FLORES E VELAS

Muitos países têm-se vindo a debater, há já alguns anos, com problemas sérios relacionados com o radicalismo islamita. A França, em especial, tem vivido incidentes de extraordinária dureza aos quais tem respondido com legalidade e com a proporcionalidade de meios que a sua Constituição e a sua Cultura lhes conferem. Principalmente nos últimos 15 anos os debates sobre este problema e as formas de o combater têm sido intensos.

Há poucos dias um professor foi degolado à saída da sua escola por um jovem checheno que foi abatido rapidamente. Segundo os observadores foi a primeira vítima de uma classe profissional, a dos professores, que há muito se encontrava ameaçada. Já tinha havido vítimas entre os militares, jornalistas, um padre, gente que desempenhava a sua missão profissional utilizando o grau de liberdades que o seu país lhes confere. Com abuso de opinião? Ultrapassando o respeito por outras culturas ? Ficou por provar. Há comportamentos e radicalizações que não são passíveis de debate ou diálogo à luz da nossa cultura ocidental, europeia, tolerante. E há praticamente duas décadas que a França se revolta, reage mas não consegue impedir o avanço da guerra jiadista no seu próprio território. Presta homenagens às vítimas, associam-se-lhes dirigentes de países amigos mas o problema renova-se de quando em quando, fazendo a sua prova de vida quando menos se espera. Normalmente as homenagens às vítimas incluem colocação de flores e velas nos locais atingidos, na presença de altos responsáveis da nação. Mas como diz o professor e filósofo francês François-Xavier Bellamy, eurodeputado republicano desde 2019: “Flores e velas nunca ganharam uma guerra”. Temos não só o direito mas também o dever de defender as nossa liberdades e, em especial, a liberdade pedagógica nascida há séculos nas universidades medievais da Europa. A política não se deve imiscuir num debate sobre a natureza do Islão. O papel do governo deve ser o de simplesmente aplicar a lei em todo o território nacional. Expulsar os estrangeiros em situação irregular, acabar com a fraude social, identificar e destruir as redes de radicalização, travar uma luta implacável aos traficantes de droga que gangrenam as sociedades e financiam o terrorismo. E, acima de tudo, insistir na educação. Não legalizar o “separatismo” porque já se provou que separar não elimina o problema geral. Seria um disparate evocar o ensino do árabe ou criar um instituto de islamologia. A civilização muçulmana não faz parte da França e, pelo contrário, há que garantir, cada vez mais, o ensino do francês.

Como diz o Professor Bernard Rougier, sociólogo e professor na Sorbonne: “O professor Samuel Paty foi vítima de um terrorismo “comunaturista”. Os promotores islamitas conseguiram desenvolver uma causa emocional que alargou a sua influência junto de uma parte dos crentes que não se reconhecem necessariamente nas suas ideologias. Os meios islamitas em França são ecossistemas fortemente implantados na realidade social local, entre cursos nas mesquitas (que são conhecidas), clubes desportivos e associações humanitárias. É sobre estes temas que os governos têm que estar focados. “

O terrorismo de guerra, porque é disso que se trata, tem que ter um tratamento especial, com forte interligação de métodos entre os países, de modo a desfazer as malhas terroristas que já são fortíssimas por toda a parte. Estes terríveis incidentes, aparentemente ocasionais, obrigam-nos a pensar e a perceber que o “iceberg” existe. Isto são apenas algumas pontas.

Um pensamento sobre “FLORES E VELAS

  1. Um assunto que ultrapassa a maioria das pessoas, embora as impressione, sem contudo, se descortine um mínimo de entendimento para neutralizar os ódios de há tantos séculos.. Na luta contra o racismo, tão justificada e compreendida pelo mundo humanista e da tolerância de hoje, sente-se, que outras forças se aproveitam da boleia da tolerância, para distorcer e influenciar os seus pontos de vista religioso. Guerras Santas, já tão longínquas dos nossos tempos modernos, a reaparecer com a violência, e a força da vingança, agora tão perto das nossas mentes despreocupadas..! Estará o Ocidente preparado intelectualmente, para superar e dar resposta a situações tão diferentes dos jogos político-económicos, que o mundo sempre atravessou ? Recordo a monstruosidade do 11 de Setembro ou o Charlie Hebdo. Actos de guerra onde não se ouviram tiros cadenciados de canhão, nem o som de botas cardadas a invadir terrenos anteriormente trabalhados, mas ataques sem identificar a pessoa A ou B. Apenas atitudes de vingança, sem qualquer outro resultado que não fosse a destruição do ego do inimigo, no seu próprio terreno, criando sofrimento em quem vivia o seu dia a dia. Foi assim em N. York, ainda que por outros motivos políticos e económicos, como foi em Paris, ou ainda em Londres, por outras razões de intolerância. Uma Guerra Santa de vingança, a misturar-se com a estratégia que se resume no vexame em casa do inimigo, ainda mais injusta que as próprias palavras de uma crítica humorística, possivelmente estúpida, possivelmente evitável, que a liberdade de expressão, por mais desrespeitosa que fosse, devesse justificar tais barbaridades… !
    Ainda sobre a tolerância e o respeito religioso, recordo o tempo em que Portugal tinha colónias, como Goa Damão e Diu, e igualmente Moçambique e a Guiné com populações de religiões diferentes, cruzando-se no seu dia a dia, sem obstáculos que lhes minimizasse a sua liberdade de pensamento religioso. Não sendo entendido nestas coisas da fé e das comemorações religiosas, admiro a forma como nós portugueses, de formação moral cristã, de forma inteligente e tolerante, facilitávamos a peregrinação dos régulos da Guiné, passando por Lisboa a caminho de Meca, onde a compreensão nos era devolvida com sorrisos de satisfação, respeito e de paz. Talvez até de amizade, se a guerra não continuasse a existir por outros motivos bem diferentes…!

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