RECORDAÇÕES CURIOSAS

Não o podemos negar: os largos meses que nos têm perseguido com esta pandemia têm afetado as vidas de todos nós. Saimos o mínimo, “teleconversamos” talvez com mais assiduidade, repetimos leituras , “trepetimos” as músicas de que mais gostamos, tentamos tornar mais aliciantes as conversas diárias com os da nossa “bolha” e sofremos, sobretudo sofremos, com o que se vai passando mais perto ou mais longe de nós. Cada doença, sofrimento ou morte, de conhecidos ou não, multiplicamo-los exponencialmente. Somos todos, sem darmos por isso, vítimas da solidão.

Já Leo Ferré escrevia e murmurava, cantando, na sua Solitude: “Je suis d’un autre pays que le vôtre, d’une quartier, d’une autre solitude. Je m’invente aujourd’hui des chemins de traverse. Je ne suis plus chez vous.” Tinha, nos seus versos, a pandemia da alma, sem mitigação nem cura. Como se viu. Esperemos que a nossa pandemia se vá dissolvendo e mostrando-nos o que vão ser as nossas vidas no futuro. Principalmente para quem possa aspirar a um futuro mais longo.

O nosso blogue “Velhos São os Trapos” também tem passado as suas amarguras. A diversidade autoral dos nossos textos tem diminuido, a frequência dos textos tem sido afetada, os índices de leitura têm-se reduzido (talvez pela menor qualidade ou interesse dos textos). Mas muitas das iniciativas que realizámos perduraram nas memórias, temos provas disso: o livro que publicámos com o primeiro ano de textos, “Escrito nas Estrelas e o Vento que Passa”, continua a ser procurado; a série “Conversas Improváveis” sempre teve leitores assíduos; as Conversas/Entrevistas mensais que realizámos durante 2020 foram muito bem recebidas e divulgadas. O ano de 2021 não se nos tem afigurado propício à continuação dessas conversas para as quais já tínhamos convidados interessantes. Temos que esperar por um maior e mais consistente alívio desta situação para retomarmos essas deliciosas e fantásticas conversas.

Sem graves interlúdios os textos continuam a aparecer e a registar um interessante número de leitores. Vamos, no entanto, iniciar uma nova série a que pensámos dar o nome de “Recordações Curiosas”. Aqui trataremos de falar sobre factos, pessoas e acontecimentos que por razões pessoais (especialmente de idade) fomos acompanhando mas que não são conhecidas ou deixaram de ter interesse para grande parte dos que nos rodeiam. A rapidez dos tempos de hoje e o passar inabalável das gerações deixa para trás muitas coisas que foram importantes ou, pelo menos curiosas, para nós. Relembrá-las vai ser um exercício divertido e talvez elucidativo para muitos leitores que delas não se recordem ou que até as desconheçam. A primeira recordação vai ser sobre o Vulcão dos Capelinhos. Nada de especial, dirão alguns. O que é isso? Dirão outros.

Cá nos terão muito em breve para falarmos sobre isso. Talvez ajude a amenizar “La Solitude” de Leo Ferré…

Um pensamento sobre “RECORDAÇÕES CURIOSAS

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