Não, não é engano. Nós em Portugal temos Jacintas famosas e outras desconhecidas. Mas esta é Jacinda e não é portuguesa. Jacinda Kate Laurell Arden (abreviadamente Jacinda Arden) é a 40ª Primeira Ministra da Nova Zelândia, desde 2017, depois de ser a 36ª lider da oposição e a 17ª lider do Partido Trabalhista do seu país. Nasceu em 1980 e fará, a 30 de julho, o seu 39º aniversário. Dependendo da Rainha Isabel II tem direito ao título de Muito Honorável.
Porquê toda esta introdução? Porque Jacinda foi a principal protagonista na condução de todas as reações decorrentes do atentado, ou massacre, como se queira, de que foi alvo uma mesquita islâmica em Christchurch, perpetrado e realizado por um cidadão branco, australiano, motivado pelos mais deploráveis sentimentos anti-islâmicos. A empatia de Jacinda com os sobreviventes do massacre e a sua recusa em se envolver numa retórica anti-islâmica mostraram, à saciedade, o que é, verdadeiramente, um lider à escala mundial.
Jacinda tem exemplos de luta social e de audácia humana extraordinárias que a fazem, atualmente, no seu país e no mundo, ser admirada de forma consensual. Ninguém esquece as imagens das suas intervenções no Parlamento, no ano passado, com uma gravidez adiantada, à beira de dar à luz. São exemplos que persistem. E não surpreendeu quando, imediatamente após o massacre de que falámos atrás, se apresentou junto às famílias enlutadas, usando um “hijab” e recusando usar, na altura, o nome do principal suspeito. A dimensão do seu ato ganha mais força numa altura em que muitos governos europeus e o dos Estados Unidos desencadeiam as propagandas mais anti-islâmicas de que há memória. A sua atitude foi em sentido contrário. Aproximou-se da comunidade atingida e propôs-se apoiá-la por todas as formas possíveis.
Foto retirada do The Guardian
No país considerado um dos mais pacíficos do mundo, Jacinda não hesitou em propor as mais completas investigações ao crime em causa, não à comunidade (para muitos considerada de imigrantes) que foi vítima do terrível flagelo. Proibiu, passados dois dias, a venda de armas automáticas ou semi-automáticas à população. O mundo inteiro (e principalmente a “Commonwealth”) já fizeram a comparação com o comportamento de Theresa May quando do terrível incêndio das Torres Grenfell, em Londres, com respostas ainda hoje não dadas. Jonathan Powell dizia há dias : “Como poderia ter sido diferente o Brexit se Jacinda estivesse no nº 10 de Downing Street”! Faz-se a comparação com os Estados Unidos e, ao assistir-se ao já existente bloqueio às comunidades islâmicas, começa a não haver dúvidas quanto à proibição total à entrada de muçulmanos se Donald Trump for reeleito. E isto depende dos americanos e das habilidades informáticas que já todos eles sabem que existem e foram utilizadas. Quando Trump lhe telefonou para a consolar e oferecer assistência, ela apenas lhe pediu “simpatia e amor para todas as comunidades muçulmanas”!
“A minha missão é restaurar a sensação de segurança entre os neozelandezes”, disse Jacinda num encontro recente com os seus conterrâneos. E acrescentou: “Se o facto de eu ter usado o “hijab” lhes deu maior segurança para continuar a praticarem a sua fé, fico contente por o ter feito”. E é curioso como, após o massacre de Chistchurch, os crimes contra muçulmanos aumentaram 600% em Londres!
O que distingue Jacinda Arden é o facto de ela ser, na realidade, uma política moral, com dignidade e ética. Não será por acaso que já foram recolhidas milhares de assinaturas para a candidatura de Jacinda ao Prémio Nobel da Paz.
São estas as lições de Jacinda. E a nossa Europa (por enquanto nossa Europa) precisa muito deste tipo de lições.