Reparei há pouco que é domingo. Neste processo de confinamento os dias parecem-nos todos iguais. Mas talvez por ter mudado a hora me tenha lembrado que é domingo. E aos domingos, normalmente, fazem-se coisas diferentes. Como, pessoalmente, não espero que aconteça nada de diferente (e ainda bem…) resolvi enviar-vos um texto para um pouco de repouso mental.
Comecei por descobrir um excelente “cartoon” de um artista francês, Clavel, que tendo feito este desenho em 2006, tão bem espelha a grande confusão europeia que ainda campeia no nosso continente. Como se vê, nos últimos 14 anos a nossa União continua sem ser capaz de se entender nas crises. E como será daqui para a frente?
Por outro lado a poesia também nos ajuda a “radioscopiar” alguns sentimentos em épocas diferentes dos nossos tempos. Por exemplo, Vitorino Nemésio dissertando sobre as suas angústias do tempo escreveu, a propósito, um pequeno poema que, tal como hoje, ilustra receios com otimismo final. O poema chama-se “A Tempo” e diz:
A tempo entrei no tempo,
Sem tempo dele sairei:
Homem moderno,
Antigo serei,
Evito o inferno
Contra tempo, eterno
À paz que visei.
Com mais tempo
Terei tempo:
No fim dos tempos serei
Como quem se salva a tempo.
E, entretanto, durei.
Pedro Mexia, que vemos e ouvimos com frequência, para além de desempenhar cargos importantes, escreveu, entre milhares de poemas, esta quadra a que deu o nome de “Vamos Morrer”:
Vamos morrer, mas somos sensatos,
e à noite, debaixo da cama,
deixamos, simétricos e exactos,
o medo e os sapatos.
Espero, esperamos todos, que os danos causados por esta terrível pandemia se reduzam e terminem logo que possível. Mas, entretanto, para este domingo, aqui ficam estes apontamentos de boa disposição. Bom confinamento e vão lavando as mãos.