Hoje atrevo-me a contar uma pequena história verdadeira. Foi-me relatada por por um grande amigo de há muitos anos e distinto oficial da Armada.
Aventura vivida em 1957, numa viagem de instrução de cadetes da Escola Naval a bordo do navio “Gonçalo Velho”. Já naquela altura o navio não era só Velho de nome, era velho de idade. Fazia parte do célebre Plano Naval de 1933 e, em boa verdade, arrastava-se nas águas, mais do que navegava. As avarias eram frequentes mas, com a boa vontade e competência da guarnição, as coisas lá se iam remediando e nunca deixou de cumprir as suas missões.
Não foi por acaso que a sua fama foi elogiada num fado, o “Fado do Gonçalo Velho”, cantado por uma famosa artista da época. Não muito tempo depois desta fabulosa viagem de cadetes o navio seria abatido ao serviço ativo e vendido para sucata sem funerais de estado.
Por coincidência, essa viagem de cadetes também viveu incidentes com doenças de alguns dos oficiais da sua guarnição normal. Para um curso de jovens cadetes a bordo esses factos são sempre motivo de brincadeiras e anedotários suplementares.
Uma das etapas da viagem desenrolou-se a partir de Santa Cruz de Tenerife em direção às Ilhas Selvagens, em missão de soberania. Já nessa altura havia motivos de preocupação… Ao largo do pequeno arquipélago normalmente desabitado foi arriada uma baleeira com 12 cadetes a bordo, como remadores, 3 praças e um oficial responsável, comandando a operação. Na Selvagem Grande fazia-se secagem de peixe que era recolhido em fardos e transportado para a Madeira.
Para grande surpresa do destacamento foi encontrado na ilha um grupo de pescadores e onze turistas franceses, aparentemente não autorizados para a viagem. Perante situação tão inesperada os militares da baleeira desembarcaram, simulando uma ação de combate. Pescadores e turistas franceses levantaram os braços e propuseram uma rendição imediata aos gritos de “Vive la Marine Portugaise”! Tratava-se afinal de uma equipa de filmagem que andava a captar imagens para um documentário francês. O problema foi que as jovens francesas estavam em biquini, o que à data era proibido em Portugal. Aí o oficial responsável, avaliando a escassez regulamentar do vestuário, deu ordem de detenção. Cumpriu-se a lei!
Os pescadores lá levaram os franceses para a Madeira onde tudo acabou por se esclarecer. A baleeira regressou ao “Gonçalo Velho”, continuando a sua heróica epopeia de soberania. Depois, é claro, de terem feito uma instrutiva visita às cagarras que inundam aquele ilha tão especial.
Para aqueles cadetes foi, decerto, uma recordação inolvidável. Sempre lhes terá ficado gravado o grito de “Vive la Marine Portugaise” que tão bem souberam preservar até ao fim das suas carreiras militares.
Ri-me com satisfação, não só pela história, mas mais pelo caricato da situação…! Também, não foi sem um pequeno susto, ao ler o título, pois já imaginava uma Marine, a outra Marine, a francesa, a içar a sua bandeira, naquelas rochas, rodeadas pelas lusas águas atlânticas. Daí, imaginar a Marine, ( sempre a outra ), em biquini, foi um instante ! Mas não foi assim, felizmente ! E a leitura, continuou sempre com o sorriso de satisfação de orelha a orelha…! Coisas, da minha cabeça…!
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Este meu parceiro de Blogue é, realmente, notável. Percebeu rapidamente a mensagem subliminar possível de passar apenas com o título. Nem toda a gente reparou nisso. Obrigado.
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