VELHOS SÃO OS TRAPOS – 600 TEXTOS

São sempre grandes as expectativas quando se lança um novo projeto deste tipo. Conta-se com as dificuldades que sempre surgem, com alentos e desalentos que se vão alternando ao longo do tempo, com a espontaneidade que nem sempre surge, com o prazer de ter escrito sobre um tema que nos tenha dado felicidade.

Escrever num blogue é hoje uma atividade relativamente vulgar. Há-os para todos os gostos: levianos, fugazes, maliciosos, inapropriados, inúteis. Mas há quem os leia e quem os rejeite. Não foi esse o nosso projeto, desde o início. Propusemo-nos e propusemos a outros amigos a elaboração de textos que tivessem algum conteúdo digno de apreciação. Com o estilo que adotámos sabíamos e sabemos que o nosso universo de leitores seria sempre limitado. E assim tem sido: quem nos lê são amigos pacientes e amigos desses amigos, também pacientes e benévolos. É aí que nos queremos situar.

Mas ao iniciarmos o 600º texto deste blogue, depois de lhe termos dado vida em março de 2017, sentimos que nos devíamos pronunciar um pouco mais sobre toda esta história. Talvez as nossas esperanças não fossem tão longe mas o certo é que estamos aqui, com leitores fiéis e a noção plena de que tudo tem que continuar. É o prazer de escrever, de desabafar, de não deixar no vazio ou na omissão, factos ou ideias que entendemos interessantes e que, talvez dessa forma, possam vir a ser mais divulgados e discutidos.

Desde 2017 até hoje escrevemos textos sobre arte, desporto, política, relatos, amizades, sociedade, tudo intercalado com uma razoável dose de poesia. Curiosamente o primeiro texto deste blogue, em Março de 2017, foi um poema, “As rosas que tu me deste” e a esse muitos outros se seguiram, de diversos autores.

Em Novembro de 2017 publicámos um primeiro livro, incluindo os cem primeiros textos, com o título, apenas, de “Velhos São os Trapos”. Foi uma edição para oferecer a amigos.

Em Dezembro de 2018 publicámos um segundo livro, este já com apresentação pública, incluindo textos selecionados, a que se deu o título “Escrito nas Estrelas e o Vento que Passa”. A apresentação pública foi feita por Nicolau Santos, editado pela Colibri, e com uma razoável parcela de vendas. Ainda se encontra nas livrarias.

Criámos ao longo do tempo secções específicas para abordagem de temas também especiais. Foi o caso das “Recordações Curiosas”, das “Conversas Imaginárias” em que “trocámos” opiniões com Pinheiro de Azevedo, Rómulo de Carvalho, Egas Moniz, Duarte Pacheco, Pierre de Coubertin e Lourdes Pintassilgo, conversas que sabemos terem recebido muitas aprovações. Desde Dezembro de 2019 até Dezembro de 2020 realizámos um programa de conversas/entrevistas com gente interessante, com muita coisa para contar, cujas conversas em vídeo estão disponíveis no YouTube. Foram conversas com Francisco Campos (ator, encenador e produtor teatral), Luisa Corvo (cientista e investigadora), Vicente Moura (desportista e dirigente desportivo em especial, na fase final, como Presidente do Comité Olímpico de Portugal), Cirila Bossuet (atriz teatral), João Bugalho (engenheiro, pintor e impulsionador de eventos de música clássica), Inês Mendes (médica), Sérgio Fontão (músico e maestro de coros), Joana Pratas (atleta olímpica de Vela e atual dirigente da Associação de Atletas Olímpicos), Fernando Mão de Ferro (editor e promotor de convénios literários), Maria do Céu Nascimento (Oficial da Armada), “Os Sultões” (conjunto musical não profissional), Carla Caramujo (Cantora Lírica) e Paulo Azevedo (Arquiteto).

