Hoje o texto não é meu. Fui buscá-lo a 2004, escrito por alguém (cujo nome aparece no fim) que tinha da vida e da política uma visão otimista mas muito alargada e realista. Vamos ao texto.
Estamos num mau momento em Portugal, na Europa e no mundo. Mas “só é vencido quem desiste de lutar” – tenho essa experiência vivida e entranhada entre as minhas sólidas convicções.
Atrás de tempo, tempo vem. Tenhamos confiança em nós próprios e nas gerações que nos sucedem. Não falo de uma esperança vã, ilusória. Falo de uma esperança que radica na nossa própria determinação e capacidade de lutar e na confiança nos outros. Sobretudo, nos mais novos.
Costumo dizer que na política como nos vinhos há bons e maus anos, boas e más colheitas. Tenhamos esperanças nas próximas safras.
Portugal é um Estado-nação, com uma velha e gloriosa história de que todos nos orgulhamos, com uma posição geoestratégica incomparável e grandes recursos humanos. Com uma fortíssima identidade nacional. Portugal soube sempre ultrapassar as crises com que se confrontou ao longo dos séculos. Algumas tremendas.
Não há, pois, razões para nos deixarmos cair no pessimismo ou para depormos as armas da razão. Tudo depende de nós, Portugueses. Façamos frente, com coragem e determinação, ao mau tempo e empenhemo-nos, resolutamente, em construir dias melhores, para todos!
(Escreveu Mário Soares em 2004)
Naquele tempo, cerca de 20 anos atrás, os jogos da democracia eram mais fiáveis, melhor entendidos por todos. As democracias atuais correm sérios riscos, confrontam-se com outros modelos de difusão e impregnação de ideias. Os extremistas radicais, insuflados pelas motivações desagregadoras dos Steve Bannon deste mundo (sempre financeiramente apoiadas por poderes ocultos), não aceitam os resultados das votações e revoltam-se nas ruas contra os legais vencedores. Remetamo-nos apenas aos casos dos Estados Unidos e do Brasil. Só com partidos politicamente fortes, políticos que sobreponham a ética aos interesses escondidos, se poderá retomar a legitimidade da democracia que sempre representou a vontade popular.
Sim, o mundo está em crise, mas compreendamos os turbilhões por que estamos a passar e façamos a apologia da seriedade das virtudes democráticas. Talvez com modelo diferente do de 2004, mas que nos permita respeitar aquilo que as pessoas decidem em maioria e com boa fé.
De facto, um período que nos faz desanimar, acumulando dúvidas e sobressaltos entre inúmeros episódios da vida. As paixões, as desilusões, as demagogias, os maus exemplos que se perpetuam perante a indisciplina dos que se julgam impunes, os interesses, a insuficiência ou a precaridade da verdade, a desinformação, a confusão fabricada, o artifício, e tantas pedras lançadas no caminho da democracia, não são coisas que os povos possam superar por si sós. Todos os dias vemos nas televisões e nos jornais, como as democracias, mesmo as mais antigas, nas suas mais variáveis crises, tão frequentes desde a globalização, continuam de boa saúde, respeitando a opinião dos povos e a melhor forma que lhes parece serem governados…!
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