Uma visita a Sintra

Já se contava, por anos, o tempo que não ia a Sintra. Uma visita à Casa Museu de Ferreira de Castro, formigava no meu pensamento desde o Verão passado e que tantas vezes adiava pelas razões mais diversas. Talvez o excesso de turismo, ou ainda o calor e os incómodos do excesso de tudo…! E hoje, foi aquele dia decisivo. Umas pequenas abertas, com o Sol a querer manter-se entre algumas nuvens ainda ameaçadoras, alavancou o meu desejo de realizar esse pequeno passeio, tão perto de nós, mas sempre com o receio de não encontrar lugar para estacionar o carro, como passou a ser, um dos grandes problemas de quem viaja em carro próprio. Assunto, aproveitado pelos grandes Centros Comerciais, que inteligentemente, se apetrecharam de bons parques de estacionamento, muitos deles, gratuito, cativando clientes e passeantes para as suas exposições…! Um problema esquecido pelos nossos autarcas, nem sempre atentos à evolução do turismo e às solicitações que tudo isso implica.

E hoje, um dia normal a meio da semana e do mês de Novembro, que só os pequenos raios de Sol, nos poderiam fazer sair de casa, surpreendeu, pela quantidade de grupos de turistas, que se cruzavam connosco, obrigando a algum tempo de espera junto às passadeiras, não sem um sorriso gentil em resposta a pequenas vénias de agradecimento. Mas lugares para estacionar, esses, talvez mais lá para bem longe, ainda a complicar mais o trajecto por dentro da Vila, com proibições de circulação automóvel e outros de sentido único, obrigando a grandes tarefas de retorno, com subidas atrás de um fumarento Tuk Tuk. Não ! Aquela, não era a Sintra que eu conheci e que só aos Domingos se mostrava mais amarga…!

Para variar, um pequeno restaurante indiano, no recinto da Feira de S. Pedro, convidou-nos a entrar e saborear qualquer coisa de diferente. Talvez um Chacuti ou um Sarapatel, que acabei por não escolher. A ementa era variada, e os olhos ficaram fixos, num prato de gambas, em môlho de natas e côco, e numa carne de borrego de caril e gengibre, que uma Imperial bem fresca, acabou por apagar o fogo do picante…!

Com a chuva a aparecer de novo, a visita ao museu Ferreira de Castro, mais uma vez, ficou para outra oportunidade. Talvez com a releitura, entretanto, de alguns dos seus livros, relembrando como aquele escritor, nosso contemporâneo, nos deixavam admirados, pela sua escrita e pela realidade de uma vida dura de emigrante, iniciada aos doze anos. Como ele, outros tantos, entregues à sua sorte, ainda que meramente encaminhado por familiares, por terras do Sertão Brasileiro…! Aquele Sertão, tão bem descrito pelo seu amigo Jorge Amado. Histórias de uma vida, que Charles Dickens ou Mark Twain certamente gostariam de ter conhecido, como manancial para os seus contos.

E o tanto, que os romances de Ferreira de Castro, me fizeram ver sobre a vida portuguesa do interior, a somar aos exemplos que assisti a bordo do Serpa Pinto, a caminho do Brasil, sem qualificações profissionais, como se diz hoje, ou simplesmente analfabetos, apenas com a ambição de serem ricos. Eu, também como emigrante, também na esperança de viver num país diferente, livre e democrático. De poder alcançar uma vida diferente, como os outros do meio rural e pouco desenvolvido, a procurarmos um futuro mais risonho. Uma emigração, também nem sempre igual e nem sempre com sucesso…!

2 pensamentos sobre “Uma visita a Sintra

  1. Gostei de ler e de aprender que havia um Museu Ferreira de Castro em Sintra. Só conhecia a Casa Museu em Oliveira de Azeméis.
    Foi um autor de que li todos os romances , na edição da Guimarães com capa e Bernardo Marques e ex-libris do autor.

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  2. Rui. Afinal , a ida a Sintra foi mais que um simples almoço . Ainda bem, devem ter gostado pois o que descreves faz pensar num passeio alegre ! Gostei muito de ler o que escreveste . Tudo muito bem descrito , como aliás é teu apanágio. Pena não termos podido ir, pois com um cicerone como tu , o passeio para a Luísa e para mim , seria muito agradável . Fica para uma próxima vez. Repito que gostei muito da maneira como descreveste todo o vosso passeio ! Obrigado .

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