TOURADAS E DEMOGRAFIA

Desde novo sempre apreciei touradas, ou corridas de touros como os especialistas gostam de dizer. O meu pai, que era apaixonado, levava-me quase sempre, principalmente para as galerias altas do Campo Pequeno, onde assisti a grandes espetáculos taurinos. Lembro-me de ver Gregório Garcia (vão ver à internet quem foi), Manuel dos Santos, Diamantino Viseu e até o primeiro toureiro angolano negro, Ricardo Chibanga, que toureava com grande elegância. E o grande Manolete que morreu colhido em Espanha, na Praça de Linares, a 27 de Agosto de 1947. Nesse tempo havia toureio a pé e toureio a cavalo mas como em Portugal era proibido o touro de morte, esta versão foi decaindo dando lugar ao toureio a cavalo que se tornou, entre nós, uma especialidade muito apreciada, com enormes artistas. Manuel dos Santos (talvez o melhor toureiro a pé português) deslumbrou-se com a sua própria lide no Campo Pequeno e matou o touro. O público aplaudiu de pé mas, claro, ele foi multado e passou a tourear praticamente só em Espanha onde os touros de morte eram e são autorizados. Voltou poucas vezes a Portugal. O seu grande rival, Diamantino Viseu, morreu atropelado numa passagem de peões da Avenida de Berna, sem nunca ter sido colhido por um touro. Ainda me lembro de uma praça de touros em Algés, onde hoje só há rotundas e passagens elevadas para automóveis. Havia também, em Outubro, as largadas de touros em Vila Franca, onde o meu pai sempre ia mas nunca me levava. Até que um dia apanhou um susto e também nunca mais foi.

Os grandes momentos das nossas touradas eram as pegas de touros. Existiam grupos de oito forcados que, sem qualquer ajuda, esperavam pelo bicho e o obrigavam a parar. Quando podiam, claro. Estes grupos de forcados foram criados em 1836, no reinado de D. Maria II, quando foi decretada a proibição dos touros de morte em Portugal.

Lembro-me de convidar um americano que se encontrava a trabalhar comigo em Lisboa a ir ver uma corrida ao Campo Pequeno, coisa que para ele era autêntica novidade. Uma das pegas acabou mesmo junto à barreira onde nos encontrávamos e, enquanto o público, de pé, aplaudia, esse meu amigo, também deslumbrado, dizia-me que aquilo era pior que trabalhar com o chefe dele (americano que conheci e de quem também não gostei).

Claro que a extinção prática do toureio a pé fez com que os criadores de gado portugueses (ganaderos) passassem a vender os seus animais para as arenas espanholas. E o negócio, que não é pequeno, continua.

Claro que as touradas sempre foram muito criticadas pelo facto de se defender o bem estar dos animais e que as corridas lhes impunham um sofrimento visível. Essas razões têm vindo a ganhar peso e o número de corridas em Portugal foi muito reduzida. A Catedral do Toureio (como se chamava ao Campo Pequeno) passou a ser uma catedral de restaurantes com imensas esplanadas para o exterior.

A própria política assumiu esse combate contra as touradas e os efeitos têm sido visíveis. Achei graça ao painel que foi colocado no Campo Pequeno e que diz

Touradas só na cama

Bom, também todos nos lembramos dessas e, algumas vezes, as duas almofadas que se vêem na foto não eram suficientes.

Se destas novas touradas nada resultava de especial, havemos de concordar que, de muitas delas a nossa demografia pode ter aumentado. A manter-se a proposta ali exposta julgo que a “geração grisalha” pode ficar descansada porque com grande rapidez e exuberância, novas gerações surgirão rapidamente. E os touros, paciência. Quem os quiser ver que vá a Espanha ou passe a assinar o canal televisivo TOROS que transmite, em contínuo, as faenas dos maiores matadores do país vizinho.

E se os políticos dizem, há que lhes dar ouvidos: touradas só na cama. O consentimento, logo se vê…

2 pensamentos sobre “TOURADAS E DEMOGRAFIA

  1. Não mantenho grandes conhecimentos sobre a vida tauromática, embora tivesse tido uma grande admiração da Fiesta. Talvez mais, pelos Trajes de Luces e o Garbo de los Maestros… ! Conchita Citron, dava-nos o mote, para sonhos de grande colorido !
    Era ainda garoto, sem pretensões a nada, entrei numa garraiada, no antigo Casino da Figueira da Foz . O nervosismo era tal, que nem tinha dado pela presença do garraio, em pleno palco central, ( arena ) no meio de outros concorrentes. Um descontrolo, permitiu que houvesse uma outra entrada das feras, causando um certo embaraço à dezena de jóvens diestros que, como eu queriam mostrar valentia, perante os olhares femininos do outro lado da barreira. Os Olés, começavam a ouvir-se, no meio de nervosas risadas. Mas, ainda um terceiro garraio, de muito mau feitio, acabava de trocar as voltas ao ganadero, investindo pelo lado da plateia, mostrando o seu descontentamento. Cadeiras no ar, causando o pânico dos que do lado de fora, nos ovacionavam..! Foi uma garraiada monumental, sem sabermos para que lado havíamos de fugir daquela bicharada…!
    Aos poucos, os entusiásmos começaram a desaparecer, e La Fiesta, em ritmo de passo-doble, foi desaparecendo, substituido por boleros e outras encantos…!

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