Desculpem mas hoje vou falar um bocadinho de Desporto e esclarecer algumas dúvidas que têm persistido nos últimos tempos, relativas a uma interessante modalidade em grande desenvolvimento.
O Padel é, em Portugal, uma modalidade desportiva relativamente recente. O início da sua existência oficial teve lugar no dia 5 de Dezembro de 2003, com a constituição da Associação Portuguesa de Padel em escritura notarial em Castro Marim, no Algarve (perto de Vila Real de Santo António). Nesse mesmo dia teve lugar a Assembleia Geral fundadora da Associação, na qual foram eleitos todos os órgãos sociais exigidos por lei: Mesa da Assembleia, Direção, Conselho Fiscal, Conselho de Arbitragem, Conselho Disciplinar e Conselho Jurisdicional. Todos os membros que integraram estes órgãos eram oriundos do Ténis, modalidade com muitas afinidades com o Padel.
É curioso conhecer as origens “contadas” desta modalidade (há outras explicações, julga-se que com menos apego à realidade). A coisa passa-se na Argentina, em 1982, quando o Presidente cessante da Federação Argentina de Ténis se retira e decide fazer no jardim de sua casa um “court” de ténis para as horas vagas com os amigos. Verificou que o espaço não era suficiente (não tinha a famosa dimensão mínima de 18×36 metros) para implantar o seu campo. Para o espaço reduzido de que dispunha resolveu, então, substituir o comprimento que lhe faltava por paredes verticais que passariam a fazer parte das batidas do jogo. Arranjou proteções laterais com participação no jogo, manteve a rede central como no ténis, reduziu as dimensões e a estrutura das raquetas, aproveitou, de início, as mesmas bolas do ténis (agora são ligeiramente diferentes) e inventou novas regras. Criou a modalidade como jogo de pares e aí se lançou, com os seus amigos, na sua nova aventura. Se foi bem assim ou não, é o menos importante, mas as versões que me têm sido relatadas ao longo dos anos por gente que bem o conhecia, não variam muito desta que aqui vos deixo.
Ao longo dos anos as regras, equipamentos e os espaços dedicados ao padel têm sofrido alterações mas, no fundo, a modalidade sempre tem mantido a sua vertente essencial de jogo de grupos amigos, de família, uma modalidade que começou, portanto, como modalidade de lazer. Claro que aqui, como em todas as outras atividades desportivas, também entrou o profissionalismo e os atletas de alta competição. E ainda bem. Tudo isso traz mais relevo à modalidade, mais visibilidade e, portanto, mais entusiasmo para os praticantes menos voluntariosos se iniciarem e se divertirem como o jogo. Enquanto que um jogador de ténis, para poder retirar algum prazer da modalidade, tem que ter uns anos de treino, no padel a coisa consegue-se apenas com algumas semans ou meses de aprendizagem.
É bom relembrar o ano de 2003 para se perceber como o padel entrou e se implantou em Portugal. Em Vila Real de Santo António onde, já naquela época, existia um excelente complexo desportivo, as relações e visitas de espanhóis de Ayamonte, Huelva e até de Sevilha era muito frequentes. E os portugueses respondiam da mesma maneira deslocando-se e competindo em Espanha em torneios de ténis. E foi nesse intercâmbio que se aperceberam que já existiam, por exemplo em Huelva, mais campos de padel do que de ténis. E com muito maior rendibilidade nos alugueres. Chamava-se ao padel o “primo do ténis”! Daí até à concretização da ideia de trazer o padel para Portugal foi um pulo. Criada a Associação em 2003 logo começaram a surgir muitos praticantes oriundos do ténis que quiseram experimentar a nova modalidade. E por todo o país, após a divulgação inicial, começaram a surgir diversos clubes de ténis a construirem os seus campos de padel. E foi com a energia e o entusiasmo do primeiro Presidente da Direção da Associação, João Moreira Dias, à data diretor do Complexo de Ténis de Vila Real (um nome que devia ser relembrado pelos responsáveis do padel português) que equipas nacionais estiveram presentes no Campeonato do Mundo de Padel para Iniciados, em Murcia, em 2004; no Primeiro Campeonato Nacional de Padel em Vila Real de Santo António, em 2006; no Campeonato Mundial de Seniores também em Murcia, em 2006; que se realizou o II Torneio Internacional de Lisboa, em 2005; que se efetuou o 1º circuito nacional em Abril de 2007; equipas que participaram no Campeonato da Europa em Sevilha 2008 e no Campeonato do Mundo no Canada (Alberta) em 2008.
