TOURADAS

 

Touradas, Corridas de Touros ou simplesmente Corridas são manifestações públicas e artísticas que têm vindo a ser, ultimamente, muito contestadas por grupos defensores dos direitos dos animais e por ecologistas, de uma forma geral. Mas os apoiantes desta arte ainda são muitos e muito bem  radicados nos principais países onde esta arte se pratica.  Desde há anos que esta polémica se mantém e que as opiniões se dividem mas, aparentemente, ninguém tem coragem de proibir esta expressão artística nos locais onde existem.

É bom que se faça uma pequena resenha do que são as touradas e desde quando são praticadas. A História diz-nos haver vestígios de corridas de touros já no século XII, principalmente na Península Ibérica e sul de França mas também em países da América Latina como México, Equador, Peru, Venezuela e outros.  Nas origens de Portugal já existiam as touradas como prática nobre, tendo havido reis toureiros como D. Sancho II, D. Sebastião, D. Afonso VI, D. Pedro II, D. Miguel e D. Carlos.  Só D. Pedro II parece ter arriscado o toureio a pé, os outros só toureavam a cavalo.  D Sebastião chegou a pedir ao Papa Gregório que revogasse a Bula Pontifícia de Pio V que proibia as touradas. Nos séculos XVII e XVIII, durante o Iluminismo, as touradas começaram a ter a expressão atual. Em Lisboa realizavam-se no Rossio e Praça do Comércio para, mais tarde, passarem a ter lugar em recintos fechados. Em Portugal as touradas foram proibidas por D. Maria II, em 1836, mas apenas durante 9 meses devido à revolta das populações. Em 1928 foram proibidos os touros de morte. Atualmente as corridas de touros “à Portuguesa”,  incluem apenas o toureio a cavalo e as pegas por grupos de forcados.

Em Portugal tem havido uma forte controvérsia quanto à realização de touradas, às vezes, até, com recomendações de Instituições estrangeiras. Embora alguns municípios se tenham manifestado contra a sua realização o certo é que, até à data, a atividade é legal. em todo o território.

Vem este assunto também a propósito das recentes polémicas que têm ocorrido no sul de França quanto a este mesmo tema. A antiga toureira francesa Marie Sara defende que “a touromaquia é, no sul de França, um elemento de cultura local, contribuindo para um eco-sistema raro e precioso.” Diz, além disso, que “a cultura taurina se apoia num dos últimos modelos de criação extensiva e criadora de empregos que respeita os solos e as paisagens”. Em França,  apenas 6% dos touros criados acabam por ser lidados em arenas (em Portugal a percentagem não é muito diferente).  Os chamados “touros bravos” não podem estar sujeitos a criações extensivas. Por cada touro em idade e com capacidade de combate há outros 50 animais que são criados nos mesmos espaços. Cada touro bravo precisa de 3 hectares para se apurar,  o que faz com que se criem verdadeiras reservas naturais que ficam assim protegidas das intervenções humanas. Os empresários taurinos são, realmente, responsáveis por uma linha de produção que envolve muito pessoal (tratadores, campinos, agricultores) cuja vertente social e empresarial não é de somenos.

Claro que o Presidente da Sociedade Protetora dos Animais em França (como fará o seu equivalente português) exige a interdição da corrida no seu país e recusa que se trate, em França, de uma tradição. Estes não são, naturalmente, os mesmos argumentos usados em Espanha ou Portugal. Evoca, inclusivamente, o caso da Catalunha onde a proibição se tornou efetiva. Chama a atenção para o facto de , mesmo levando em conta os importantes benefícios comerciais, não se justificar a morte de um animal por mero prazer, apelidando-a de cena bárbara.  Os argumentos são, no entanto, pesados  e julgo, que com o tempo, irão ganhando cada vez mais força.

Cumpre-me fazer uma declaração de interesses: gosto de touradas! Habituei-me com o meu pai  (que gostava e era conhecedor) a ir, em garoto, à antiga Praça do Campo Pequeno ver  grandes nomes do toureio apeado, como Manolete, Gregório Garcia, Manuel dos Santos, Diamantino Viseu. Isto começou a passar-se nos anos 40/50 do século passado,  quando não havia limite de idades para estes espetáculos. Lembro-me de em 1947, para curar a tosse convulsa, ter ido um mês para a cidade da Guarda (sítio alto) e lá ter ouvido, pela rádio, da colhida e morte de Manolete na Praça de Touros de Linares. Nunca fui com o meu pai às esperas de touros em Vila Franca de Xira, o  que nos deixava em casa muito preocupados até ele chegar. Um dia apanhou um susto e deixou de ir. Lembro-me bem do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa comandados por Salvação Barreto e as proezas desse seu grupo. Lembro-me, em especial, da sua atuação, sozinho, na famosa pega de um touro desembolado no filme “Quo Vadis”, de 1951, filmado no Coliseu de Roma.

