É bom, por vezes, recordar o que foi dito por pensadores políticos antigos, alguns já falecidos, e por analistas recentes sobre os mesmos temas e comparar as suas ideias ou antecipações.
Fui recuperar o que foi dito por Milovan Djilas, nascido a 12 de junho de 1911, no reino de Montenegro, durante anos incluido na Jugoslávia, e falecido a 20 de Abril de 1995, em Belgrado, com 83 anos. Considerou-se sempre cidadão de Montenegro que veio, na realidade, a integrar a Federação Sérvia/Montenegro após a extinção da Jugoslávia. Hoje Montenegro é considerado um país da Europa embora sem os mesmos acordos, direitos e deveres dos restantes países da União Europeia. Mas interessa-nos mais falar, resumidamente, de Milan Djilas. Foi político, revolucionário e escritor. Lutou ao lado dos “partisans” de Tito durante a Segunda Guerra Mundial. Até 1953 foi vice-presidente da Jugoslávia e presidente da Assembleia Nacional. Os seus posteriores diferendos políticos com todos os lideres comunistas, exigindo mais democracia no partido e no seu país, levaram-no a ser demitido de todas as suas funções e, mais tarde, a ser levado a julgamento e condenado.
Foi este homem que, num dos seus escritos, anunciou: “Os regimes comunistas serão derrubados por uma revolução”. E acrescentava: “Os dirigentes comunistas vivem num estado de exaltação permanente. O sistema comunista não pode ser reformado por dentro. Noutra sua obra dizia: “A Glasnot e a Perestroika estão votadas ao fracasso; considero impossível que a Nova Classe renuncie à propriedade socialista. Depois de Gorbachev ter investido biliões na economia e de se saber que esta continua a não funcionar, então começará a verdadeira crise. A URSS perderá a guerra. É fundamental que o Ocidente mantenha a neutralidade e a vigilância armada. Não devem temer os russos enquanto forem fortes, mas temam-nos se se tornarem fracos.”
Saltemos agora uns anos e fixemo-nos em 2015, num livro escrito por Bernardo Pires de Lima (A Síria em Pedaços), prefaciado por Jorge Sampaio. Pires de Lima nasceu em 1979 e é investigador do Instituto Português de Relações Internacionais e do Centro para as Relações Transatlânticas da Universidade Johns Hopkins, em Washington. Foi também investigador do Instituto de Defesa Nacional.
Diz ele no já mencionado livro, num pequeno capítulo que dedicou à Rússia e à China: “Nos últimos anos , Rússia e China usaram quatro vezes o direito de veto no Conselho de Segurança, para além de outros casos com menor significado. A Rússia pós-soviética tem oscilado entre dois círculos geo-políticos: o euro-atlântico, por uma fixação por Washington, posicionando-se contra o alargamento da NATO e intrometendo-se nos assuntos europeus por via energética; e o asiático, através da passagem das ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central de assunto interno para relação externa fundamental, mas também porque a China se tornou num gigante incontornável. Moscovo está numa situação singularmente frágil entre Washington e Pequim e percebeu que para enfraquecer a primeira tem de ter uma estratégia que divida europeus e norte-americanos e, para a segunda, forjar uma coexistência pacífica. É esse o pensamento dominante de Putin. A China ultrapassou a Alemanha como maior perceiro comercial da Rússia, mas Moscovo é apenas o cliente nº 14 de Pequim. Pequim não vê qualquer ameaça na ascensão russa e quer Moscovo como bomba energética , fornecedor de armamento e um aliado de peso nos equilíbrios com Washington que, diga-se, só tem uma solução: dividi-los para reinar.”
Interessante como a distância dos anos não alterou a visão de analistas conceituados sobre as “bizantinices” russas. A hipotética supemacia de poder e a aspiração a recuperações territoriais estão hoje à vista. A Rússia tem enfraquecido e continuará a enfraquecer nem que para isso recorra à loucura e à inexplicabilidade dos factos. Com todos os riscos que o mundo já suporta e que se prepara para suportar. Os estertores dos ex-poderosos são sempre muito dolorosos.
Duma simples e popular : O Sr. Putin, e uma parte dos russos, sofrem da mania das grandezas!
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