A Nossa 10ª Conversa/Entrevista – Maria do Céu Nascimento

Olá! Cá estão de novo os “Velhos São os Trapos” para a sua já bem conhecida conversa/entrevista mensal. Esta é a décima da nossa sequência e estamos, como vem sendo hábito, no agradibilíssimo Espaço Espelho de Água, beneficiando do seu envolvimento cultural e, desta vez, com o atributo importante de, encontrando-nos à beira rio, proporcionarmos uma proximidade quase marítima à nossa convidada de hoje, a 2º Tenente da Armada Maria do Céu Nascimento.

Na minha época de militar no ativo  não havia mulheres nas Forças Armadas. Embora fosse uma questão quase tabu, nos anos 50/60 do século passado, já havia estudos e pareceres que, à semelhança do que se passava noutros países, a admissão de mulheres nas Forças Armadas era algo que, inevitavelmente, viria a suceder. A sociedade civil nunca interiorizou com espontaneidade uma identificação plena com as Forças Armadas e, claro, muito menos com a ideia de mulheres militares. A maior parte das famílias portuguesas guardou, de forma inelutável, as feridas pelos seus familiares perdidos ou feridos na inútil guerra colonial que Portugal travou, durante mais de uma década, nas antigas colónias africanas. Essa marca pungente tornou-se um obstáculo poderoso à posterior identificação e consensualização da sociedade civil com o papel fundamental das Forças Armadas numa democracia moderna . Só depois de 1974, e com a desejada normalização da vida democrática do país,  se começou a perceber o importante e insubstituível papel das Forças Armadas na vida interna e externa do país. Com a evolução e o progresso da vida, as mulheres acabaram, naturalmente, por ter lugar pleno nos ramos militares.

A primeira experiência de mulheres colaborando com as forças militares teve lugar em 1961, quando um grupo de enfermeiras paraquedistas da Força Aérea foi destacada para a guerra em África, sobretudo para funções  de apoio aos soldados e auxílio aos feridos. Só em 1990 a Academia da Força Aérea começou a admitir mulheres nas áreas de engenharia e administração. Em 1992 o Exército teve a sua primeira admissão de cadetes femininos e, nesse  mesmo ano, a Marinha abriu um recrutamento de 80 mulheres. Só em 1994 teve lugar o primeiro curso de cadetes femininos na Escola Naval.

Por razões de vida,  nunca tinha tido oportunidade de contactar ou conhecer uma mulher militar. E, embora encarando esse processo com grande normalidade, gostava de perceber melhor as motivações da opção de uma rapariga ao escolher a vida militar. Nada, afinal, como previa e se comprova,  que seja diferente dos rapazes. E hoje estamos na presença de uma dessas militares da Armada, das que foram admitidas pela primeira vez na Marinha em 1992: a 2º tenente Maria do Céu Nascimento, que me foi apresentada pelo comum conhecido Comandante Vitor Birne, a quem deixo um abraço de agradecimento.

Desde a conclusão da Escola Secundária em Lisboa, sempre com um forte envolvimento familiar, com uma  muito importante  atividade desportiva (natação, volei e basquetebol), concorreu e foi admitida na primeira incorporação de mulheres na Marinha, em 1992. A partir daí a sua vida foi, realmente, uma corrida acelerada com obstáculos facilmente ultrapassados devido à sua tenacidade e  vontade indómita de progredir  e valorizar-se. Passou por tudo o que são escolas, bacharelatos e licenciaturas em Enfermagem e, depois de muitas missões cumpridas em terra e no mar, está hoje colocada como docente dos Cursos de Saúde Militar na Escola do Serviço de Saúde Militar, unidade prestes a ser integrada no Estado Maior General das Forças Armadas.

Esta resumidíssima caminhada merece ser ouvida e descrita nas muitas etapas que a constituiram. Ninguém melhor para o fazer do que a própria entevistada. Vamos conversar com a 2º Tenente da Armada,  Maria do Céu Nascimento.

Nota: O vídeo desta conversa é, como todos os anteriores, concebido, realizado, produzido e divulgado pela Maria Cristina. É ela a feiticeira dos segredos da digitalização que a mim, naturalmente, me escapam.

2 pensamentos sobre “A Nossa 10ª Conversa/Entrevista – Maria do Céu Nascimento

  1. Uma entrevista muito interessante,… com uma pessoa extremamente humana, amiga do seu amigo e com um enorme AMOR à vida na Marinha. Um grande beijinho para a minha amiga Maria do Céu Nascimento. Saudações Navais. JB

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  2. Nos finais dos meus 85 anos, vou-me adaptando às novas realidades do mundo dos humanos. E aqui, a mulher tem mostrado, com a sua persistência, o valor que se tem perdido com a sua ausência na solução de problemas, determinados só para homens de barba rija. Não sei se todas as mulheres estarão preparadas emocionalmente e intelectualmente, para os grandes afazeres que o futuro promete a todos nós, como também não sei se os homens de hoje, o estarão. Perante a voluntariedade e a personalidade tantas vezes demonstrada pelo eterno, mas não menos frágil feminino, levanto-me e ponho-me em sentido, sob o som sêco de um batimento de calcanhares…! .

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