Temos convites já feitos e aceites para futuras conversas mas, como se sabe, fomos todos “atropelados” pela famosa pandemia que ainda hoje se mantém como travão aos nossos antigos hábitos de vida que vamos, todos, tentando recuperar.

Abordámos, em diversos textos, o tremendo problema do clima, as suas atuais e futuras consequências, coisa que os “Grandes do Mundo” estão agora a discutir no COP26, em Glasgow. Em diversos artigos, um deles com o título de “O Preço das Medalhas” , abordámos os problemas que se estavam, desde há tempos, a passar nos ambientes desportivos da alta competição no mundo inteiro, como se veio a passar e a ganhar relevo nos últimos Jogos Olímpicos de Tóquio: o assédio e o extremo e insuperável cansaço dos atletas. Importámo-nos e importamo-nos, portanto, com o mundo em que vivemos, o único de que dispomos, e que continuará a ser, tanto quanto se possa imaginar, o único refúgio para as gerações vindouras (as novas que já cá estão e as que aí virão).

Gostaríamos de fazer hoje uma seleção de alguns casos ou textos que achemos mais relevantes. Mas concluimos ser uma missão muito delicada e quase impossível. Optámos apenas por relembrar marcas que, para nós próprios, considerámos marcantes. No âmbito das amizades deixo aqui uma foto histórica de um meu grande amigo, já desaparecido, infelizmente, num diálogo com alguém (também já desaparecido), num momento que todos reconhecerão.

Outra imagem que vos deixo é a de uma cena da peça FUNÇÃO atualmente em palco no Cineteatro Curvo Semedo, em Montemor o Novo. Tudo criado, encenado e representado pelo nosso primeiro entrevistado Francisco Campos.

Não me dispenso ainda de relembrar o próximo Concerto de Homenagem a Cantores Portugueses, a ter lugar no Teatro Nacional de S. Carlos, no próximo dia 13 de Novembro, com peças de Mozart, Donizetti, Massenet, Mascagni e Alfredo Keil. Uma das sopranos presentes foi a nossa convidada de Novembro 2020, Carla Caramujo. Aqui a têm (a da esquerda, claro)

Mas chega de recordações visuais. Houve temas profundos e polémicos que suscitaram, como se calcula, alguma controvérsia entre os leitores e os seus grupos de convívio. Como foi, por exemplo, o texto de autoria de J.P. Marques da Silva, com o título “Elogio do Relativismo Moral”, 18/2/2020, que nos transporta à discussão sobre a eutanásia na Assembleia da República. Um tema fraturante que pode ser lido com a vossa consulta ao nosso blogue.

De entre os muitos poemas que surgiram neste blogue apetece-me relembrar um, de grande beleza, da autoria de Joana Menano, com o título “Sejamos Luz” . O poema começa assim…

Sou
em ecos soprados
derramados em mim
cantando o meu país
meu povo
o mundo
ao som de pianos, violinos, saxofones
de músicas sem fim.

E o poema continua com estrofes belíssimas que vos convido a ler no texto publicado em 18/3/2020.

Como se percebe o texto de hoje é uma elegia ao nosso próprio blogue e a todos os que nele têm participado. 600 é um número redondo, bem o sabemos, mas o que não sabemos é até onde conseguiremos chegar. Estamos contentes, todos, mas não sabemos quando acabamos.

E para fechar, por hoje, este desabafo, reponho 3 poemas já incluidos neste blogue, em datas anteriores:

De Pedro Mexia:

Vamos morrer, mas somos sensatos,
e à noite, debaixo da cama,
deixamos, simétricos e exactos,
o medo e os sapatos.

De Frei António Chagas - século XVII
Deus pede estrita conta do meu tempo,
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta. 
Mas como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


E para acabar, versos retirados do primeiro texto deste blogue:
Que pena eu tenho
De não te poder jurar
Que sempre te hei-de dar
Rosas, muitas rosas,
Todas amarelas
Até o mundo acabar.

Até à próxima. Contamos convosco.

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