JOGOS OLÍMPICOS 2020/21

Terminaram ontem os Jogos Olímpicos de Verão, em Tóquio, que sofreram, por força da pandemia, o atraso de um ano. Do verão de 2020 acabaram por se realizar no verão de 2021. Tenho assistido, regularmente, às transmissões diretas da nossa televisão e, claro, não perdi a Cerimónia de Encerramento .

A realização destes Jogos, todos os que os organizaram, todos os que neles participaram merecem os maiores louvores pelo esforço excecional que lhes foi imposto, em moldes nunca antes experimentados e que esperemos que não se repitam. Mas se houver outra tragédia que abale o mundo, como aconteceu com esta tormentosa Covid, estou certo que fica agora um imperdível manual de instruções para eventuais futuras experiências do mesmo cariz.

As perturbações vividas nestes últimos dois anos pelo mundo do Olimpismo foram quase inimagináveis. A cidade organizadora, Tóquio, e todo o Japão viveram dificuldades sociais, políticas, desportivas, financeiras que não estarão, à data de hoje, ainda contabilizadas. O Comité Olímpico Internacional, as Associações dos Comités Olímpicos Continentais, os Comités Olímpicos Nacionais viveram dúvidas angustiantes. O mundo desportivo que deles depende (Federações, Associações, Clubes, atletas, treinadores e restantes equipas técnicas) passaram por experiências inéditas e violentas que escapam à maioria do cidadão menos identificado com esse mundo tão complexo. Para quem assistiu a tudo o que se passou em Tóquio (e fomos muitos) olhou sobretudo para os desempenhos desportivos dos atletas que foram, diga-se de verdade e talvez contra as expectativas, de enorme qualidade e superação. Ao olhar para as provas quase nos esquecemos que as bancadas estavam vazias de público. Aí começou uma das grandes diferenças de um evento com estas características. O público (para além das sempre desejadas receitas de bilheteira) faz parte da força do evento. É a comunhão do mundo com os heróis desportivos da época moderna. E isso não se passou. Mas passou-se outra coisa muito importante: os atletas e as equipas comportaram-se como se as bancadas estivessem a aplaudi-los. Os resultados comprovam-no. Foram batidos antigos e difíceis recordes por atletas de muitas nações, incluindo a nossa.

É fundamental deixar aqui uma palavra de grande apreço pelo desempenho da missão olímpica portuguesa. Independentemente de todas as limitações por que decerto passou teve a capacidade de ser a Missão portuguesa mais medalhada de sempre (4 medalhas) e com grande número (15) de diplomas olímpicos (classificações até ao 8º lugar). A organização do Comité terá contribuido para isso, os apoios públicos e privados terão também ajudado (não conheço ao certo os montantes) mas o mais relevante foi a vontade férrea demonstrada por todos os atletas. Os que tiveram medalhas e os que não as tiveram. Todos foram medalhados quando foram apurados e integrados na Missão. Uma vez Olímpico, é-se Olímpico para toda a vida. Portugal deve compreender e homenagear os seus atletas porque, mais uma vez, com este honroso comportamento, souberam chamar a atenção para tantas coisas que decerto ainda terão que ser melhoradas no envolvimento desportivo nacional. Este é um longo e já muito discutido tema que hoje não vem a propósito aqui abordar.

O público não acompanhou os isolamentos obrigatórios a que atletas e equipas técnicas estiveram obrigados. O saudável e livre convívio entre as delegações dos cerca de 200 países não foi possível ou foi, pelo menos, muito mitigado. E isso faz parte do Espírito Olímpico. Mas a tudo isso se sobrepôs a vontade de competir e, se possível, ganhar.

Nem todos os países apoiam as suas Missões com meios vultuosos. Mas, para além disso, é indispensável estruturar os meios disponíveis dentro de uma lógica de médio e longo prazo. Alguma coisa se tem feito no nosso país, mas continuam a existir lacunas que têm sido difíceis de harmonizar. Uma delas, de que muito se fala, é o papel essencial do Desporto Escolar. Embora com avanços, o seu papel indutor junto da juventude escolar ainda não é explosiva. E não será de menos atentar no facto de a medalhada Patrícia Mamona, como ela disse, ter tido origem no Desporto Escolar . Como, também , em 1953 (o Desporto Escolar tinha outras referências) o mesmo se passou com o primeiro campeão do mundo em vela português (na classe de snipes) no Campeonato do Mundo de Mónaco, António José Conde Martins.

A cerimónia de encerramento, embora sem público, revestiu-se de grande dignidade e originalidade. Proporcionou-nos um magnífico espetáculo de despedida e abriu grandes expectativas para Paris 2024.

Tudo isto servirá para enaltecer o grande resultado conseguido pela Missão Portuguesa em Tóquio. E todos estes pontos foram sensata e criteriosamente expostos na entrevista concedida ontem à RTP pelo Presidente do COP após a sua chegada dos Jogos.

Sinto-me hoje na obrigação de assinar o texto de forma mais completa. Obrigado pela vossa leitura.

Manuel Marques da Silva

Membro de Mérito do Comité Olímpico de Portugal

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