MAESTRINAS

 

Já tinha falado há uns dias na possibilidade de abordar este tema: maestrinas. Não que seja propriamente muito inovador mas  poderá talvez  trazer uma reflexão um pouco mais alargada dos ambientes musicais, das iniciativas existentes pelo mundo nesta área e, claro, o realce que deverá ser dado à mulheres que têm vingado neste mundo hostil de homens e mestres.

Por coincidência, nesta altura, está a passar na RTP2, todas as noites a partir das 22:10h, uma série chamada de A ORQUESTRA que chama a atenção, de forma melodramática, para  incidentes que se prendem com este tema. As coisas não são, no entanto, tão más como acontecem naquela série. O drama da série ultrapassa o que é a vida normal de uma orquestra, mesmo com os seus litígios, ciumes e disputas.

Também por coincidência a maestrina mexicana Alondra de la Parra dirigiu, com enorme êxito, no Festival da Páscoa, a Orquestra de Aix-en-Provence, tendo merecido grande destaque em todos os noticiários da especialidade. Estas coincidências ajudam a abordar o tema com um pouco mais de oportunidade.

Comecemos antes por abordar uma personalidade mundana e conhecida deste mundo de especialistas: Donatella Flick. Donatella é uma filantropa italiana, ex-mulher do riquíssimo industrial Flick. Além disso é filha  de príncipe George Missikoff, da Ossétia,   e da sua esposa ialiana Valeria. É irmã do príncipe Oleg Missikoff e licenciada em filosofia pela Universidade de Roma. Devido e por causa destas facilidades financeiras Donatella, apaixonada das artes, decidiu criar em 1990 um Concurso de Direção de Orquestra com o seu nome, em colaboração com a Orquestra Sinfónica de Londres. O vencedor, além de um prémio monetário, fica assistente de maestro durante um ano na Orquestra. O juri é constituido por 10 das maiores sumidades musicais da música clássica mas, curiosamente, de 1991 a 2018 só houve uma mulher premiada: Elim Chan, de 28 anos, de Hong Kong.  Finalmente uma maestrina!

Não nos fiquemos por aqui nem lamentemos esta estatística. Há maestrinas por todo o mundo com enorme êxito e muito requisitadas pelas melhores orquestras. Falei atrás de Alondra de la Parra, mexicana, com 38 anos de idade, diretora da Filarmónica das Américas. Chegou a ser nomeada embaixadora cultural do México e, presentemente, é convidada regular da Orquestra de Paris, da Academia de Santa Cecília de Roma,  da Filarmónica de Londres, das orquestras das Rádios de Berlim e da Suécia e, desde 2016, diretora musical da Orquestra Sinfónica de Queensland, na Austrália. Um palmarés destes não pode iludir a magia de que ela impregna os seus concertos e, por isso, é  tão apreciada em todo o mundo.

Podemos falar de Marin Alsop, americana, que dirige a Orquestra Sinfónica da Radio de Viena, ou de Negin que, com 17 anos, dirige a Orquestra de Cabul, no Afeganistão. Mas também Portugal dispõe de uma maestrina famosa, Joana Carneiro, de 41 anos, que desde 2014 é Maestrina Titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Mas acumula esse cargo com o de Diretora Musical da O. S. de Berkeley, convidada das orquestras da Gulbenkian, de Toronto, Gotemburgo, Malmoe, Sydney, Nova Zelândia e Espanha.

São génios musicais que dedicaram toda a sua vida à música, primeiro como instrumentistas e, a seguir, como diretoras de orquestra. Dizem os críticos e entendidos que há diferenças de sensibilidade, de fulgor, de elegância que as distinguem de alguns maestros. Mas, como em todas as profissões, os progressos e oportunidades não abundam e são lentos. Mas, para quem goste, talvez valha a pena apreciar uma mesma peça musical dirigida por um maestro ou por uma maestrina (o YouTube permite tudo isso) e, por vezes, os resultados são surpreendentes.

Que mais não seja, esta evolução vai-se manter e não surgirá, de novo, (como surgiu ao princípio) a dúvida de lhes  chamar simplesmente maestro (como em França) ou se se deve manter o termo maestrina que já é, felizmente, consagrado e indiscutível.

Se houver cada vez mais e melhor educação musical, instrumentistas, maestros ou maestrinas só trarão cada vez mais visibilidade à música, dita clássica, para que as novas gerações possam ir substituindo as gerações “grisalhas” que enxameiam as salas de concertos.

 

 

 

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