O Sr. Trump, presidente de um país que é simultaneamente o mais poderoso militarmente e um dos mais ricos e endividados do mundo resolveu pôr em prática uma decisão que já se começou a revelar trágica e mortífera: transferir a embaixada do seu país de Tel Aviv para Jerusalém.
Sabendo-se que a paz na Palestina é uma situação sempre à beira de descambar em violência e morte ( entre árabes e judeus, não envolvendo americanos, claro ), tal atitude só pode ter sido equivalente a acender um rastilho ligado a um barril de pólvora. Como foi possível fazer isto ? Para agradar a eleitores fanáticos? Para satisfazer o lobby judaico americano?
Para mim, sentado calmamente no extremo ocidental da Europa e cidadão dum país que combateu os muçulmanos durante séculos e foi culpado de expulsar judeus do seu território e de queimar muitos dos que cá ficaram, é-me fácil pensar racionalmente sobre o assunto e escrever :
- Os dois povos, judeus e árabes, têm o direito de viver na Palestina e portanto é imperioso que haja 2 estados co-existindo em paz.
- Se ambos os povos, por razões ancestrais e religiosas, reclamam Jerusalém como sua capital, a solução é confirmar a divisão de cidade em duas (Oriental e Ocidental) e entregar cada uma delas a uma das nações em presença. O estado judaico já o fez em relação à sua parte, mas manda administrativamente na outra – o que acentua a discórdia.
Como disse, racionalmente isto parece lógico, mas quando estão em jogo sentimentos, em especial de natureza religiosa a que se somam diferenças económicas, o assunto torna-se muito difícil.
Lembremo-nos do que passou não há muitas décadas na Irlanda do Norte entre católicos e protestantes e quando da separação das nações da antiga Jugoslávia entre católicos, protestantes e muçulmanos (terrorismo, genocídio, etc.) não para aceitarmos passivamente o que passa mas para repararmos que as paixões humanas são muito semelhantes em qualquer ponto do planeta e é estúpido ou criminoso exacerbá-los
E as circunstâncias pioram muito quando grupos radicais podem influenciar decisões dos governos ou uma das partes pretende açambarcar territórios da outra. No tempo do governo trabalhista de Itzaque Rabin, com Shimon Peres a ministro dos negócios estrangeiros de Israel e Asser Arafat a representar os palestinianos, foi possível assinar os acordos de Oslo. Mas logo surgiu um fanático israelita que assassinou o 1ª Ministro Rabin e a possível paz foi por água abaixo. Entretanto apareceu outro grupo radical em cena, o Hamas e as coisas só pioraram. Com a decisão do Sr. Trump com certeza vão regressar os piores tempos das intifadas.
Visitei Israel e a Jordânia em Setembro de 2008. O grupo de antigos colegas em que eu me incluía teve muita sorte pois foi um período de acalmia nas relações entre os dois povos, e não deparámos com nenhuma situação desagradável. Lembro-me de termos passeado pelas duas partes de Jerusalém perfeitamente à vontade . A visita à Esplanada das Mesquitas não fazia parte do programa, mas um colega nosso não resistiu e foi lá na manhã da nossa partida. Sem problemas.
O único local sob a Autoridade Palestiniana que visitámos foi Belém de onde alegadamente os residentes cristão estavam a sair. Aí pudemos ver de perto os altos muros de betão, para separar territórios, que os israelitas tinham construído.
(Terão sido estes muros ou foi o ex-muro de Berlim que deram a ideia ao Sr. Trump de fazer outro tanto entre os EUA e o México?).
Estava-me a esquecer de referir que durante a visita a Jerusalém houve um incidente que motivou uma alteração de programa. Foi o caso que na tarde marcada para a ida à Igreja do Santo Sepulcro, a guia israelita nos comunicou que lastimava mas que a visita tinha de ficar para a manhã seguinte. Viemos depois a saber que tinha havido um desentendimento entre as 6 confissões cristãs que administram a Igreja (Católica, Arménia Ortodoxa, Copta, Etíope e Siríaca) que obrigou à intervenção da polícia israelita e ao encerramento do templo!
Gostei muito de ler toda esta análise da questão palestiniana. Além de ter sido um assunto que me apaixonou em tempos, ele é sobretudo uma preocupação, que sinto pela paz daqueles povos, sempre tão usados nas disputas políticas Leste-Oeste, e agora mais, por motivos religiosos de forma inconcebível.
Recordo-me muito bem, das centenas de refugiados judeus, fugidos às perseguições, numa Europa que entendia serem eles, os autores dos seus males e das suas crises internas. Apesar de ainda ser muito jovem naquela altura, nunca compreendi como pessoas tão civilizadas, pudessem ser tão culpabilizados de tanta maldade, e alvos de tanto ódio. ( Quantas vezes já nos arrependemos de os termos expulsado, a favor do desenvolvimento sempre crescente, em terras da Holanda ). Com o passar dos anos e com todos os acontecimentos bem presentes na memoria, ainda hoje me surpreendo, como conseguiram a formação de um produtivo Estado Judaico, no meio de tanta beligerância. Talvez, porque um homem como Ben Gurion, num momento do desaparecimento do Império Otomano, e aproveitando as fraquezas do posterior Mandato Britânico sobre toda a Palestina, ter insistido na formação do Haganah e a consequente formação do Estado Judaico, com a concordância da ONU. E aqui, os E.U.A e a ex União Soviética, como mandatárias dos destinos do mundo, nunca tiveram interesse, nem conseguiram por ordem nas fileiras. Assunto, fora da competência de Trump, que também nunca o conseguirá…!
GostarGostar
Há muito não tinha qualquer contato com o Frederico. Foi bom e gostei muito do artigo . Um grande abraço.
GostarLiked by 1 person
Muito bem. De acordo. Também tive a sorte de conhecer Jerusalém sem problemas.
GostarGostar