Os engenheiros e as suas instituições andam preocupados. Os seus trabalhos, estudos e projetos não estão a conseguir os resultados pretendidos. Conceber um dispositivo que garanta um sorteio justo de qualquer coisa não é uma responsabilidade menor. Aquelas fantásticas máquinas em plástico que vemos na televisão para o euromilhões e outros prémios graúdos são fruto de muito trabalho de conceção e realização. Para que um novo “ganhador excêntrico” não acabe por se suicidar se descobrisse que, afinal, o sorteio estava viciado e o prémio lhe seria retirado. Não há dúvida, temos que ter confiança nas “geringonças” com as quais os sorteios, públicos e privados, são realizados.
Mas eis que, de repente, nos começam a chegar casos preocupantes de sorteios falseados ou mascarados. Já há anos que se diz que as bolas plásticas que são retiradas, por insuspeitos personagens, de vasos transparentes e também plásticos, para definir os grupos e jogos de futebol por essa Europa fora, têm temperaturas diferentes para se saber qual a que interessa tirar. Claro que nunca acreditei nisso, até porque o futebol é uma instituição que movimenta milhões e por isso tem que estar acima de qualquer suspeita… Mas agora ficámos a saber que o sorteio automatizado dos juizes da nossa Relação foi mistificado e falsificado. Quer dizer: um senhor juiz era “escolhido” para um determinado caso à margem do tal sorteio, apenas em função dos interesses que o Presidente do Tribunal entendesse mais úteis para os litigantes. Bom, isto é realmente muito grave. Isto não pode ser o espelho da Justiça entre nós. É, com certeza, um caso espúrio que será investigado e punido com a maior das severidades. Mas assusta-nos. Será um caso espúrio ou uma tradição bem disfarçada? E só naquele local ou também por outras paragens? Sem uma Justiça solene e impermeável aos dislates não há democracia. Por muito que possamos desconfiar de outras coisas, da Justiça não apetece desconfiar. Até porque os seus membros não são eleitos e isso, sendo arriscado, poderia fazer supor que se nomeava gente impecável. E parece não ser o caso. As semelhanças deste facto com outros que enxameiam a nossa sociedade só nos podem deixar intranquilos. Não vale a pena voltarmos ao futebol, onde tudo de estranho parece acontecer. Mas ao pensarmos nos processos complexos e aparentemente gravosos que se arrastam penosamente nos tribunais começamos a pensar, como diz o povo, que é rápida a justiça para o pobre que rouba um pão do supermercado, mas lenta para o rico que tem, à sua conta, exércitos de advogados para protelarem o assunto até à sua prescrição.
E podíamos abordar os crimes de dopagem no desporto, que se fazem por todo o mundo, e os enormes ludíbrios praticados nas apostas, em todas as modalidades desportivas (declaração pronunciada por alto responsável internacional). Em Portugal estamos a viver estas tristes e preocupantes situações mas, reconheçamos, não é só cá nem somos dos piores. Mas um caso basta para decepar a boa-fé, a lealdade e o “fair-play”. A educação conta muito, claro, mas a humanidade deixa-se arrastar, muitas vezes, para os sete pecados mortais. Precisamos de Justiça e, como se dizia há muitos anos, “bacteriologicamente puríssima”.
Saberemos, hoje, viver sem dúvidas ? Pessoalmente, já sinto saudades de acreditar. Quando ingenuamente, eramos felizes e despreocupados. Nunca o ditado, ” Ver para crer, como S. Tomé “, foi tão necessário…!
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