Não, não é preciso fazer uma grande viagem e, muito menos, andar de avião nos tempos que correm. Basta ir a Tavira, no sotavento algarvio, à chamada “Cidade das Igrejas”. É a cidade algarvia com mais templos católicos. Há praticamente uma igreja para cada mil tavirenses. Uma equipa constituida por um historiador de arte, Daniel Santana; o responsável pelos trabalhos de restauração, Filipe Teles e um conjunto de restauradores coordenado por Marta Pereira, permite-nos consultar elementos e ler descrições relativas à história da cidade e ao seu grande património de igrejas.

Tavira é a cidade algarvia com mais templos católicos. A Igreja mais famosa será a de Santa Maria do Castelo, bem no centro da cidade. É considerada uma das obras maiores e mais significativas de entre os 21 templos católicos da cidade – entre igrejas, capelas, ermidas e conventos – a que se juntam, nos arredores, Santa Luzia, Luz, Conceição, Santo Estêvão, Santa Catarina e Cachopo, num total de 25 templos. Santa Maria é considerada o monumento fundador da presença cristã na cidade, a única considerada como monumento de interesse nacional que remonta ao ano da reconquista da cidade em 1242. A igreja reune 4 ou 5 estilos de construção diferentes, edificada em cima da mesquita maior, construida durante a presença árabe e que tinha a torre de chamamento para o culto. Depois do terramoto de 1755 essa torre foi substituda pela torre do relógio, oferta do alcaide de Tavira em 1809. Santa Maria encontra-se em fase de restauro e espera-se que os trabalhos estejam concluidos em Dezembro de 2023. Deste património arquitetónico religioso da cidade, 14 são propriedade da paróquia, 4 pertencem a Ordens Religiosas e 3 são propriedade do Município: a Igreja das Ondas, a de S. Sebastião e a de S. Roque. Outras duas foram cedidas a entidades privadas ( o Convento das Bernardas transformado em hotel de luxo e o convento da Graça onde hoje funciona uma pousada da Enatur).

Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo

Porquê tantas igrejas em Tavira? No século XVI havia uma grande expansão económica e todos os estratos sociais tinham devoções, como os pescadores que encontraram a figura de uma santa numa das redes e edificaram uma igreja, a que chamaram das Ondas . “Desde que foi conquistada aos mouros em 1242, até à implantação do liberalismo em 1834, a evolução e expansão urbana foi pontuada pela igreja. Do século XV a meados do século XVI foi o período dos descobrimentos e expansão, em que o porto de Tavira era o maior do Algarve para defesa e manutenção das praças lusas do norte de África. Tavira era na época um dos três principais portos do país e, com a sua expansão demográfica, Tavira tinha, em 1535, cerca de 14.500 habitantes, a mais populosa do Algarve à qual os cronistas chamavam de “a principal cidade do reino dos Algarves”.

Para além das 21 igrejas de hoje, Tavira já teve mais. Há algumas que são entregues ao Estado quando chega o liberalismo e os sentimentos anti-clericais do século XIX que culminam na época da República com a lei da separação do Estado e da Igreja, acompanhada com a nacionalização de todos os bens da Igreja.

A cidade de Tavira é mais do que isto. É uma cidade moderna e encantadora, aprazível, proporcionando uma vida equilibrada e calma. Mas quem se disponha a visitar a cidade não pense que o faz num dia. Reservem um período de três dias, aproximadamente, para viverem a cultura, a vida urbana e a extraordinária doçaria algarvia.