É coincidência mas não deixa de ser curioso que o 9 de Maio seja a data comemorativa de dois tratados importantes para Portugal e para a Europa: o Tratado de Windsor de 1386 e a Declaração da União Europeia de 1950.
Portugal, envolvido nas suas habituais crises sistémicas, sempre teve arte e engenho para se aliar com outros e proteger-se de males maiores. Nunca o seu povo foi consultado para a consumação desses objetivos o que, no século XIV, não era de admirar. Já no século XX, nos anos 80/90, o assunto é mais discutível e muita gente se indispôs com essa decisão.
O Tratado de Windsor foi celebrado em 1386 por D. João I e Ricardo II de Inglaterra, depois do apoio dos ingleses à Casa de Avis, na batalha de Aljubarrota contra os espanhóis. Este Tratado foi a continuidade da já existente Aliança Luso-Britânica celebrada em 1373 entre D. Fernando e Eduardo III. É um Tratado que, apesar das contigências dos tempos, se tem mantido em vigor. É considerado o Tratado mais antigo do Mundo e, realmente, nunca houve guerras entre os dois países. Houve fortes desentendimentos que as diplomacias foram conseguindo atenuar. A primeira e segunda guerras mundiais foram disso bons exemplos a que se seguiu o nosso calvário ultramarino relativamente ao qual nem as alianças funcionaram. Quer se goste, quer não, o certo é que essa Aliança se mantém e é confrontada, agora, com o famoso Brexit.
As alianças e os tratados são normalmente atos de boa fé ou de ocasionalidade política. Mantê-los, depois, é mais difícil do que se teria imaginado de início. A nossa Aliança com a Inglaterra tem sobrevivido a essas intempéries e conjugou-se, nos anos 80 do século XX, com a nossa adesão europeia onde a Grã Bretanha também se encontrava. Não por inteiro, como se sabe, mas constituindo um forte reduto para este audacioso projeto. E aqui chegamos a outro 9 de Maio (agora o de 1950) onde se relembra a Declaração de Robert Schuman para constituição da União Europeia. Um ambicioso projeto imaginado para salvaguarda de valores económicos, sociais e políticos de todos os países ali reunidos. Para o seu desenvolvimento individual e coletivo, solidário e estratégico a nivel mundial. Uma União Europeia que se foi alargando e que, para Portugal, trouxe indiscutíveis avanços e progresso de vida. Com o tempo e com os incidentes mundiais que conhecemos a boa vontade para com a Europa foi sendo amortecida e, como em tudo na vida, foi sendo posta em causa. As políticas , os interesses, as diferentes maneiras de viver dos diversos países criaram clivagens que, se não forem entendidas, conduzirão à desagregação e ao indesejável regresso aos nacionalismos polarizados. Daí ao aparecimento de confrontos é um passo.
A nossa aliada Grã Bretanha decidiu sair. O famoso Brexit. Outros pronunciamentos semelhantes surgem no horizonte. A questão europeia é fulcral para o futuro próximo e alargado de todos os países da região. O que nos espera? Será que existirão outros “exits”?
É uma boa razão para nos interrogarmos se este tratado europeu terá o fôlego e a longevidade do nosso tratado de 1386. Estas ligações implicam cedências como, aliás, tem acontecido connosco.
Que mais não seja, pela coincidência, este 9 de Maio, também depois da “Macronização” francesa, leva-nos a refletir sobre os eventos em causa. Supomos que cá continuaremos com a nossa aliança inglesa, agora em moldes adaptados, porque é bom que eles não se esqueçam do seu parceiro do sul. Isto da diplomacia é uma carga de trabalhos…
Mas veremos se o 9 de Maio continuará a ser comemorado nas duas instâncias.
Os tratados entre os grandes e os pequenos, em geral, são mais favoráveis aos grandes do que aos pequenos. Entre Portugal e a Inglaterra ( o tratado foi depois extensivo ao Reino Unido ) assim foi. Mas não há dúvida que em certos momentos da nossa História a ajuda inglesa foi essencial. Quantos aos tratados da União Europeia, algo ou muito terá de mudar para que Portugal possa beneficiar tanto como outros países do que foi acordado
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Tudo muito bem expresso, com a simplicidade necessária de quem sabe contar a história. Pormenores da nossa existência, que se prolonga no arrastar dos tempos. São os eternos incómodos dos Titans, e a acomodação dos liliputianos…! Muito, ainda estará para vir !
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