Esperança e Frustração

Há um velho provérbio russo (recuperado e traduzido por Jorge de Sena em 1973) que diz:

Há dois enigmas no mundo,
na vida que viverei:
Como nasci? Não recordo.
Que morte é minha? Não sei.

Os tempos que vivemos não são, na realidade, nada fáceis. Todos os dias, a todas as horas, vemos e ouvimos imagens e discursos sobre os males que entorpecem o mundo, que criam desesperos, que matam expectativas,  que quase anulam sonhos e visões de futuro. Na realidade, no silêncio das nossas reflexões, somos levados a confirmar o provérbio: não nos lembramos do momento de nascermos, não adivinhamos como será a nossa morte. O primeiro momento não seria inevitável, o segundo sê-lo-á.

Por natureza,  alguns de nós serão ainda veículos de esperança, outros sentem-se vencidos e tornam-se arautos das tempestadades futuras. Provavelmente todos terão razão mas cada um percorrerá o seu caminho com o ânimo e os meios de que se for socorrendo. Os mais velhos dizem, com frequência, que já passaram por crises e situações iguais ou piores que estas, os mais novos já começaram a maratona, encaram-na com mais disponibilidade, mais esperança, mais rebeldia, mas os indicadores do presente não lhes augura ilimitadas facilidades. Trabalham, estudam, preparam-se para fazer coisas que ninguém sabe muito bem quais serão. Muitos opinam, dão pistas, prevêem os amanhãs, refugiam-se, e bem, na ciência, mas depois os homens encarregam-se de dispor os acontecimentos a seu belprazer. E o que é , já não é bem o que devia ser. Esta é a incógnita para a juventude. Uma equação a muitas incógnitas que ela, juventude, acabará por resolver para o bem das gerações que se lhes seguirem.

Mas no meio de todas as ameaças e de todas as esperanças é hora para sorrir mas pensar… E socorrendo-me, de novo, de um filósofo pessimista, Jorge de Sena, consegue-se descobrir, numa pequena quadra,  um sentimento, simultaneamente,  de esperança e frustração:

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.
Só quero o que não posso.

 

2 pensamentos sobre “Esperança e Frustração

  1. CARO MANUEL JOSÉ, os tempos são incertos para todos nós e sem dúvida que para a juventude também. Melhores tempos virão, sem dúvida, podem é demorar algum tempo. Quando foi da epidemia da nossa geração, a guerra colonial, a solução tardou 13 anos, mas chegou !

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  2. Tempos difíceis e de espectativa, com uma aprendizagem nova sobre s vida. Como me dizia um antigo professor de matemática, antes do exame : ” O que é preciso, é aquela convicção que exorta os fortes “…! Por acaso, chumbei. E aquele momento, ensinou-me a encarar a vida de forma diferente…!

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