Quantos de nós, desde os tempos de juventude, andou a coleccionar artigos que nos pareciam importantes para nós ? Talvez carteiras de fósforos, bilhetes de cinema ou de autocarro e eléctrico, cromos de futebol, que aumentávamos com as trocas entre amigos e colegas. Um ou outro selo, que nos parecia importante para um início de uma colecção mais valiosa…!
E esse espírito de ” coleccionador “, foi-se esvanecendo, até desaparecerem das gavetas, por efeito de limpezas, onde recolhíamos num amontoado de bugigangas já quase sem sentido. Mas sei, que muitos de nós, ainda conservam religiosamente, todos esses pertences maravilhosos de uma juventude já distanciada de há muito.
E é sobre esse espírito de coleccionador ou de zelador, que pretendo evidenciar nestas poucas linhas. Não sei se somos assim um povo tão agarrado às coisas do passado, ou se a vida nos vai transformando os hábitos. Talvez até a falta de tempo ou de paciência, ou ainda outras, que nos distraiam e nos levem para outros gostos e hábitos. Talvez, esta última seja a mais verdadeira, pois a vida tornou-se completamente diferente…! A verdade, é que há patrimónios que dizem respeito à vida que levávamos, incluindo as dos nossos pais e avós, actores de uma sociedade que marcou uma época, na qual ainda fomos buscar algo que nos formou o espírito e a personalidade.
Mas, insistindo no património, e desta vez do património público, quem não se lembra das carreiras já desaparecidas, dos carros eléctricos de Lisboa, de Coimbra, do Porto, de Braga e de Sintra ? Sabemos, que os carris se tornavam inconvenientes em certas ruas, passando a usar os Trolley-Bus, mais sofisticados e mais manobráveis, em algumas cidades. A implacável modernidade…! Mas, o romantismo ficou no espírito das pessoas e felizmente, isso passou a fazer parte de um atractivo para as cidades, agora viradas para o turismo. E ainda bem, porque é delicioso viajar dentro da cidade, num carro-eléctrico ou fazer aquele percurso de Sintra até Colares… ! Pena que tenham encurtado o percurso, deixando a Praia das Maçãs para outras núpcias !
Mas, o Comboio e o Caminho de Ferro, por motivos de projecção económica, foi abandonando o país às silvas e diverso matagal, além de alguns devaneios de certos autarcas que se apressaram a fazer desaparecer os vestígios e um caminho de ferro, com excepção das pontes e túneis ou passagens desniveladas, muitas delas adaptadas a outras finalidades, como os das linhas métricas do Vale do Vouga, do Ramal de Viseu, do Tua, etc… !
O que foi feito desse material, todos os sucateiros mais dinâmicos, o sabem. Também muitos pequenos projectos, incluindo algumas autarquias, desejaram aproveitar esse manancial turístico, mas afundaram-se à nascença por falta de recursos. Talvez, também por falta do empreendedorismo habitual, sem subsídios estatais…!
Sobre o paradeiro de parte do material considerado obsoleto e incómodo, um pequeno site com fotografias de fazer inveja, daquilo que nos pertenceu e mantém o nome de CP, pode ser visto em :
https://regiorail.wordpress.com/turismo-e-patrimonio-ferroviario/suica/la-traction-2
O que nós, país pobres não quisemos, outros mais ricos aproveitaram, tornando-se ainda mais ricos…!
Ainda em termos de património, achei curiosa a forma de reconstruir aviões da 2ª Guerra, para fins museológicos, quase peça por peça, numa das poucas oficinas inglesascom toda a tecnologia necessária. Tudo começou, por um pequeno passeio entre amigos de amigos, num pequeno Rally, com coleccionadores de Bugattis . A festa depois de um almoço, acabou numa visita a uma oficina de recuperação desses aviões, bem demonstrativa do interesse pela preservação de todos esses elementos. A que mais me impressionou, foi a recuperação total de um caça Messerschmit, recuperado das profundezas do Canal da Mancha, bastante danificado pelas águas do mar, assim como um caça Mitsubishi Zero, vindo de outras paragens, ainda com as cores nipónicas da época. Também, a forma como encontrei um Harvard, que pertenceu à nossa Força Aérea, totalmente reparado e pintado com as cores norte americanas, negociado pelas OGMA, conforme me foi explicado pelo responsável dessa unidade industrial. Por esta razão, já poucos Tiger Moth, Hurricanes, Harvards e Spitfires, entre outros, fazem parte de um museu, que nos conte a história da nossa aviação e dignifique os nossos históricos pilotos, a começar por Gago Coutinho, Sacadura Cabral e Oscar Monteiro Torres..!
Que bom seria, se tivéssemos o mesmo espírito de coleccionismo, como no Museu do Caramulo…!