Há dias em que me apetece romper aquele silêncio, que por vezes nos envolve e nos leva a pensar, no bom que a vida nos proporcionou, num ou noutro determinado tempo, nas amizades, nas pequenas aventuras de jovem, como se tivessem sido mesmo aventuras, e algumas até o terão sido, conforme o espirito em que elas foram tidas.
Não querendo abusar da oportunidade de escrever algo para além do que tradicionalmente se escreve em blogs, recordo o que foi a vida de muitos portugueses por terras de África, no cumprimento de tarefas que lhes eram exigidas, elevando a engenharia portuguesa para níveis invejáveis de tecnologia e profissionalismo. Nem sempre era fácil conseguir essa demonstração de força e de sonhos, por terras do Portugal europeu, pelos condicionalismos da época, pelos lugares confortáveis eternamente ocupados por outros. O Ultramar, passou a ser o destino de quem pretendia realizar-se com mais rapidez, mudando de ares sob a mesma bandeira, quiçá com um pouco mais de liberdade, talvez não tão vigiados de perto.
Moçambique e Angola, eram o destino dessas elites que não se contentavam apenas com o conforto de um gabinete e uma secretária, algures na Capital. Tinham o espaço enorme e o muito para ser feito, consoante os planos de desenvolvimento, que a riqueza natural daquelas colónias exigia. Muitas dessas obras, são ainda hoje, o testemunho, embora algumas não passem de fantasmas, disso tudo.
Os projectos de desenvolvimento apareciam, como os da Missão de Aproveitamentos Hidráulicos do Rio Cunene, em Angola. E aqui, quero iniciar uma pequena homenagem ao Eng. Eurico Rodrigues Corvo. Integrado numa missão técnica para o projecto da Barragem da Matala (com 900 metros de extensão) com trabalhos de campo, sujeitando-se a viver num acampamento nas margens do rio Cunene, com todos os incómodos que são possíveis de imaginar. Um belíssimo início de vida profissional, para quem gosta de realizar, de construir e de vencer obstáculos…!
Outras obras dessa envergadura, foram-se seguindo, como o Aproveitamento Hidroeléctrico do Biópio (Benguela), do rio Catumbela, à época (1953), aquela que seria a maior barragem de betão. Tudo, sob sua orientação e o acompanhamento do LNEC, num esforço colectivo de toda a equipa, para obviar o transporte dos alternadores, desde o porto de Moçâmedes, ao longo de 430 quilómetros, com recurso ao Caminho de Ferro, atravessando as falésia da Serra da Chela.
Ainda o percurso da sua vida profissional não tinha alcançado a primeira dezena de anos, passou para uma nova faze, com a realização de novos estudos e novos projectos de implantação, do que viria a ser administrador do Complexo Mineiro de Cassinga, na qual se integrava a Jamba e Tchamutete e todo desenvolvimento da maior obra de engenharia portuguesa, constituindo ainda o complexo de caminhos de ferro e o terminal ferroviário do porto de Moçâmedes, com a capacidade de escoamento de 5.000 toneladas/hora, de minério concentrado.
Com a independência das antigas colonias, no meio de toda a confusão criada pela beligerância dos três partidos que se degladiavam, o Eng. Eurico Corvo, viu-se na necessidade de partir para uma nova vida, no Brasil, deixando para trás toda uma vida de trabalho e de realização, nunca compreendida pela revolução. Tempos depois, sempre apaixonado por Angola, voltou a Luanda, a convite da empresa brasileira, para dirigir as obras da construção da nova Luanda, até há bem poucos meses.
Infelizmente, o Eng. Eurico Corvo, deixou-nos no passado Domingo. Poucas semanas faltavam para completar os seus resistentes 93 anos de idade…!
Caro amigo
Não sei como agradecer toda a história da vida profissional de meu irmão ! Que grande homenagem acabas de lhe fazer! Ficarei eternamente grato por este gesto demonstrativo da nossa grande amizade. Bem hajas !
Obrigado
Eduardo Corvo
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