemos, crescemos e estudámos. Era uma disciplina do 6º ano do liceu (10º atual) na qual se aprendia a forma como eram organizadas as instituições fundamentais do país, como eram estruturadas e compostas e como  poderíamos eleger (????…)  os membros dessas estruturas.  Toda a gente passava no exame final. Mais Assembleia, menos Câmara, mais Presidente ou menos Conselho (que na altura nos obrigavam a distinguir de concelho, imagine-se…) aquilo era uma questão de “empinar” de véspera e dava para passar. Era o que havia na altura mas o que aprendíamos era verdade, era a realidade dos tempos.

Trago toda esta conversa à colação pelo facto de ter vindo a verificar, ao longo dos últimos anos,  que os alunos que acabam o 12º ano e se preparam para as suas candidaturas às universidades não sabem o que é um vereador ou deputado, não distinguem a Assembleia da República da Assembleia Municipal, não sabem que há uma Junta de Freguesia que os pode ajudar na vida, não sabem como se vota para o Presidente da República, para as Assembleias, qual o papel dos partidos políticos no “embrulho” geral de todas estas coisas. Falo por experiência própria. Tenho convivido com muitos jovens que, aos 18 anos,  lhes é dito que podem exercer o seu direito de voto. Voto?…  Votar em quê e como? Sabendo eu que estava a lidar com bons alunos, com médias que lhes permitiam o acesso aos cursos superiores que pretendiam frequentar, interroguei-me sobre a razão pela qual eles não sabiam os fundamentos políticos e administrativos do país onde nasceram. Porque ninguém lhes tinha ensinado,claro. Não tinham frequentado nenhuma disciplina onde estas coisas fossem ensinadas. Foi grande o meu espanto, ao princípio, e consultei professores e entendidos no ensino atual. Não, não há realmente nenhuma cadeira dessas,  embora os programas prevejam disciplinas de ensino cívico, e outras,  onde se poderia imaginar que essas coisas fossem abordadas. Não são e nem sequer se trata de temas com os quais os professores se preocupem a perder muito tempo. Têm coisas bem mais importantes com que se ocupar.

No entanto, saber como toda a organização política e administrativa do país se encontra organizada parece-me da mais elementar necessidade. Sei que nas faculdades estes temas são abordados (não sei se em todas e de que maneira) mas acho que é tarde. Aos 18 anos, quando os jovens acabam o secundário e estão aptos a votar, só com explicações dadas à pressa eles poderão ficar com uma leve ideia do que deverão fazer (no caso de comparecerem) aos diversos papelinhos que lhes dão quando se aproximam das urnas de voto.

Que arranjem outro nome (talvez OPAN seja traumatizante…), incluam estas matérias noutras disciplinas,  mas entendo como indispensável o ensino destes importantes saberes para que os jovens  possam viver mais conscientes e conhecedores da sociedade em que se incluem, sem terem a necessidade de se inscreverem nas juventudes partidárias para onde vão, normalmente, por influências familiares.  Dessa forma melhora-se uma coisa fundamental que se chama democracia, sem a qual os países ficam disponíveis para fenómenos de populismos e ditaduras que já campeiam por esse mundo fora. Educar os jovens, também neste sector, faz parte da tal mais valia que se diz pretender cultivar na nossa sociedade.

OPAN…  não gosto. Mas há muitas outras fórmulas para se ensinar o que me parece essencial para um mínimo apetrechamento político e social da juventude que será a responsável pela futura condução dos destinos do seu país.

Um pensamento sobre “OPAN

  1. Um assunto, mais que opotrtuno…! Não deixei de esboçar um pequeno sorriso, ao ler esta crónica sobre o que foi aquela disciplina mais detestada, no antigo sistema eduvcacional. Diria até mal amada, pela forma como ela era encarada pela maioria da juventude da época. Um frete, ou uma sensaborice, que se resumia a uma leitura rápida. O suficiente para apanhar uma nota positiva, para não estragar a média…! Apesar de tudo, ela era útil para quem viesse a necessitar de conhecimentos mínimos, sobre o que era a organização do Estado.
    E hoje, tanto que gostamos de discitir política, além de opinar, baseado no nosso tatear em experiências desconfortantes, bem que se sente, a falta de leituras sobre a Organização Administrativa de um Rgime Democrático, os Partidos e as Ideologias…! A própria Democracia, os Direitos e os Deveres.de um cidadão livre, que se interroga constantemente, perante os desnortes de tanta política abstrata…! Poderei exagerar, mas faz-me lembrar um indivíduo com poucos conhecimentos de pintura e habituado ao realismo Clássico, passar a vista por uma série de pinturas de Kandinsky ou Picasso…!

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