As camadas mais jovens da nossa população não se lembrarão, talvez, deste epíteto famoso. Mas todos os que acompanharam, como adolescentes ou adultos, os preliminares do 25 de Abril em Portugal lembram-no bem e jamais o esquecerão.
Em março de 1974 reuniram-se em S. Bento, na Presidência do Conselho, os oficiais generais das Forças Armadas. Manifestaram, nessa altura, o apoio incondicional a Marcelo Caetano e à defesa do ultramar. Spínola e Costa Gomes não compareceram e foram exonerados no dia seguinte (despedidos, como diria hoje o Trump).
A essa peregrinação de generais e almirantes chamou-se “Brigada do Reumático”. Foi uma cena humilhante para todos os que estiveram presentes. Um arremedo teatral que não teve, como se suspeitava e hoje se sabe sem qualquer dúvida, o mínimo impacto na generalidade dos militares, já há muito envolvidos num plano que culminaria no 25 de Abril.
Esta pequena introdução vem a propósito, pela sua indignidade, da primeira reunião geral do Gabinete de Donald Trump. Foi na semana passada e passou nos telejornais. A cena foi tão repugnante que se verificou uma corrida mundial ao “You Tube” para ver se a cena lá estava. E estava, como ainda hoje se pode confirmar.
Recorri ao artigo na Time, da autoria de Glaude, Diretor de Departamento da Universidade de Princeton, com o título “A Adoração do Gabinete de Trump é um Sinal Assustador do Colapso Americano”.
A cena é quase inacreditável pela exposição pública de subserviência, de despersonalização, da irremediável conjura de um aparente bando de malfeitores.
Tendo como pano de fundo a controversa espionagem russa, a negação do tribunal de recurso a propósito da proibição de entrada de imigrantes, a famosa saída do Acordo de Paris, o Presidente convidou todos os membros do seu gabinete, a título individual, a fazerem os seus comentários. O resultado foi um miserável teatro político não aceitável em democracias fortes e estabilizadas.
Cada um dos membros do gabinete agradeceu ao Presidente a honra de com ele participar na agenda governamental. Não houve exceções. Arrepiou-me ver um reconhecido homem de negócios de nível internacional como Rex Tilleron, engenheiro ex-presidente da Exxon, com relações em todo o mundo, agora Secretário de Estado dos Estados Unidos (cargo já desempenhado por Henry Kissinger ou Hillary Clinton, por exemplo) sujeitar-se a bolsar aquelas aleivosias sabujas em defesa de uma política do nada, assumindo-se prócere de um reles ditador cujo futuro político só pode ser trágico. Sim, sei que o poder e o dinheiro mandam muito e que é por isso mesmo que ele lá está. Mas, Rex, não era preciso desceres aos esgotos.
Trump, sentado e às vezes de braços cruzados, sorria agradado ao ouvir aqueles cânticos de louvor. A seguir aos membros do governo foi a vez do Chefe do “Staff” da Casa Branca, quase que em tom de súplica, que “Em nome de todo o “staff” do Presidente, agradecemos-lhe a oportunidade e a benção que nos deu de servir a sua agenda e o povo americano”. Estes, claro, não serão despedidos.
Na realidade toda a reunião transmitiu a sensação de uma demonstração orquestrada sobre o poder de Trump. Os lacaios do Presidente, a despeito das declarações do anterior Diretor do FBI, manifestaram a sua lealdade e o orgulho de defenderem o Presidente. Trump sabia que era isto que aconteceria e era o que ele queria. E isto, apesar de tudo, demonstra que ele não está só.
Segundo Glaud esta cena é tão má que não nos permite relembrar as lições contemporâneas do conteúdo da obra “Julio César” de Shakespeare.
O Presidente Trump é um homem menor e perigoso. A miserável cantilena do seu gabinete não foi para ele, foi para nós. Para nos seduzir (aos americanos em especial) e arrastar-nos para zonas rochosas, para que todos possam ser cúmplices no afundamento desta democracia.
