ORQUESTRA DA JUVENTUDE

Na época de 2018/2019 a Fundação Calouste Gulbenkian brindou-nos com a presença, por três vezes, da Orquestra da Juventude Gustav Mahler (em alemão, Gustav Mahler Jugendororchester, abreviadamente GMJO). A Gulbenkian tem destas coisas: vai-nos maravilhando com os seus espetáculos e vai-nos dececionando com o progressivo envelhecimento logístico das suas instalações destinadas ao público. Já escrevi sobre isso num post a que dei o nome de “As agruras da Gulbenkian”. Claro que não deu em nada mas não é isso que importa hoje. Há coisas para criticar e outras para dizer bem. Hoje é para dizer bem.

A Orquestra em apreço foi criada em Viena, em 1986, pelo maestro Claudio Abbado. É considerada uma das melhores orquestras de jovens do mundo, “tendo sido distinguida pela Fundação Cultural Europeia em 2007”. Os concursos,  para os jovens músicos serem aceites na orquestra,  são muito rigorosos. Há cerca de 2000 candidatos por ano para as audições,  em mais de 25 cidades. Por esta razão, em 1992 os responsáveis decidiram alargar a banda de idades até aos 26 anos.  Muitos dos antigos membros desta GMJO integram atualmente as principais orquestras europeias. O altíssimo nível alcançado pela orquestra tem seduzido os maestros mais famosos do mundo a dirigi-la.  Têm-se apresentado nos mais famosos palcos e festivais do mundo e, desde 2010, têm estado presentes na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Só em 2018 e 2019 a GMJO  interpretou, entre nós, peças de Béla Bartók, Dmitri Chostakovitch, Gustav Mahler (com a sua celebrada Sinfonia nº 3, em Ré menor) e Alban Berg.  Sempre com enorme êxito.

Fui ver um pouco melhor qual a composição da orquestra e verifiquei que é, presentemente, constituida por 121 músicos, dos quais, imagine-se, 10 portugueses. As e os nossos jovens repartem-se por diversos instrumentos: violino, viola, violoncelo, flauta, fagote e trompa. Isto quer dizer que um pouco mais de 8,2% daqueles jovens músicos são portugueses e que superaram, portanto, as difíceis provas de admissão. É caso para nos orgulharmos ao vermos que há por cá jovens, conhecidos apenas por elites restritas, que  dedicam a sua vida a esta tão difícil arte. E que estão entre os melhores. Não têm recebido, em Portugal, prémios nem comendas. Apenas as suas famílias e os tais círculos restritos sabem que eles existem.  Mas é um orgulho para Portugal e, como tal, devia ser divulgado. Mesmo os que não apreciam música clássica (designação discutível, já sabemos) não se eximiriam a aplaudi-los e a dar-lhes o mesmo ou maior relevo que tantos outros praticantes de atividades diversas que nos enxameiam os diários e que, por vezes, tão rapidamente desaparecem.

Sim, os nossos jovens são bons em tudo, e na música também. Reconheçamo-lo.

 

 

Um pensamento sobre “ORQUESTRA DA JUVENTUDE

  1. Nunca poderemos considerar, por muitos, os elogios à Gulbenkian, pelo esforço com que sempre se dedicou a angariar o interesse pelas artes, nomeadamente, pela música clássica. Estou bem certo, que serviu sempre de catalisador a outras iniciativas, promovidas por certas autarquias, em várias áreas …!
    E neste aspecto, quero referir-me à Câmara Municipal da Guarda, que assinou há bem poucos dias, um protocolo com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, para a formação de jovens, afim de se constituir uma futura Orquestra Académica, preparando-se para a candidatura à Capital Europeia da Cultura de 2027. Uma preparação a longa distância de novos talentos, que possivelmente, não será alheia ao gosto e à influência, que a Gulbenkian foi deixando pelo país …!

    Liked by 1 person

Deixe um comentário

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s