“O Círculo ” de terror

Voltei de novo ao cinema para ver o filme ” O Círculo ” . Estas minhas incursões pela sétima arte levam-me sempre a três tipos base de filmes: os que apenas distraem sem deixar grande memória; os que surpreendem pelo tema que abordam ou pelos desempenhos que revelam; os que são excelentes obras cinematográficas por um conjunto de razões que são específicas de cada uma delas. Claro que há ainda uns outros que vemos por equívoco ou indução publicitária e que nem sequer classifico por não terem qualquer interesse. Às vezes apetece-nos sair a meio…

“O Círculo ” inclui-se no segundo grupo. Não especialmente pelos desempenhos, que são bons, mas pelo tema que aborda. Trata-se de uma empresa americana altamente sofisticada no desenvolvimento de programação informática. Esse desenvolvimento que não é, aliás, grande novidade, ultrapassa, no entanto, tudo aquilo que nós, os utilizadores normais das redes informáticas, estamos habituados a consumir. Pensamos e discutimos muitas vezes  todo o envolvimento absurdo que a informática nos pode facultar mas desejamos não acreditar nesse mundo sem fronteiras para onde nos querem arrastar . Ele , no entanto, está aí e é preciso que o conheçamos. A promiscuidade das relações, a intromissão de terceiros e quartos em mundos alheios, a perda total de privacidade, o domínio de grupos e de sociedades por entidades exteriores, tudo isso já existe mas pode ser levado a extremos sem controle para os quais temos que estar alertados.

O tema do filme leva-nos para um clima de terror, de reconhecimento de fragilidades, de desesperante vontade de fugir do mundo falso em que, afinal, vivemos. As novas gerações, que nascem com a informática nas mãos, devem ter a educação cívica e ética que as impeça de não reconhecerem as balizas estruturantes da sociedade em que vivem e que estão e continuarão a ser obscenamente violadas. O fazerem o que lhes apetecer sem prestar contas a ninguém, o usufruirem da sua total privacidade, poderem estar onde quiserem sem condicionamentos exteriores são bens que podem vir a perder em absoluto. As sociedades aviltam-se e degradam-se. Os poderes pulverizam-se e anarquizam-se e daí a uma ditadura regional ou global é um passo.

Num excelente artigo hoje publicado no DN pela correspondente do jornal em Los Angeles podemos reter a loucura e a desgraça que campeiam naquela cidade. Tudo configurado em torno dos novos CEO’s das empresas de Silicon Valley e outras que, sem se aperceberem, transformaram e degradaram o mundo a níveis imprevisíveis. É hoje quase impossível, para um cidadão normal, viver em São Francisco ou noutras cidades em todo o mundo.

Sou contra este desenvolvimento? Não, bem pelo contrário. Mas é preciso salvaguardarmos a sociedade, na sua singeleza, nos seus sentimentos, com a sua solidariedade, os seus hábitos e a sua infindável capacidade de relacionamento e entreajuda.  Mas para isto, mais uma vez, é preciso educação e cultura. Sem cessar. Para que não venha a concretizar-se o clima de terror que este filma prenuncia. Vão ver e interiorizem.

Um pensamento sobre ““O Círculo ” de terror

  1. Como não podia deixar de ser, heis que nos surge, aqui, mais um artigo interessante, que poderá dar muitas mais discussões amigáveis. pelos temas, pelos actores, pelos realizadores, etc. ” O Circulo “, tão bem escolhido para este blog, passou-me despercebido. das salas de cinema de Lisboa. Não, que a qualidade do filme não me interessasse. Apenas, porque me desabituei, infelizmente, de ir frequentemente ao cinema..O cinema, uma paixão de gerações, que ocupou sempre as atenções de todos nós, desde a simplicidade do cinema mudo, ao esplendor do Tecnicolor, do CinemaScope, do 3D, ao som Surrounded. Uma arte, sempre a evoluir na técnica do espectáculo, que nos deixava, cada vez mais encantados. Eram assuntos de muitas conversas. Mas,as novíssimas formas de fazer cinema, nem sempre acompanharam a evolução técnica, que nos habituou a uma maior selecção e a uma maior exigência da realização e da interpretação..Fixavamo-nos nos monstros sagrados, como Jean Gabin, de Mirna Loy, Victório de Sica, ou de Caterine Deneuve !. De tantos nomes, que a nossa memória, pouco mais de uma dúzia, só consegue arrecadar. Ridicularizávamos outros, pela sua falta de geito ou de expressão. E aqui, não posso deixar de mencionar John Wayne, aquele heroi, que gostávamos de ver, apesar do seu andar escangalhado e de expressões demasiado forçadas…! Um péssimo actor, visto à lupa dos dias de hoje. Era o cinema, tipo Português Suave, que nos apaixonava. Eram os Melodramas, as Comédias, os de Cow-Boys e os de Guerra, que invariavelmente, finalisavam com o Marines Hymn, ou com o Yankee doodle.. E como muito bem descreve este artigo, os de Terror ! Sempre que se fala de filmes de terror, o nome Hifchcock, obrigatoriamente, tem que aparecer…! . Recordo, Psico, a Janela Indiscreta, ou Os Pássaros ! Tenho que confessar, ter visto apenas a parte menos aterrorizante, porque forçosamente fechava os olhos, e só os abria, quando as expressões da plateia e a música do filme davam sinais de já ter passado o perigo. Era como entrar numa brincadeira, tipo Comboio Fantasma, da Feira Popular. Arrependiamo-nos de lá entrar, mas nos entusiasmava para outra sessão logo a seguir. Era assim o cinema, que cada vez vejo menos…! Talvez, pela violência. Talvez, pelos assuntos ” déjà vu ” do dia a dia, em que a comunicação social se tornou pródiga . Talvez, pela obscenidade gratuita e do grotesco da nova vaga realista, tão longe da beleza do neo-realismo italiano, ou da crueza do cinema francês…! A sessão, segue dentro de momentos…!

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