Era assim que chamávamos as férias de Verão, após os exames de fim de ano lectivo. O cansaço de uma época de preparativos, que nos levava ao desejo de passar de ano, com um ” distinto “, que pouparia a um exame oral, sempre detestável, para quem não se sentisse inteiramente seguro dos seus conhecimentos…! Não vou falar na primeira pessoa, porque como aluno medíocre, pouco tenho para contar, além dos dissabores somados a alguns momentos de alegria ..! Mas as férias, quando não eram interrompidas para exames em Outubro, para salvar um ano de atraso, eram um mar de tempo, entediando-nos por vezes, quando ficávamos em casa, por motivos familiares que não interessa explorar.
Eram três meses de longas férias, perdidos num tempo imenso, em que ansiávamos rever as novas amizades, ganhas nos recreios do colégio . Quantos assuntos, tínhamos para dizer, sobre passeios e de aventuras. Das idas ao cinema e das leituras de Jack London e Emílio Salgari, ou das revistas do Mosquito e o Mundo de Aventuras…! Ainda, uma ou outra correspondência em postal ilustrado, da praia ou das termas, em que os nossos pais decidiam ser mais benéfico para eles e a sua prole. O ar do mar, ou o sossego de umas Termas, ainda que propícias aos problemas de saúde dos mais frágeis…!
E a azáfama habitual, de todos os anos, com o desarrumar da casa, com o enrolar os colchões da cama, que eu ainda hoje desconheço o porquê, pondo a casa toda em estado de sítio, a juntar-se ao transporte dos baús com roupas diversas, em carro de cavalos até à estação do caminho de ferro, entregues ao recoveiro que se encarregava dos despachos até à nova morada balnear. E era assim, o caminho de Coimbra até à Figueira da Foz, onde fazíamos nova vida e encontrávamos amigos de outros anos, criando novos hábitos, que a mudança de idade ia favorecendo. Uma Figueira da Foz, de neblinas matinais, onde a maresia se misturava com o fumo das minas de carvão do Cabo Mondego, que o vento Norte trazia, emprestando uma característica única.
Outros anos, por aconselhamento médico, umas pequenas pausas, para tratamentos a Águas. O Luso ou a Curía, eram os palcos de novas aventuras e o requintar de gostos, que a região da Bairrada nos proporcionava, por vezes, numa fugida ao rigor dos banhos. Eram os longos tempos de Férias Grandes, que nos marcaram a adolescência, que ao ar livre, sem darmos conta disso, nos prepararam para as mudanças, pondo-nos à prova, a resiliência de que tanto necessitamos nos dias hoje em dia.
Eram outros tempos, onde as dificuldades cresciam de acordo com os teatros da Guerra Mundial, ainda em pleno desenvolvimento, e os receios justificados, que figuravam nos nossos sonhos e nas nossas atitudes, perante as sombras dos refugiados que circulavam entre nós.
E estas férias, agora de Verão, vão ter que ser levadas com novas atitudes, porque um inimigo comum, assim nos obriga mais uma vez, a escolher o melhor caminho para a nossa saúde. O que vale, é que elas já não são assim tão grandes, onde não nos percamos no tempo e nos criem aquele tédio tão diferente daquele repousante ” dolce far niente”..!
As Férias Grandes tinham um prazer final : o regresso à escola e o gosto de reencontrar colegas e amigos.
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