O Museu de Arte Antiga de Lisboa iniciou recentemente uma interessante exposição que nos guia ao longo de uma série de quadros antigos de grandes mestres, enaltecendo, nesse percurso, a persistente inclusão, em muitos desses quadros, de flores decorativas, maravilhosas, muto bem pintadas, claro, conferindo-lhes uma esfusiante beleza que, na realidade, não sabemos se coincidiria com a beleza original. Com o passar dos tempos foi-se confirmando o fulgor dessas flores, a variedade das suas cores e, sobretudo, o sentido mágico que cada uma delas ocupava nas obras dos mestres. Gladíolos, tulipas, rosas, dálias, hortenses, todas elas ligadas às figuras de santas (mais santas que santos), da Virgem Maria, de muitas das figuras protetoras dos pecadores que passavam pela Terra e se sentiam indultados pelas visões maravilhosas dos santos e das suas flores. Na sua exuberância pictórica os quadros acabam por nos vir dar uma excelente lição de botânica ao percebermos, através das doutas explicações dos curadores da exposição, que as flores foram evoluindo ao longo dos séculos e os pintores portugueses, por exemplo, pintaram exemplares das mesmas espécias mas de cores e contornos diferentes. Esse percurso pictórico ensina-nos coisas importantes do mundo da botânica, sempre enaltecendo flores nobres e de pergaminhos irrepreensíveis. Flores nobres mas de curta duração, exigindo muitos cuidados e numerosos desvelos.
Foi neste ponto que me ocorreu falar de uma flor maravilhosa que campeia pelo nosso país, principalmente em Lisboa e para o sul, enfeitando todo o ano, com os mínimos de cuidados, os alegretes, canteiros, jardins e até avenidas e autoestradas de Portugal : o Loendro. Já todos os vimos mas não lhes demos atenção porque eles estão sempre lá, brancos ou rosa, exigindo muito pouco para a sua manutenção, mas transmitindo-nos a sua perene, sóbria e elegante presença, praticamente todo o ano.
O loendro, com o nome científico de Nerium olender, é um arbusto mediterrâneo que exige poucos cuidados e oferece uma floração rica e abundante praticamente ao longo de todo o ano. Claro que há espécies diferentes mas todas elas de enorme e simpática beleza que nos convida a olhá-las com mais apreço e ternura.
A “Magia do Loendro ” leva-nos a comparar o fausto, a delicadeza e quase que a nobreza de muitas das flores que já anunciámos atrás, com a simplicidade desta maravilhosa flor que, sem grandes exigências ou aparatos, nos acompanha, quase sem darmos por isso, ao longo da vida. Faz-nos lembrar as pessoas cultas e discretas que nos obrigam a ouvi-las, a revê-las, para nos maravilharmos com as suas mensagens. Estou certo que que muitos dos meus amigos já conhecem os loendros mas, para aqueles que não se lembrem deles, convido-os a olharem com mais cuidado para os separadores das autoestradas, para os canteiros e pequenos jardins por esse país fora e estou certo que passarão e reconhecer-lhes a sua beleza e bonomia que, se calhar, nunca tinham notado. Coisas de gente discreta, daquela que está sempre “ali” para nos acudir quando precisamos. “A Magia do Loendro “: não conseguiria arranjar melhor título para este pequeno e despretencioso texto.
E nestes meses cálidos de Verão, Portugal, torna-se mais vistoso, porque não vaporoso, com a paisagem colorida do Loendreiro ? Eu também sou um grande admirador desta planta, apenas com os receios de ela ser uma planta muito venenosa, mas bastante útil na eliminação de parasitas, ( tintura de cevadilha ) muito conhecidas das cabeças da garotada, que por obra e graça das circunstâncias, se transmitia, nas escolas, por mais cuidados que pudesse haver. E a Magia, duplica-se…!
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