Não vale a pena regressarmos às nossas lamentações depois de todos estes dias de isolamento dos nossos amigos, dos nossos familiares, de todas as limitações a que temos estado sujeitos. As notícias dos jornais (hábito que se voltou, aparentemente, a verificar) trazem-nos todas as desgraças que campeiam pelo mundo, vemos pela televisão as imagens mais chocantes e dolorosas em todos os países do mundo. Conhecemos muitos que se infetam e se curam e outros que, infelizmente, não se curam e partem.
Mas assistimos a uma renovada solidariedade, a novas e geniais ideias para ir ao encontro dos novos desafios. A humanidade passou a preocupar-se com a humanidade. Será que tudo isto continua depois da pandemia? Não se sabe. Mas que o mundo vai mudar ou está a mudar, já ninguém duvida. Muitos estudantes e professores passaram a utilizar os meios digitais para se entenderem; muitos profissionais passaram a fazer em casa o que antes lhes era pedido nas empresas ( o tal teletrabalho); as decisões políticas ou institucionais passaram a ser mais rápidas por virtude desta enorme anomalia. Alguns responsáveis políticos aproveitam estes momentos de desespero para criarem falsos isolamentos e, pior ainda, para alterarem as condições constitucionais, para se poderem manter para além daquilo que a democracia lhes havia permitido. Pondo, naturalmente, em causa a nossa habitual democracia, aquela a que nos habituámos e que não sabemos se vai perdurar para além desta perturbação essencial. Claro que eles conhecem mal as originalidades da humanidade e da natureza. Assistimos a uma significativa diminuição da poluição atmosférica em todo o mundo; o degelo das zonas árticas está a ser mais lento do que havia sido prognosticado pela ciência; as florestas estão a ser dizimadas em muito menor escala do que de poderia prever e até as águas de Veneza já têm uma significativa e interessante fauna que tinha desaparecido há muito tempo. Será que tudo isto vai continuar? Não se sabe mas duvida-se. Agora todos estão de acordo em colaborar no sentido de atenuar a terrível crise sanitária que a todos persegue mas isso não nos faz esquecer as enormes filas de desempregados que veremos pelo mundo fora, em virtude de uma economia débil que muitos não estão atempadamente a atender.
Mas a Humanidade e a Natureza vão-se juntar para repor tudo aquilo que parece perdido. É o sonho e a esperança que hão-de ganhar. Como, aliás, disse António Gedeão no seu maravilhoso poema “Pedra Filosofal” , tão bem cantado por Manuel Freire:
Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer.
Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.
E é com este sonho e esta esperança que os Responsáveis dos Serviços de Saúde se confrontam todos os dias; é com esta esperança que os Agentes da Saúde (médicos, enfermeiros e auxiliares) se confrontam e abdicam das suas residências habituais para se isolarem e dedicarem, em exclusivo, ao inominável combate que têm pela frente e pelo qual dão tudo o que têm. Sim, dão! Porque nunca haverá nada que lhes pague a esperança futura de todas as crianças do mundo.
Aqui vos deixo duas imagens bem expressivas: Uma pintura de J. Bogalho representando a luta contra qualquer peste; e uma fotografia, real, de uma dessas enfermeiras que estão na linha da frente e que não sabem quando regressarão ao convívio dos seus.


A todos eles, de novo, OS NOSSOS AGRADECIMENTOS.
E tudo na vida, não passa da verdade que nos parece vivê-la, com mais ou menos realismo. E o humanismo, esse sonho que nos foge das mãos, tão pequenas, como as que por onde se esvaziam as vontades…!
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