Muitas vezes descuramos notícias interessantes sobre compatriotas nossos que, por razões diversas, desempenham importantes cargos de relevo internacional sem que se lhes dê o merecido relevo. É o caso do embaixador João Vale de Almeida que foi designado, nem mais nem menos, como primeiro embaixador da União Europeia junto do Reino Unido. Não é, evidentemente, um novato nestas andanças. Era, há 30 anos, porta-voz da Comissão Europeia, integrado no grupo internacional de imprensa no qual se encontrava, também, um seu amigo e periodista do Daily Telegraph, Boris Jonhson. Já nesse tempo parece que as perguntas do atual primeiro ministro britânico não eram fáceis de responder. Talvez as recordações desse tempo ajudem agora Vale de Almeida a “descarbonizar” os agradáveis e vivos diálogos que se estabelecerão entre ele e a equipa britânica. A carreira de Vale de Almeida leva-nos a perceber as razões pelas quais ele foi nomeado como primeiro embaixador da União no Reino Unido, numa época tão especial e difícil. Aos 63 anos já passou pelos cargos de chefe e presidente de missão, além de embaixador nos Estados Unidos e União Europeia. A atual embaixada de Vale de Almeida ocupa o nº 32 de Smith Square, em Westminster, anterior sede da delegação britânica para a União Europeia e, antes disso, sede do Partido Conservador Britânico, de onde Margaret Thatcher fez o seu discurso de vitória. Vale de Almeida integrou a Comissão na década de 1970, depois de Portugal entrar na União.
Não vale a pena discorrermos sobre os ciclópicos trabalhos (expressão usada por Marcelo Caetano quando em Portugal foi investido no cargo de Presidente do Conselho de Ministros) que o aguardarão, levando em conta o rigor e a “amável ferocidade” com que Michel Barnier conduzirá as negociações.
Não é pela essência do cargo que estamos aqui hoje, mas sim pelo facto, nem sempre relevado, de ser um qualificado português a desempenhar tão espinhosas missões. Aqui fica “para memória futura”.