Desporto e Paz

Foi ontem eleito o novo presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. País distante do nosso mas com o qual temos excelentes relações culturais e comerciais. Fui pessoalmente interlocutor e dinamizador de iniciativas culturais promovidas e apoiadas pela embaixada da Coreia do Sul em Portugal e recordo a agradável surpresa que tive com a apresentação de grupos de dança e canto sul coreanos que, imagine-se, muito se aproximavam, por vezes, das nossas melodias portuguesas.
Este novo presidente, cujo trajeto de vida conheço fragmentadamente e à distância, tem sido um defensor dos direitos humanos, apoiando-se nas suas convicções liberais da economia. Traz uma proposta de moralização da política e, de forma expressiva, uma tentativa de reanimação das relações com a Coreia do Norte. Conhece bem esse problema por já, em 2007, ter estado envolvido na preparação da cimeira com o à data líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il.
Bom, perguntarão, que tem isto a ver com o Desporto? Explico.  Na Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 as duas delegações, da Coreia do Sul e do Norte, desfilaram lado a lado, sob enormes aplausos,  com o público todo de pé. Embora tivessem competido separadamente deram um exemplo fantástico de como o Desporto pode assumir um papel fundamental na harmonização dos povos e das instituições.
Também nesses Jogos Olímpicos de 2000 a delegação de Timor desfilou com a bandeira das Nações Unidas por não ser estado independente reconhecido internacionalmente. A delegação portuguesa aos Jogos deu todo o apoio à equipa de Timor, nas áreas logística, social e desportiva. Foi a última delegação a desfilar antes da anfitriã australiana. O público levantou-se e aplaudiu longamente. Houve lágrimas em muitos rostos. Só a entrada da delegação australiana interrompeu esse momento solene. Estes são fatores  fundamentais do espírito desportivo que precisa ser difundido e seguido em todo o mundo. É essa a base do Movimento Olímpico que prossegue, continuadamente, essa luta e propõe esses objetivos. É preciso que a divulgação do espírito desportivo saudável e ético chegue a todas as parcelas das sociedades mais diversas. Este tema cruza-se também com o da segurança na área do desporto que, nos dias de hoje, se torna tão obsessiva e preocupante. O Comité Olímpico de Portugal tem estimulado, recentemente, a promoção de todas essas ideias com a publicação de textos sob o lema “Desporto e Segurança”, “Olimpismo e Paz”. Excelentes iniciativas que é indispensável dar a conhecer e divulgar até à exaustão. Conhecem estes textos? Se não os conhecerem podem consultá-los no sítio do COP.
Lembrar-nos-emos também da forma habilíssima como o Presidente Richard Nixon conseguiu, sempre com a intervenção do seu Secretário de Estado Henry Kissinger, a aproximação e estabelecimento de relações dos Estados Unidos com a China, propondo e agendando competições desportivas entre os dois países. Houve primeiro um jogo de ténis de mesa nos Estados Unidos em que estes foram obviamente esmagados. Era sabido. A seguir houve um jogo de basquetebol na China em que os americanos tiveram oportunidade de exibir a sua magia naquele desporto e vencer gloriosamente. A partir daí a diplomacia continuou o seu caminho e as relações estabeleceram-se. O Desporto foi instrumento da Paz.
Passados todos estes anos o mundo confronta-se com o pesadelo norte coreano. Possivelmente o Desporto não poderá ser de novo utilizado para  refrear a loucura. Mas a eleição deste novo Presidente da Coreia do Sul fez-me recuperar os acontecimentos anteriores. E levou-me a suscitar o vosso interesse pela indispensabilidade daquela reconciliação. A loucura campeia, infelizmente não só naquelas regiões. Sem fazer a apologia de Nixon para as artes desportivas, suspeito que o atual presidente dos Estados Unidos só há pouco tempo terá sabido a localização exata da península da Coreia. E é esse o problema. Desta vez não vai lá só com desporto. Mas acredito que o novo Presidente da Coreia do Sul sabe bem onde ficam os Estados Unidos.
E o Desporto, o verdadeiro Desporto, é sempre uma arma.

Um pensamento sobre “Desporto e Paz

  1. Li este texto com todo o interesse, como passou a ser meu hábito, desde que apareceu ” Velhos são os Trapos “…! Ao ler todos os apontamentos, sobre certas actualidades episódicas do desporto, senti umas variações do meu semblante, o qual não ultrapassando um pequeno sorriso de satisfação, também não ultrapassou sorriso amarelo do descontentamento, que as notícias colaterais ao desporto, normalmente nos transportam. Não pelo texto, obviamente…! Mas pela situação catastrófica em que o desporto de massas se encontra. E quando se trata de Desporto / Paz, era disso que os jornais desportivos deveriam falar. Por incrível que pareça, isso, não acontece e é lamentável ! Desde que me conheço, como moço jovem, pratiquei muito desporto, e gostava de trabalhar com espírito de equipa…! Mas…, ( há sempre um mas, em tudo na vida ) logo me cansei das colaborações, por notar sempre um certo triunfalismo da parte de outros, que se aproveitavam dos esforços alheios. E isso, era contra as regras da boa camaradagem e talvez de uma ética moral que ainda estaria para aparecer um dia. Não sei se alguma vez apareceu ! Então, tornei-me individualista, não pelo egocentrismo, mas pela forma de autonomia, das minhas capacidades físicas e mentais. E assim, pratiquei a Vela e mais tarde, num amor serôdio, o Golf e o Ténis. Todos eles com professores e amigos numa sã disputa por lugares, onde nunca consegui ultrapassar a minha capacidade atlética. Mas fiz o desporto que gostava, e andei sempre como gostava. E esse desporto, apesar de satisfação pessoal e foi verdadeiramente de ” paz “.

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