Todos já escreveram sobre esta perda. Não vou acrescentar nada de novo, mas vou deixar um desabafo de alma. Era impossível não o fazer. João Gilberto acompanhou a minha geração e a dos meus filhos. Ele fez-nos sonhar a todos, ele foi o génio que inventou o que se passou a chamar de bossa-nova, ele foi o imortal patriarca da bossa-nova. Ele foi o primeiro intérprete da “Garota de Ipanema”. Era ele e o seu violão, sozinhos, sentado num banco austero e um microfone à frente. Tudo escuro, a luz era ele.
Imitá-lo era difícil. Tenho um filho que é “bom nestas artes” (e noutras também…) que diz ter passado horas a tentar imitá-lo. E terá conseguido. E diz-nos: “Nunca cantar bossa-nova no mesmo ritmo do violão”. Como disse Caetano Veloso: “Melhor que o silêncio, só João”. João Gilberto começou a tocar violão aos 14 anos mas não vale a pena relatar os anos da sua vida, discreta, sofrida, amargurada, apaixonada, enorme. Em 1959 Gilberto criou Chega de Saudade, onde “a melancolia se tinge de esperança”. Este foi o album considerado como o ato oficial do nascimento da bossa-nova. Todos o cantaram, brasileiros e estrangeiros, os mais famosos. Grandes intérpretes de jazz o tocaram, como Chet Baker, Michael Petrucciani, Toots Thielemans. Grandes estrelas cantaram a “Garota de Ipanema”, tentando o seu ritmo, como Nat King Cole, Ella Fritzgerald ou Frank Sinatra.
João Gilberto é património da humanidade, no sentido mais puro do termo. Ele sussurou-nos as suas músicas, fez-nos sonhar quando precisávamos de sonhar, fez-nos esquecer as horas que passávamos a ouvi-lo, a ouvi-lo, a ouvi-lo. Gosto de música, como se percebe, mas como não a sei produzir nem tocar decentemente, fico ainda mais enlevado e espiritualmente mais leve ao ouvir e sentir quem o faça por mim, ou por nós.
Não importa como João Gilberto viveu ou sofreu, os prémios que ganhou, só importa o que ele verdadeiramente nos deu, a todos, com o sonhar da sua voz, do seu ritmo, da sua mensagem discreta, suave, apaixonada. A forma como soube transformar e adaptar o samba e os sucessos populares de outros países.
Mesmo sem o vermos fica-nos a faltar o murmúrio do seu sonho, do seu ritmo. Como poderia deixar passar este dia sem dizer uma palavra sobre João Gilberto?… RIP!
O gênio, João Gilberto era a música.
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Praia do Leme ? Sim ! Amanhã, nos encontramos às 10 horas, entre o Posto 3 e 3 e 1/2. Tá ? Vais adorar …! E era, geralmente nestes termos com sotaque carioca, que combinávamos os encontros para as manhãs seguintes, naquela parte do extenso areal de areia branca e fina, a que normalmente chamamos Copacabana, como um todo. E do samba-canção, tão inspirado nesta praia maravilhosa, levado a todo o mundo pela voz de Dick Farney, uma outra forma de viver a música, quase que em simultâneo, o samba ressurgiu ao ritmo de Bossa-Nova, pela mão deste grande músico, que todo o mundo perdeu tão inesperadamente. Aquele ritmo, que tanto pode sair dos dedos, ao bater numa caixinha de fósforos, como de uma grande orquestra, que nos faz parecer dançar com o corpo, jamais deixará de ecoar pelo mundo fora, graças ao talento musical de João Gilberto…! E Aguarela do Brasil, Desafinado ou Chega de Saudade, recorda isso tudo !
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