Em título de um jornal francês recente vinha a seguinte frase: “A beleza perdida do Lago Nakuru, pérola do Quénia. A urbanização e a desflorestação liquidam este tesouro natural e põem em fuga milhões de flamingos rosas”.
“Flamingo Road” é uma estrada hoje sem significado. Esta longa avenida desce docemente até ao Parque Nacional do Lago Nakuru, no Quénia, de onde desapareceram os maravilhosos flamingos rosa. Desde há anos.
Apenas a 130 km ao norte de Nairobi, o Diretor Adjunto do Parque diz que “Dantes, o lago estava todo cor de rosa!” Antigo militar experimentado tem passado pelas reservas queimadas por incêndios a norte do Quénia, o que tem liquidado o seu Parque. Anos atrás viviam ali 2 a 4 milhões de flamingos, nas águas alcalinas do Lago. Nas boas estações dos anos, cerca de 75% da população mundial destas espécies encontravam-se em Nakuru. Hoje não são mais de 5000 a 15000 e apenas de passagem.
Nakuru continua a oferecer um quadro idílico, com as suas lendárias águas calmas e turquesas,estendendo-se entre os vulcões do Rif e coroada por uma cintura feérica de acácias. Nas suas pradarias encontram-se ainda antílopes, zebras, búfalos, rinocerontes e mais de 400 espécies de aves das quais 13 em risco de extinção. O local, inscrito como Património Mundial da Unesco, atraiu 200.000 visitantes do mundo inteiro.
Mas flamingos, já não há. Vinham dantes alimentar-se de “spirulina”, uma microalga azul presente em águas alcalinas e pouco profundas. Isso acabou em 2013. Com os incêndios, abate de florestas e a construção, as águas escorrentes das encostas vieram aumentar brutalmente o nível do lago, as florestas de acácias estão a apodrecer. A água é fria e perdeu a sua acidez e salinidade. A “spirulina” não se desenvolve e os flamingos mudaram de poiso.
Os incêndios provocados pelos habitantes fazem o fogo propagar-se na reserva.
As entidades tentam lutar contra esta avalancha de “progresso”, de desprezo e ignorância. Segundo os responsáveis “pouco haverá a fazer”.
Bom termo de comparação, este, com o que se passa nos outros continentes de forma, aparentemente, mais acidental.
Austrália, Europa, Canadá, Estados Unidos, América do Sul sofrem, nos seus verões, com o flagelo dos incêndios. Estão previstos estatisticamente.
Entre nós é o mesmo. Apesar das temperaturas elevadas, dos ventos fortes e do desmazelo florestal, ninguém tem a coragem e a honestidade de apontar o dedo às razões da maior parte desses incêndios. Ouvimos na rádio e nas televisões, Presidentes de Câmaras aconselharem a que se apanhem “os gajos dos isqueiros”, quase sempre os mesmos, pagos para promover ignições. Não esqueçamos que os incêndios começam com ignições (naturais, queimadas domésticas, piqueniques, foguetórios e pirómanos pagos). As polícias apanham-nos, principalmente os confessos ou criminosos (já anunciaram este ano quase 90), alguns ficam presos, outros ficam condicionados.
Quais as razões destes incêndios voluntários? A quem interessa este descalabro? Razões económicas? Financeiras? Vinganças pessoais? Não se sabe, nada ou quase nada se prova. Muitas destas operações assemelham-se a operações militares. Rápidas e eficazes.
Em França, Itália, Espanha (os que nos estão mais próximos) vão apanhando culpados que são punidos. E cá? Como é? Limitamo-nos a fazer as estatísticas?
Aparecem, com frequência, professores doutores de agricultura e da floresta a expandirem as suas opiniões sobre a prevenção, o reordenamento do território, coisa que quase toda a gente sabe. Mas as medidas punitivas para os que, voluntariamente, prevaricaram? Sim, porque são esses os culpados diretos pelas indústrias destruídas, pelas casas ardidas, pelas famílias desalojadas, pelos gados sem pastoreio, pelas quintas sem as culturas de subsistência.
Sim, são esses, e é preciso que se saiba, que se puna e se previna.
Que não se transforme, sistematicamente, este assalto programado ao país em ataques aos governos. Pretende-se, e consegue-se, espalhar a preocupação e o pânico.
Desculpem, mas as razões não vêm ao de cima.
A ignorância, a incompetência, o desequilíbrio mental levam cá e noutros locais, ao desespero das populações honestas. Que talvez seja isso que se pretenda.
Os flamingos do Lago Nakuru já lá não estão, pelas mesmas razões.
Depois de ler com a atenção o assunto de hoje, que não dispenso nunca, fiquei ainda mais apreensivo, sobre todos estes acontecimentos que nos vão empalidecendo a alegria do nosso dia a dia. Pouco conheço sobre o lago Nakuru. Tenho uma vaga ideia, de já ter visto imagens com flamingos em vôo, em filmes ou em documentários sobre o Kénia. Talvez no filme ” Onde os abutres não voam “, ou ” África minha “. Qualquer deles, apaixonantes, no que diz respeito a paisagens e à vida selvagem.
A verdade, é que África, que foi sempre considerada um pulmão da Terra, ficou entregue a si própria, após as descolonizações mais ou menos apressadas, sem as preocupações de manter a beleza natural da vida selvagem, salvo alguns restos de parques protegidos, como o de Gorongoza ou de Krugel Park. E os flamingos de Nakuru, pela ignorância e ganância do homem, ressentiram-se com as mudanças do seu habitat. No entanto, as aves vão escolhendo outros poisos e adaptando-se a outras circunstâncias, que o homem também vai construindo para seu próprio lazer. E quero referir-me aos lagos, bem mais diminutos, dos Campos de Golf, onde polulam patos selvagens, auto-adaptados ao ambiente repousante dos Fairway e dos Green, onde normalmente só se houve, espaçadamente, a pancada numa bola, de forma forte e sêca.
Mas voltando à realidade que se vive actualmente, no nosso país e no Sul da Europa, o desprezo tantas vezes apresentado pela vida rural, e por aqueles que procuram as cidades em demanda de uma nova vida mais atractiva, provocou o descontrolo da floresta, entregue a si própria. A incúria ou a falta de visão das autarquias, têm negligenciado o que mais barato teria saído ao país : A limpeza dos quintais, das bermas das estradas, dos caminhos vicinais. Dos proprios olivais e vinhas. ( As vinhas não ardem nunca, se não tiverem ervas secas por debaixo ). Do aconselhamento e da mentalização, de toda a população das aldeias e vilas, para o dever da limpeza dos seus quintais e das suas terras, num perímetro aconselhável, como se tratasse da sua própria casa, da sua cozinha, ou do seu próprio quarto.
Toda este abandono, cada vez mais me convenço, tem sido estudado por quem nos quer enfraquecer, e espreita a oportunidade de executar, metodicamente a destruição pelo terror, com tudo o que possa provocar a morte, não se ficando apenas com ataques covardes nas Ramblas ou nas avenidas à beira mar, a pessoas inocentes…! Talvez, de todos os incendiários presos, se possa tirar algum ponto comum que indique os porquês de toda esta calamidade que nos tem assolado este ano. Espero, que as autoridades, também tenham aprendido algo mais, que a nós povo nos vai escapando, por falta de informação…!
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