Distancionamentos


Não sei bem, se hoje é quarta, ou se já estamos na sexta -feira. ..! Começo a ter uma certa dificuldade, em memorizar os dias da semana. Todos os dias me parecem Domingos, com torradas barradas de manteiga, pela manhã, alternando o café, com um chocolate quente, que me reduz o apetite para o almoço, já sem horas rígidas. Com uma certa frequência, olho para o telemóvel, para confirmar a data, sem saber porque o faço. Apenas um hábito, cuja utilidade começa a dissipar-se rapidamente. Talvez, porque gosto de estar em dia, mesmo que não me preocupe muito com a passagem do tempo. Hábitos, que me fazem perguntar, com um ar desinteressado, para que quererei eu o tempo, se não vou a lado nenhum ? Se para ler, precisasse de o gerir melhor, não fosse eu ter que andar em correrias, para cumprir horários de nada…? A verdade, é que nos habituámos a regras de civilização, e gostamos de as seguir, mesmo que as possamos dispensar por momentos.

Sem compromissos de encontros, ou programas estabelecidos de almoços com amigos, ou um ou outro jantar mais demorado, dilatado em conversas sobre situações, o tempo vai-se consumindo em pequenos pensamentos. Dou comigo a pensar, como seriam penosos, estes dias de contensão, se não houvesse Internet e apenas o telefone ? Aquele telefone de disco com números, para dizer que estou aqui, precisando de um pouco de conversa e rirmo-nos um pouco, afugentando o fantasma do isolamento. Tão diferente dos tempos de África, em pleno mato, apenas com um rádio, de um amigo ” macanudo ” ?

Alô, alô, ( código )…! Escuto ! E a voz do outro lado, misturada com os sons parasitas das ondas médias e curtas, a iniciar uma conversa, também curta, marcada para aquela hora…! Era um outro tipo de isolamento…! Saudável. Com o cheiro maravilhoso da selva, e com perigos calculados. Um outro tipo de isolamento, que nos enchia o peito de satisfação, por conseguirmos ver o interior do mundo, e vivê-lo como se tratasse de uma viagem de estudo à Natureza.

E nos meus pensamentos misturados, saio de casa, dentro de muros próprios, e faço as minhas marchas, conversando com as árvores ainda floridas, sem respostas, aguardando por melhores dias, que sabemos todos nós que voltarão, com outro gosto pela vida, mais sabedores e confiantes, para enfrentar um mundo voltado do avesso…! Nada nos fará ceder a um inimigo falso, que não se vê !





2 pensamentos sobre “Distancionamentos

  1. Caro Manuel José, tu, eu, a nossa geração já viu e já passou por muitas coisas difíceis. Vamos sem dúvida ultrapassar mais esta crise e sair com vontade redobrada de apreciar os anos de permanência que ainda nos restam

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