No meio deste confinamento pandémico ocorreu-me, consultei e decidi transcrever parte de um poema de Luís Veiga Leitão, poeta do século XX, nascido em Moimenta da Beira em 1912 e falecido em 1987, em Niterói, no Brasil. Foi perseguido politicamente e escreveu, de memória e sem registos imediatos, belas e dolorosas poesias. Aqui vai parte do seu poema Sonambulismo que parece identificar-se com a época que vivemos:
Tombam os dias inúteis:
amanhece, é tarde, anoitece.
Mas a nós que nos importa
ser manhã, meio dia ou noite?!…
Sonâmbula a vida decorre
-nas ruas, a paz larvar dos grandes cemitérios;
dentro de nós, cada um
apodrece.
Enchem-se de títulos vibrantes os jornais
mas tudo é tão longe…
Passam homens por homens e não se conhecem:
Boa tarde! Bom dia!
Cada um fechado nas suas fronteiras,
os gestos vazios, a vida sem sentido,
sonambulismo apenas.
Retrato do dias que correm, indiferentes, translúcidos, sem princípio nem fim. Adormecidos por um virus que doi por dentro e por fora.
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