1978 – Arte Portuguesa desde 1910

Tem sempre havido grandes preocupações com a divulgação das artes em todos os países, incluindo o nosso, através de muitas iniciativas, de maior ou menor dimensão, mas que, geralmente, o tempo vai diluindo com a sua inapelável erosão. Todos os Centros de Artes e Museus em todo o mundo vão reunindo verbas para expor peças artísticas dos pintores ou escultores de maior nomeada. Muitas galerias existem, felizmente, que reservam os seus espaços para autores iniciados, alguns de muito talento, que têm, assim, oportunidade de apresentar as suas criações , os seus talentos ou os seus novos caminhos. Os critérios para exposição de artistas e as verbas disponíveis para realizar essas iniciativas são sempre discutíveis, curtas ou insuficientes. Nos tempos que vivemos (os da pandemia covid) as consequências têm sido terríveis para a vida ou profissões em geral e para os artistas, de que hoje falamos, de todas as artes, sem excepção, são lamentavelmente agressivas.

Por tudo isto ocorreu-me falar hoje de uma exposição que teve lugar numa época difícil para o nosso país, 1978, mas que teve um grande sucesso internacional. Só as instituições mais ligadas a estes eventos (que não é o meu caso) ainda recordarão ou guardarão apontamentos dessa exposição. Quase ninguém das gerações atuais, para além dos especialistas, terá sido informado desta exposição e das suas consequências para a Arte portuguesa. Trata-se da Exposição de Arte Portuguesa desde 1910 , inaugurada em 2 de Setembro de 1978 na Royal Academy of Arts, em Londres.

Eram passados apenas 4 anos sobre o 25 de Abril de 1974 e as entidades portuguesas decidiram promover uma exposição de prestígio que fizesse regressar às ribaltas internacionais os nomes dos mais famosos artistas portugueses. Com o Alto Patrocínio do Presidente da República (General Ramalho Eanes), a Royal Academy of Arts em colaboração com a Anglo-Portuguese Society e a Fundação Calouste Gulbenkian realizaram uma exposição que designaram, como já disse, Portuguese Art Since 1910, que ficou marcada como um dos grandes eventos da sua época. Por diversas razões estive ligado a essa exposição e acabei por visitá-la com grande prazer. Guardei o catálogo que vos apresento de seguida.

No prefácio do catálogo lê-se, escrito pelo Presidente da Royal Academy of Arts, Sir Hugh Casson, o seguinte: Através desta Exposição verifica-se que também os artistas portugueses trabalharam dentro das tradições dos primeiros anos deste século. Na montagem desta exposição devemos agradecer em particular à Fundação Calouste Gulbenkian e ao seu Presidente Dr. José de Azeredo Perdigão. São longas e de grande significado as relações desta Fundação com a Grã-Bretanha”.

A seguir ao prefácio também escrito pelo Dr. Azeredo Oerdigão vem uma longa lista de 57 instituições ou particulares que emprestaram graciosamente peças para a exposição. Depois de uma longa e detalhada Introdução é apresentada uma “Nota sobre a organização da exposição” e que refere, por ordem cronológica, os Movimentos e os artistas que mais notavelmente os representaram:

1.  –  Futurismo. – 1910/18.   Santa Rita, Amadeo de Sousa Cardoso.

2. –  A Primeira Geração nascida entre 1881 e 1900, com primeiras exibições entre 1911 e 1932.   Eduardo Viana, Almada Negreiros, Mário Eloy, Carlos Botelho (Santa Rita, Amadeo de Sousa Cardoso).

3. –  Abstração de 1935 até à atualidade.   Vieira da Silva, Fernando Lanhas, D’Assumpção, Ângelo de Sousa.

4.  –  A Segunda Geração nascida entre 1908 e 1925, com primeiras exibições entre 1933 e 1943.  Hogan, Júlio Resende, Júlio Pomar (António Dacosta, Fernando Azevedo, Vespeira, Cruzeiro Seixas, Vieira da Silva, Fernando Lanhas).

5.  –  Surrealismo  de 1947 até ao presente. António Dacosta, Fernando Azevedo, Vespeira, Cruzeiro Seixas.

6.  –  A Terceira Geração nascida entre 1926 e 1943, com primeiras exibições entre 1951 e 1969.  Menez, Paula Rego, Costa Pinheiro, Bartolomeu dos Santos, Ana Hatherly, Lourdes Castro, João Cutileiro, Noronha da Costa, Eduardo Batarda (D’Assumpção, Ângelo de Sousa).

O catálogo alonga-se pormenorizadamente sobre a vida artística portuguesa, os seus intérpretes, os meios de divulgação utilizados, as participações cronológicas de todos os autores representados e incluindo, claro, todas as peças expostas (162). Um catálogo que pode ser, para os interessados, um bom meio de consulta e conhecimento do que tem sido a arte portuguesa nos últimos anos. Muitos dos autores ali incluidos ainda estão vivos. Foi uma exposição realizada numa época difícil para Portugal. A época que presentemente vivemos desafia-nos para grandes e novas iniciativas, patrocinadas e apoiadas pelas maiores organizações nacionais. Para que a Arte Portuguesa não se sinta desprotegida ou não reconhecida pelos seus pares e por todos nós.

E repetimos: “É pela cultura que tudo começa!”

Um pensamento sobre “1978 – Arte Portuguesa desde 1910

  1. Somos, de facto, um país de distraídos. E a pintura, tantas vezes esquecida, foi-se tornando uma forma de cultura, menos apreciada e discutida, até quase ao abandono de um futuro que sempre existiu, entre os que viam o mundo com cores diferentes. E assim, todos estes pintores, nos deixaram a sua forma de ver a vida com o seu traço ou as marcas de pincel, tão personalizada da sua própria escola. Permita-me recordar ainda Columbano Bordalo Pinheiro e o aguarelista Roque Gameiro. Bem haja, pelo artigo !

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