Muitos de nós temos assistido, por razões de natureza profissional ou pessoal, a cerimónias universitárias, nos finais de cursos de licenciatura, mestrado ou doutoramento. A pompa e a circunstância dependem, naturalmente, do grau académico em causa e dos locais onde essas cerimónias se realizam.
Vêm-me à memória em primeiro lugar, por razões pessoais que compreenderão, as cerimónias de entrega de espadas nas Academias Militares ou o mais brejeiro, embora muito tradicional, lançamento de foguetes nos finais dos cursos de Engenharia no IST. Mas com os progressos dos estudos e a natural subida nas hierarquias lectivas as cerimónias vão-se tornando mais institucionalizadas e mais pomposas. Todos temos acompanhado, ao longo dos anos, as diversas versões desses festejos. Alguns deles surpreendem-nos até pelos excessos alcoólicos praticados durante essas comemorações. Mas não é isso que importa. O final de um curso ou a mudança de uma etapa na carreira docente são razões bastantes para celebrações pessoais a que as próprias Instituições académicas dão o relevo e o brilho correspondentes. Os noticiários televisivos facultam-nos, com alguma frequência, cerimónias solenes em que os académicos surgem com as suas resplandecentes capas e maravilhosos capelos adornando-lhes os dorsos e as cabeças. Muitos deles são alugados mas os cerimoniais não saem diminuidos por isso.
Também sabemos que cada país ou cidade tem os seus próprios costumes e cada entidade académica promove-se, muitas vezes, não só pela qualidade do seu ensino como também pela galhardia destas cerimónias . Os britânicos são, nestas artes, muito conservadores e tradicionais. Assisti recentemente a uma dessas cerimónias em Inglaterra, Coventry, por razões de natureza familiar. Coventry é uma terra pequena, vivendo da vida universitária e, espante-se, com alto grau de perigosidade noturna nas ruas. E, curiosamente, nem sequer dão grande relevo à figura histórica que talvez os tenha celebrizado: Lady Godiva, cuja história já contei em texto anterior e que poderão sempre confirmar.
No meio dos milhares de estudantes em fins de cursos que por lá andavam, uma era da minha família e por isso acompanhei de perto todos os preparativos e os cerimoniais em detalhe. Lá apareceram as capas, os capelos e as estolas (neste casos azuis) no espaço majestático da igreja universitária. Todos muito felizes, claro. Mas o que verdadeiramente mais me impressionou foi o desempenho de um professor que naquele dia foi destacado (não sei se também para os outros dias da cerimónia) para o aperto de mão individual a cada um dos estudantes mencionado pelo nome, para entrega do respetivo diploma. O pobre professor apertou, nesse dia, a mão a mais de um milhar de finalistas, sempre com grande bonomia e galhardia, mas decerto com “guia de marcha” para a “enferma”, para as indispensáveis sessões de fisioterapia.
Ultrapassando o aspeto jocoso desta descrição, este texto tem o simples objetivo de enaltecer a seriedade destas convenções, exaltando a matutenção das suas práticas. Fugindo sempre às insinuações de conservadorismo que estas ocasiões encerram não tenho dúvidas que elas preservam a distinção do ensino e o estímulo para o incremento cultural dos países. Em Portugal estas cerimónias são também prosseguidas e fazem esquecer o incidente de 1924 quando um reitor de um liceu de Lisboa proibiu que uma aluna usasse capa e batina. Claro que houve greve de estudantes e o assunto foi resolvido para sempre. É agradável assistir, em direto ou pela televisão, a momentos tão sérios e importantes nas vidas dos jovens estudantes.