Nos tempos que correm fala-se muito de pegadas ecológicas, pegadas sociais, vestígios, enfim, do que fazemos durante a vida em termos do mundo que nos rodeia e do bem ou mal que fazemos aos que connosco vivem ou aos locais por onde passamos. Segundo todos os estudos indicam essas marcas ou pegadas são indeléveis.
Li recentemente, na Economist, um artigo interessante sobre a vida e o papel desempenhado por Martin Luther King, o ativista negro assassinado em Memphis em abril de 1968. Poderia ter escolhido outro local para o seu discurso e talvez tivesse escapado aos seus assassinos. Poderia estar hoje vivo com 89 anos.
Neste domínio das certezas sabemos, no entanto, que tinha causas fortes pelas quais se batia. A oposição à guerra do Vietnam foi uma delas, como os americanos vieram a concordar. Em 1968 lançou a ideia de propor um republicano moderado, George Romney, para se opor a Richard Nixon. Se Romney tivesse ganho a nomeação republicana Nixon não teria sido eleito e muito possivelmente a dinastia dos Romney (através do filho Mitt) poderia ter governado os Estados Unidos em vez da dinastia dos Bushes. Sem o assassínio de King poderia não ter havido Nixon nem o seu famoso Watergate, nem o realinhamento político do Sul durante o qual os democratas brancos abandonaram o Partido Democrático e se tornaram apoiantes do partido Republicano. Sem esse realinhamento talvez Donald Trump ainda fosse Democrata e eleito com os votos democratas conservadores do sul. Talvez as discussões de hoje no Congresso para o seu “impeachment” fosse conduzido por Republicanos.
Enfim, não vale a pena continuar com estas suposições não verificadas, como se passou, aliás, com imensos outros lideres e gente importante em todo o mundo. Algumas das pegadas que ficaram são as deles, mas outras são as de outros que tomaram os seus lugares e essas, sim, também são indeléveis.
De forma miniatural e mais próxima de nós todos, talvez nos possamos recolher e analisar as pegadas que fomos deixando durante as nossas vidas, o que entendemos ter feito bem e o que entendemos ter feito mal ou menos bem. Relembrando a atividade que durante mais tempo e de forma mais intensa preencheu a minha vida ativa (a de engenheiro) passo muitas vezes por locais onde se encontram edifícios, instalações, conjuntos diversos de que as equipas que coordenei foram responsáveis. E estão ali, são um pouco de mim, são pegadas que deixei, umas melhores, outras piores. Mas as pegadas mais importantes são as que têm a ver com a vida próxima, a vida que repartimos com os que nos foram ou são mais próximos. Não há obra de arquitetura, ponte de difícil estrutura, livro famoso, quadro premiado, peça musical deslumbrante, atividade desportiva empenhada que superem a pequena ou grande obra que vivemos e deixamos junto dos nossos. Essa é a nossa pegada pessoal. Claro que muita das obras atrás aludidas ficam para o eterno reconhecimento público, a despeito do que os seus autores tenham deixado, como pegadas pessoais, para o futuro dos seus.
Continuo a pensar que essas nossas pegadas são fundamentais porque, além de poderem também participar nas mais audíveis e preocupantes, são elas que determinam as pegadas futuras dos que nos rodeiam. Os avanços tecnológicos atuais e previstos a curto prazo são impressionantes. Vão decerto dar nova forma à vida que aí vem, aos hábitos futuros. Mas nesse futuro, espero, ainda viverão pessoas que terão a ambição de ser felizes, com momentos de meditação ou euforia, com vontade de levarem o bem aos outros, com a vontade espiritual de encontrarem um escape que os faça sonhar até ao deslumbramento. São todas essas pegadas que acho imprescindíveis para o futuro, sabendo-se que todos nós terminaremos um dia, deixando apenas a leitura das pegadas que construimos e que, inevitavelmente, envolverão alguns ou muitos outros que connosco conviveram. São essas as pegadas da vida que não deveríamos esquecer.
Muito interessante, este artigo sobre pegadas. De facto, este nosso mundo está cheio de pegadas que têm enriquecido a história. Não apenas as registadas nos livros, mas também das obras, que dificilmente o tempo se encarregará de apagar, apesar da evolução de um mundo cada vez mais autista..! Também gostei do pensamento do nosso companheiro FredericoFonsecaSantos, que me leva a pensar como as minhas pegadas, se confundirão com as pegadas à beira-mar …!
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As pegadas, como tu lhes chama ,que deixamos da nossa vida são fundamentais : enquanto alguém se lembrar de nós, mesmo que tenhamos morrido fisicamente, continuamos a existir
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