Ao longo da vida convivi com gente cujas famílias se dedicavam à criação de touros e patrocinavam os espetáculos. Ouvi deles as alegrias, as paixões e as agruras dos seus empreendimentos. Nunca pertenci a nenhum grupo de discussão destas atividades mas mantive, ao longo dos anos, um apreço especial pela beleza que consigo perceber nesta arte. Enfim, ouço com atenção as críticas que são feitas ao tratamento do animal em arena, e respeito-as. Os partidos políticos, cá e nos países onde existem touradas, têm vindo a defender a abolição desta “barbaridade”. Já se disse que é uma questão cultural e aí interrogo-me. Como diz, com muita graça um amigo meu: “O bife é o melhor amigo do homem a seguir ao cão!…”  São coisas de gerações e sei que um dia as coisas vão mudar. Poissivelmente já cá não estarei e já não terei tempo para deixar de gostar das Corridas de Touros.

 

 

 

2 pensamentos sobre “TOURADAS

  1. Nem de propósito…! Os entusiasmos de uma juventude, que pouco a pouco, foram perdendo o interesse. Mas a beleza do espectáculo, nunca se perde no tempo, e as recordações de uma afición, que sempre nos fazem vibrar como se as víssemos hoje em Vila Franca de Xira, na Chamusca ou mesmo na Póvoa do Varzim.

    Não importa Sol ou sombra
    Camarotes ou barreiras
    Toureamos ombro a ombro as feras
    Ninguém nos leva ao engano
    Toureamos mano a mano
    Só nos podem causar danos, esperas…

    E era a Tourada, do Fernando Tordo e Ary dos Santos, numa canção de intervenção, que se fazia ouvir pelo país todo, como resultado do Festival Europeu da Canção. Talvez o início do fim de uma Festa Brava, da Afición, do toureio a cavalo, a beleza do espectáculo de cor e valentia, que juntava o povo das cidades e do campo num só. Quem não sente a vibração de um Passodoble tocado pela Banda, a mando do Director de Corrida, acenando o lenço branco ? Os Tercios, entre bandarilheiros, Os capotes e a beleza das Chicuelinas, os Passes por alto, as Veronicas e Gaoneras. Faenas de uma beleza artística, qual bailado entre o homem e a fera…! Ainda a Corrida à Portuguesa, o espectáculo de rara beleza, juntando o homem, o cavalo e o touro, única no mundo, onde o touro não é morto.
    Toca a música… !!!

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  2. Nem de propósito…! Os entusiasmos de uma juventude, que pouco a pouco, foram perdendo o interesse. Mas a beleza do espectáculo, nunca se perde no tempo, e as recordações de uma afición, que sempre nos fazem vibrar como se as víssemos hoje em Vila Franca de Xira, na Chamusca ou mesmo na Póvoa do Varzim.

    Não importa Sol ou sombra
    Camarotes ou barreiras
    Toureamos ombro a ombro as feras
    Ninguém nos leva ao engano
    Toureamos mano a mano
    Só nos podem causar danos, esperas…
    E era a Tourada, do Fernando Tordo e Ary dos Santos, numa canção de intervenção, que se fazia ouvir pelo país todo, como resultado do Festival Europeu da Canção. Talvez o início do fim de uma Festa Brava, da Afición, do toureio a cavalo, a beleza do espectáculo de cor e valentia, que juntava o povo das cidades e do campo num só. Quem não sente a vibração de um Passodoble tocado pela Banda, a mando do Director de Corrida, acenando o lenço branco ? Os Tercios, entre bandarilheiros, Os capotes e a beleza das Chicuelinas, os Passes por alto, as Veronicas e Gaoneras. Faenas de uma beleza artística, qual bailado entre o homem e a fera…! Ainda a Corrida à Portuguesa, o espectáculo de rara beleza, juntando o homem, o cavalo e o touro, única no mundo, onde o touro não é morto.
    Toca a música… !!!

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