Uma conversa de abrir os olhos

Após escrever e reescrever este parágrafo inúmeras vezes, estreio então a minha participação neste belo espaço. Perdoem-me desde já, se o meu português não for o mais correto, o meu vocabulário o mais extenso ou as minhas palavras as mais sábias, mas confiem que tudo o que for dito por mim, será com boas intenções ( mesmo que essas sejam egoístas, com a mera finalidade do meu desabafo pessoal).

Tive hoje uma conversa com o meu pai que, para além de interessante, foi também alarmante.

Conversa esta que me remeteu para o início do meu interesse e adesão ao feminismo.

fe·mi·nis·mo 
(francês féminisme)
substantivo masculino
Movimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direito civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem.

Foi há dois anos atrás, durante a minha participação num campo de férias internacional. Havia um grupo de raparigas que se denominavam de feministas, e eu decidi perceber melhor do que falavam. No entanto, não fiquei esclarecida. Pelo contrário, fiquei com ainda mais dúvidas sobre o que o movimento defendia.

Ou seja, a ideia com que fiquei após ter falado com elas, era que o objetivo era as mulheres superarem os homens, as mulheres liderarem o mundo e de que todos – ou quase todos – os homens não sofriam, apenas faziam sofrer.

Todo este conceito não me fazia sentido, e não fui capaz de, na altura, assumir esse papel de feminista.

Foi só 1 ano mais tarde, devido aos acontecimentos sociais da altura, que percebi o quão errada estava. Percebi que o objetivo do movimento não passa por estabelecer uma superioridade das mulheres sobre os homens, não procura a inversão de papéis nem procura negar todos os direitos do sexo masculino. Procura apenas  a igualdade; de direitos, de atitudes, de tratamentos.

No entanto, quando estava então a ter uma discussão com o meu pai sobre assédio, agressão e violência doméstica, o meu lado protetor de todas as vítimas femininas de actos tão repugnantes veio ao de cima. Quando o meu pai tentou chamar à atenção que, de facto, homens e rapazes podem – e são – vítimas de muitos deste actos, não os quis incluir no meu escudo protetor.

E errei. Errei porque sei que, infelizmente, o assédio e a violência doméstica não são ações direcionadas exclusivamente ao sexo feminino. Errei porque sei que, ao me orgulhar de ser feminista, devo defender a igualdade. Mas na minha pressa de defender “a minha gente”, inferiorizei o sofrimento masculino.

Sendo assim, quero apenas chamar à atenção de que homens e rapazes também sofrem. Também são alvos sexuais de actos indesculpáveis. Também são vítimas de agressão e de violência doméstica. E, para além disso, também têm o direito a sentir, expressar e mostrar a sua dor e sofrimento. De chorar.

5 pensamentos sobre “Uma conversa de abrir os olhos

  1. Os meus parabéns ! Não podia ter escolhido melhor tema…! Longe, vai o tempo, em que a mulher era educada para ser dona de casa, ser mãe e esposa. Obedecer, segundo um critério machista, numa sociedade onde apenas os homens cabiam, na discussão política, nas decisões e nos destinos do mundo. Numa sociedade, onde a educação e a elegância, se resumia ao galanteio da beleza feminina, realçando o poder machista. Recordo, muitas vezes, uma conversa que tive à mesa, num jantar de família, em que me afirmei ser um defensor acérrimo dos direitos da mulher, a começar pela minha própria mãe. Dona de casa e mãe, com um gosto especial para receber, sem nunca se queixar de cansaço. Apenas, mostrando uma certa felicidade, por oferecer o melhor do seu saber ! Levantou-se, e deu-me um grande abraço, quebrando um protocolo familiar de boas maneiras. Ainda com os meus onze anos de idade, verificámos todos, sorridentemente, que estava ali uma revolucionária em estado embrionário, fazendo esforços para romper as tradições, que o final da 2ª Guerra tinha começado a despoletar…! E neste capítulo, não posso esquecer a contribuição importante, que a mulher teve para a vitória da liberdade e da democracia, em toda a Europa…!

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  2. Em primeiro lugar, “pai babado” não pode deixar de dar os parabéns por esta tua contribuição que muito me agrada e orgulha.
    Em segundo lugar, mais feliz fico por teres a lucidez de, mesmo na altura não tendo concordado comigo, teres refletido e chegado à tua própria conclusão – é aqui irrelevante que seja idêntica à minha pois nada me agrada mais quem consegue depois de uma conversa pensar por si – podias ter chegado à conclusão oposta que o meu orgulho não seria menor – O FIM É IRRELEVANTE – O QUE CONTA É O CAMINHO.

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