CONTRIBUTO PARA A DISCUSSÃO PÚBLICA SOBRE O PLANO DE RECUPERAÇÃO ECONÓMICA DE PORTUGAL 2020-2030

No âmbito da discussão pública envolvendo o Plano, venho falar de 2 temas que foram esquecidos, mas aos quais deveria ser dada a devida importância : a ACTIVIDADE FÍSICA e o DESPORTO.

Não tenho qualquer grau académico em assuntos relacionados com a actividade física e o desporto, e se me atrevo a abordar o assunto é simplesmente porque tendo praticado desporto durante toda a vida, tendo sido dirigente duma federação desportiva e sendo dirigente duma ONG sem fins lucrativos dedicada ao fomento do desporto para todos,  estou firmemente convencido da respectiva bondade para o bem estar das pessoas e, em termos financeiros,  para a diminuição da despesa pública e  para angariar receitas para a nossa economia.

Detalhando :

1. Efeitos da actividade física na saúde

Há imensos textos sobre o tema e no portal da Direcção Geral de Saúde pode ler-se um  bom resumo sob o título “Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física”.

Dos 21 pontos do Programa ( que é de fácil e rápida leitura  ), sublinho o seguinte :

9. Qual o custo da inatividade física em Portugal ?

Este valor não foi estimado com precisão, mas calcula-se que se a inatividade física atingisse (apenas) 50% da população portuguesa, os custos seriam de cerca de 900 milhões de euros por ano ( *). No entanto a inatividade física parece atingir níveis tão elevados como 77% da nossa população. Estes custos dizem respeito a doenças que a atividade física poderia prevenir ( 8% das doenças das artéria coronárias, 11% dos casos de diabetes tipo II, 14% dos casos de cancro da mama e 15% do cancro colorretal ) e com a mortalidade prematura associada

(*) A OMS , numa publicação on line Fact Sheet: Physical Activity, estima que numa população de 10 milhões de habitantes dos quais 50% não têm actividade física suficiente, o custo em saúde é de 910 milhões de euros/ano.

Noutra informação, a OMS estima que na região europeia a inactividade  física causa 1 milhão de mortos por ano

Outro aspecto vale a pena focar é o da “esperança de vida saudável (ou sem incapacidades) “ em comparação com a esperança de vida. Os dados  do Eurostat 2018, em anos, são:

No caso de Portugal

Esperança de vida  à nascença                Homens: 78,3

                                                                Mulheres:84,5

Esperança de vida saudável  à nascença  Homens:59,8

                                                                 Mulheres 57,5

Na UE, média dos 27 países

Esperança de vida  à nascença                Homens: 78,2

                                                                Mulheres:83,7

Esperança de vida saudável  à nascença  Homens:63,7

                                                                 Mulheres 64,2

Vê-se que no caso da esperança de vida à nascença, Portugal compara bem com a média dos 27 países da EU, mas  no caso da esperança de vida saudável à nascença, tal não  acontece : no sector masculino, o nosso País está em 18º lugar e no feminino em 20º.

Várias causas contribuem para o resultado negativo no aspecto da esperança de vida saudável e a falta de actividade física é uma delas.

PROPOSTA : Pôr em prática o Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física da Direçção Geral de Saúde, dotando-o dos meios humanos e financeiros necessários para cobrir todo o País.

A médio e a longo prazo, a qualidade de vida dos cidadãos aumentará e a redução das despesas de saúde do SNS será evidente.

Esta proposta poderia ser integrada no ponto 3.1.3.”O Sector da Saúde e o Futuro” do Plano

2. Aproveitamento dos Centros de Alto Rendimento Desportivo (CAR)

Portugal dispõe de 14 CAR no seu conjunto adequados para o treino de 31 modalidades desportivas e com instalações cómodas para atletas e treinadores.

Penso que não estarão ocupados pelas selecções nacionais a 100%.

PROPOSTA : Desenvolver uma forte campanha a nível internacional para promover a utilização dos CAR por equipas estrangeiras.

Isto permitiria rentabilizar melhor os CAR e contribuir para a conta de exportação de serviços Esta proposta poderia ser integrada no   Sector 3.1.10.“Cultura, Serviços, Turismo e Comércio” do Plano

Lisboa, 8 de Agosto de 2020

F. Fonseca Santos

A 15 de Setembro de 2020 , no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, foi feito pelo Professor António Costa Silva o balanço da consulta pública da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030.

No resumo impresso distribuído aos convidados, na página 37 pode ler-se :

DESPORTO

O desporto pode contribuir para a economia portuguesa, seja na sua componente de turismo desportivo, seja associado ao espetáculo desportivo ou à prática desportiva. A aposta nos recursos específicos do nosso país a este nível tem vindo a crescer, sendo Portugal cada vez mais conhecido pela sua aprazibilidade para a prática desportiva, sendo já exemplos disso o golfe e o surf.

Por outro lado, políticas que promovam o incremento da prática desportiva terão consequências na qualidade de vida dos cidadãos, designadamente ao nível da prevenção e tratamento das doenças crónicas não transmissíveis e da incapacidade funcional, contribuindo fortemente para a redução dos pesados encargos públicos com o Serviço Nacional de Saúde.

  • Programa de Reabilitação de Instalações Desportivas através de co-financiamento de pequenas obras em clubes e associações desportivas de base local
  • Promoção da marca Portugal no Desporto, enquanto destino privilegiado para turismo desportivo com enfoque nos desportos náuticos, realização de estágios desportivos, potenciando a utilização dos nossos 14 Centros de Alto Rendimento por atletas de equipas nacionais e internacionais; e realização de eventos desportivos internacionais de pequena e média dimensão, que permitam trazer espetadores estrangeiros e, assim, promover Portugal enquanto destino de turismo.

Estes contributos assumem-se como bastante pertinentes e consentâneos com a abordagem integrada das diferentes componentes do Eixo ( o Eixo Estratégico 10 – Cultura, Serviços, Comércio, Turismo ) , devendo, por isso, ser considerados

Foi uma grande satisfação verificar que o Desporto tinha entrado na lista das propostas a considerar para posterior decisão governamental e que a actividade física para todos, embora não tenha sido incluída nas propostas, não deixou de ser mencionada. Penso que todos aqueles que neste campo se deram ao trabalho de enviar uma contribuição têm motivos para considerar que valeu a pena. E tenhamos esperança que estas propostas sejam incluídas na decisão final.

Lisboa, 19 de Setembro de 2020

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