De vez em quando dá-nos para as brejeirices, para o humor, para as pequenas/grandes coisas, conforme as nossas interpretações ou convicções.
Lisboa é uma cidade onde sempre houve de tudo: o bom, o mau, o assim-assim, os vícios às claras ou às escondidas. Ainda me lembro de umas tascas onde se comiam iscas fininhas, perfumadas, apetitosas, mesmo para aqueles que, como eu, não tinham as iscas na primeira hierarquia dos seus gostos. E havia muito sítio onde se vendiam e saboreavam os famosos passarinhos fritos. Eram tentilhões, piscos, pardais (nunca os distingui bem) muito pequenos, muito bem fritos e que se trincavam de uma só vez misturados com molhos cujo segredo variava de casa para casa. Já há anos que essa prática é proibida e os passarinhos fritos desapareceram das ementas oficiais das tascas mais famosas. Claro que há as menos famosas onde, segundo se diz, os clientes mais habituais ainda conseguem arranjar o famoso petisco. Não conheço nenhuma…
Claro que os ecologistas, os defensores dos direitos dos animais, os protetores da natureza se lessem este pequeno texto (coisa que, claro, não acontece) levantar-nos-iam processos jurídicos evocando as tendências mais escabrosas e deploráveis, impossíveis de rebater em qualquer tribunal moderno. A lei é a lei e a gulodice acabou.
Vem tudo isto a propósito de, desde há anos, se passar o mesmo em França onde, recentemente, foi proibida a caça a um passarinho que por lá se chama de “ortolan” e cuja espécie está ameaçada de extinção. Corresponderá, segundo os entendidos, ao nosso verdelhão, tratando-se de uma ave migratória com dois percursos anuais bem conhecidos: um que começa nas zonas da escandinávia e vem para sul, por oeste, passando por Inglaterra, França e acabando no norte da África ocidental; o outro começa na Russia e vem para sul até à Etiópia. Sabe-se mal o que acontece aos que percorrem esta segunda via mas, quanto aos da primeira, sabe-se bem que grande parte deles ao passarem em França, na zona dos Landes, acabavam fritinhos e saborosamente temperados nos pratos dos mais requintados franceses. Consta que François Miterrand era um apreciador incorrigível e os comia, já às escondidas, trincando, de uma só vez, ossos, cabeças e tudo. Um manjar de deuses, como lhe chamavam , ele e os seus acólitos.
Mas agora acabou-se, a caça dessa espécie é proibida em França, como em Portugal é a dos nossos passarinhos. Mas todos sabemos que em pequenas e maravilhosas terras do nosso país (e nos outros) ainda se consegue saborear esse petisco inominável. Duvido que os ecologistas da nossa praça se revejam nessa prática medieval mas do que não duvido é que “passarinhos fritos” ainda se passeiam por muitos “altares gastronómicos” deste nosso país. “Ortolans” ou “pardais” aqui vos fica o aviso: migrem o mais depressa que puderem para que um chumbo perdido não vos atire para uma frigideira qualquer.
Uma deliciosa e saudável boa disposição, fazendo crescer água na boca ! ” De onde vindes, seus loucos …? Tendes ido tantos e vindes tão poucos …? ” E era assim, que os pássaros sedentários, perguntavam aos ” tordos ” que chegavam da sua viagem migratória, de regresso ao hemisfério Norte para uma nova nidificação. E as tasquinhas dos galegos, lá iam fritando aquele petisco tão apetecido, na grande frigideira, junto à vitrine mais que besuntada, que dava para a rua…!
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Boa lembrança!. Nunca mais esqueci duma tasca que existia na R. dos Poiais de s. Bento, a caminho do Lyceu Passos Manuel, que tinha à porta a seguinte tabuleta :
ÔJE À PAÇARINHOS
Autêntico : 3 palavras, 3 erros. Não se pode exigir tudo, uma coisa ou outra : ou bons passarinhos ou boa escrita
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