Para nos apercebermos das razões que suscitaram a introdução do Padel em Portugal é interessante verificar que, já em 2007, existiam em Espanha 66 clubes exclusivamente dedicados ao Padel, espalhados por Andaluzia, Córdova, Granada, Huelva,Málaga,Sevilha, Aragão, Asturias, Baleares, Canárias, Cantabria, Catalunha, Castela e Mancha, Castela Leon, Extremadura, Galiza, La Rioja, Madrid, Melilla, Murcia, Navarra, País Basco e Valencia. Não era coisa pouca, suficiente para não haver dúvidas quanto ao esperado desenvolvimento da modalidade em Portugal.
Era inevitável que o desenvolvimento da modalidade passasse pelo reconhecimento oficial, fundamentado em pareceres favoráveis do Instituto do Desporto, do Comité Olímpico de Portugal e da Confederação do Desporto de Portugal. Todo o processo foi apresentado e conduzido através do Comité Olímpico, na medida em que o, à data, Presidente da Mesa da Assembleia da Associação de Padel era também membro do COP.
Ao fim de 5 anos de trabalho no lançamento e regularização da modalidade, fazia sentido que a próxima Federação, já em constituição, se localizasse em Lisboa para, assim, facilitar todas as diligências ainda necessárias. E em assembleia geral da Associação, em 9 de Novembro de 2008, foi eleita a única lista candidata aos corpos sociais, integrando gente conhecedora do ténis, em primeiro lugar, e do padel agora existente. Nesta Assembleia foi proposto, pela Direção eleita, e aprovado, por unanimidade, um voto de louvor que dizia: (transcrevo) “Voto de louvor ao Presidente da Direção cessante, João Moreira Dias, pelo trabalho que desenvolveu ao longo dos últimos anos. O nascimento da nossa Associação deve-se exclusivamente ao seu entusiasmo, dedicação e dinâmica, que mais uma vez não podemos deixar de enaltecer. Esperamos sinceramente continuar a contar com a sua insubstituivel colaboração.”
A partir daí fomos acompanhando vicissitudes diversas que se foram criando, principalmente por omissão incompreensível dos novos órgãos sociais eleitos. O vazio criado e a falta de respostas junto da Federação Internacional de Padel (na qual a Associação já se tinha inscrito) levou a que a Federação Portuguesa de Ténis incluisse nos seus estatutos a nova modalidade e assumisse a sua condução. A Federação anterior não tinha, no entanto, sido extinta e começaram a surgir, com a eleição de novos responsáveis, diferendos entre as duas entidades que o tempo e julgo que o bom senso acabaram por resolver.
Ainda bem! Hoje o Padel é uma modalidade reconhecida, vigorosa e com milhares de praticantes por todo o país. Tenho acompanhado, como simples praticante, toda esta evolução. E entendi que seria útil, para a pequena história do Padel, relembrar as suas fases iniciais que são, normalmente, as mais exigentes e mais trabalhosas. As origens são, muitas vezes, as boas lições para o futuro.
Já assisti, em alguns países, à prática de uma outra modalidade, o Ténis-Padel, que, no fundo, é uma expressão mais alargada do Padel mas também já com imensos praticantes. Deixaremos este assunto para outra oportunidade.
Estou de acordo : o padel é mais fácil que o ténis e bom para jogar com a família e amigos. Em 2004, 5 e 6 lembro-me de jogar padel em férias, no sul de Espanha
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