QUEM VENCEU O FESTIVAL

Não sou um incondicional apreciador dos Festivais da Eurovisão, embora os vá espreitando todos os anos e, como calcularão, já vão sendo muitos. Desde há anos que me recolho com o sentimento de frustração já esperado, pelo facto das nossas canções nunca passarem das classificações lamuriosas, justificadas com inúmeros argumentos: falta de qualidade, falta de publicidade prévia, falta de adaptação das nossas melodias aos ritmos dos novos tempos, falta de empenhamento nos “lobbies” das decisões, em suma, falta de dinheiro e profissionalismo. Muitas vezes se dizia que não valia a pena concorrer, talvez com alguma razão, outras que as vizinhanças ou “irmandades” europeias punham e dispunham dos resultados, se calhar também com alguma razão.

Nunca passei de espectador tolerante mas apercebi-me, muitas vezes, do relativo desprezo, votado pelas classes mais evoluídas musicalmente , ao que chamavam a parafernália dos efeitos e dos ritmos decalcados. Se calhar também tinham razão.

Eis senão quando, no ano passado, a canção portuguesa ganhou o Festival. A surpresa foi geral, a alegria indescritível e os tolerantes, como eu, foram ouvir outra vez a canção vencedora. Era, sem dúvida, uma bela melodia, diferente das tais parafernálias habituais e que , pela sua tranquilidade e beleza estética, arrebatou o título e os corações europeus. Para além disto, o que houve para consolidar a vitória não sei nem, em boa verdade, me interessa muito. Ganhámos e pronto!

E este ano cá tivemos o Festival. É aí que eu quero chegar. Desta vez também ganhou quem ganhou e não sei o suficiente para valorizar a vitória. O ouvido e os meus olhos são os meus únicos juizes. Os entendidos que se entendam!…

O que me interessa abordar é o tremendo trabalho de uma organização deste género. Claro que há cadernos de encargos rigorosíssimos, impostos pela entidade promotora. Mas conheço, por coisas que coordenei durante a vida, como é difícil cumprir escrupulosamente rebuscados cadernos de encargos e introduzir-lhes as nossas próprias criações e as nossas genialidades próprias.

Esta foto reúne todos os técnicos e especialistas da RTP que, durante o último ano, montaram e realizaram o fantástico programa da Eurovisão que se realizou ontem. A RTP foi, para mim, a grande vencedora do Festival da Canção 2018. Muitos dos países votantes exprimiram a sua admiração pelo trabalho a que tinham acabado de assistir. Foi um importantíssimo trabalho para a Televisão portuguesa e para o país. Com todas as discussões que se alimentam sobre as vidas das televisões é consolador poder reconhecer a esta grande equipa os méritos indiscutíveis que lhe cabem.

Se no ano passado ganhámos com a canção, este ano ganhámos com a realização. Como simples espectador partilho a minha opinião com a de tantos países que tão bem se exprimiram sobre este espetáculo. E não quero acabar sem uma palavra de grande apreciação pelas quatro apresentadoras portuguesas do programa. Desculpem esta sem-cerimónia mas estavam bonitas, elegantes e indiscutivelmente muito profissionais. Estou admirado comigo próprio, depois de me confessar tão distanciado deste ecumenismo musical europeu. Parabéns RTP!

2 pensamentos sobre “QUEM VENCEU O FESTIVAL

  1. Partilho a opinião geral de que a RTP organizou um grande espectáculo televisivo. Está de parabéns !
    Quanto à canção vencedora, acho que é uma tristeza. E a letra, pelo menos na tradução que li, duma infantilidade espantosa.
    Eu também tenho saudades dos nossos festivais da canção em que o nossos poetas diziam duma forma camuflada a quilo que não podiam dizer explicitamente

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  2. Uma crónica inteligente e bem descritiva sobre o que se passou ontem através dos nossos pequenos écrans. Do que se passou, apenas retive o cantar de um galo, ou antes de uma galinha, que me fez rir inesperadamente…! Depois de uma canção ganhadora, do ano passado, virada para o romantismo, que nos deu a esperança de valores mais elevados para o futuro, no mundo da canção, heis que sai das pedras poeirentas do Sinai, o cacarejar de um galinácio bem disposto, apesar de ter que viver entre muros de oito metros de altura, sob a ameaça contínua de rocketes, entre outras formas de terror…!
    Do que ficou deste Festival de Euro-Gritaria, perdoem-me se tenho mau gosto e estou a ser mauzinho, fixei apenas três ou quatro canções, que por acaso até estavam a ficar deslocadas no habitual estilo festivaleiro, bem demonstrativo de uma Europa diversificada, que se desenvolve a várias velocidades.
    Quanto a nós, penso estarmos de parabéns, pela organização, pela beleza e pelo elevado caracter tecnológico dispensado. Afinal, parece que não somos assim tão pobretanas como nos quiseram catalogar em tempos. Apenas, temos falta daquilo com que se compram melões, como diz o brasileiro na sua gíria…!
    Cada ano que passa, sinto mais saudades do Festival de San Remo, que tão belas canções nos trouxe, nas vozes de Gigliola Cinquetti e Domenico Modugno . ” Dio como te amo” , dizia ela…!

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