Trump fez ontem anos e festejou-os com toda a certeza. A ex-modelo Melania deve ter mandado fazer um bolo enorme, com velas, que o desgraçado soprou mas que não conseguiu apagar de uma só vez. Os seus generais completaram o serviço. Como vão completar todas os serviços que ele lhes encomendar até que os americanos se apercebam da “Brigada do Reumático” em Portugal e da época fantástica que esse país viveu a seguir ao seu Abril de 1974. Em democracia, coisa que este presidente-palhaço quer, de uma vez por todas, eliminar.
Ando com uma certa dificuldade em me concentrar em pensamentos positivos…!
Dou-me por muito feliz, por ainda não ter chegado a uma crise de ansiedade, como já tive algumas, quando as coisas não corriam como desejava. O nervosismo aumenta, a irritação aumenta os conflitos, como aumenta o sentimento de insegurança, e outras coisas, que os médicos nos aconselhavam a atacar com Xanax, e nós, sabiamente substituímos por uns possíveis fins de semana repousantes, numa qualquer pousada bem portuguesa, longe de televisões e da chinfrineira da política. E sobre pousadas, até sinto saudades de uma, em Santo António de Serém. ( outro Santo António, que também não é de Pádua, mas dali bem perto de Albergaria a Velha, com uma vista maravilhosa sobre o Vale do Vouga ). Desculpem-me esta minha tentativa de me desviar um pouco, do assunto que nos tem dado volta ao estômago ( parece que andamos todos assim ), mas quando me falam em Trump, eu sinto a pele a arrepiar, como nunca me tinha acontecido. Mas mais grave se torna quando o ouço falar com aquela vozinha e boquinha de menino mimado, rodeado dos seu brinquedos, já sem rodas ou sem pernas, excepto o seu protegido boneco Superman…! A América, deu-me um desgosto tremendo, com o qual luto, para não me deixar influenciar pelos tradicionais inimigos no próprio Ocidente. Ainda no tempo de Nixon, eu tive o prazer de visitar Nova York, e gozar as delícias do movimento das suas ruas e avenidas, com um ar de satisfação de americano, emprestado por alguns dias. Sentir a frescura dos ventos da liberdade no meu rosto, no meio de um turbilhão de gente que se cruzava apressadamente. Subir a Estátua da Liberdade, por uma escada de caracol apinhada de gente, percorrer a 5ª Avenida e a Broadway. Incluindo um pequeno tour de Helicóptero ( que susto tremendo ) e passear apressadamente pelo Central Park, o edifício da ONU e Down Manhaten. Daí, a Niagara Falls e a Washington. Visitar o Capitólio e museus. Sempre em viagem de autocarro, foi o culminar de um sonho meu de sempre. Uma confirmação do que já conhecia muito bem, pelo cinema ainda a preto e branco. Uma viagem em cheio, numa América que adorava e mais fiquei a adorar. E ao recordar todo este circuito, fico agora, cheio de mais angustia por ter conhecido o Cemitério de Arlington, onde repousam milhares de soldados americanos que fizeram a história deste país, além do comovente monumento a John Kennedy, com a inscrição do seu discurso ao povo americano. Um homem assassinado por motivos ainda não divulgados, mas que calculamos estar tudo ligado. E fico-me na angustia, que aumenta com a desilusão de ver um clown, a usar-se do mesmo cadeirão, onde se sentaram Roosevelt, Eisenhower e Kennedy.. Dá-me vontade de me beliscar, para saber se estou vivo,ou se estou assim assim. Não posso acreditar ! Aquela democracia, sofre de convulsões espasmodicas temporárias, provocado por uma bactéria localizada no Senado. Ou terá origem na Pennsilvânia, no fundo de algum poço vazio de petróleo ? Já estou a ficar baralhado ! Será em Wall Street, .? Mas, mal ainda maior, estará ainda para vir, com Erdogan, a roer os calcanhares do mundo ocidental, entusiasmado pelo Cavalgar das Valquírias de Richard Wagner…! Pobre América e pobre União Europeia, tão novas e já com tanto reumático …! Até pode ser que amanhã acorde mais bem disposto…! Aquele cálice de Aguardente Velha do Minho…! Humm !
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CARO MANUEL JOSÉ
Uma abjecção muito bem denunciada! Creio que nem o “querido líder” ainda se tinha lembrado duma destas !
Abraço
Frederico
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