Todos os que passaram pela escola ficaram com a ideia da classificação de caucasiano para certos seres que, teoricamente, constituiam uma raça privilegiadamente “branca”.
Para os que já não se lembram bem dessas teorias (o que é normal) basta recorrer ao inefável Google e, sem grandes arrobos culturais, pode ler o que por lá está escrito sobre o assunto evitando, dessa forma, fazer declarações grosseiras ou, digamos mesmo, boçais. Vamos transcrever o que de mais significativo vem na Infopédia sobre os caucasianos:
“O termo caucasiano foi definido em 1795 por J. F. Blumenbach para definir aquilo que se acreditava ser uma das cinco raças do mundo: os europeus eram os caucasianos, os asiáticos os mongóis, os africanos os etíopes, para além dos americanos e malaios. Ele achava que a origem dos europeus estava na região do Cáucaso, onde se tinha produzido um tipo humano branco de grande beleza e perfeição. O Cáucaso é um maciço montanhoso, situado entre o mar Negro e o mar Cáspio, onde hoje se situam os países do Azerbeijão, Geórgia e parte da Arménia. Esta classificação nunca teve qualquer fundamento científico ou tradição de civilizações. Foi, no entanto, usado até ao século XX nas sociedades ocidentais comparando-se, na sua ausência científica, com outros falsos conceitos de raça como a do termo ariano, criado na Europa por Max Muller e Joseph de Gobineau para sustentar a noção de uma raça superior. O conceito de caucasiano e de ariano sustentaram o tráfico e a escravatura de africanos no mundo ocidental e estiveram na descriminação racial contra os judeus na Alemanha Nacional-Socialista e no regime do apartheid sul africano.
Portanto essa coisa de se considerar caucasiano tem muito que se lhe diga. Se se considerar que por ser “caucasiano” se é mais belo e inteligente, então mais cuidado se deve ter nesses pronunciamentos. Aliás, para quem derrama esse conceito em Portugal talvez não fosse pior ter o cuidado de relembrar as ancestrais origens da sua gente. Qualquer tratado de História de Portugal nos ensina e recorda a vinda dos fenícios para Portugal nos séculos IX-V a. C. , a estadia dos romanos na península ibérica desde 218-19 a.C. , a fundação da província romana da Lusitânia em 16-15 a.C. , a chegada dos bárbaros entre 409 e 411, a dos vikings em 844, a criação das ordens militares em 1128 e, finalmente, o rei portucalense, D. Afonso Henriques, em 1140. Vieram mais tarde as conquistas de Arzila, Ceuta, Tânger e Alcácer Ceguer e todas as descobertas realizadas nos outros continentes para onde levámos os nossos costumes e de onde trouxemos, no regime de escravatura, muitos dos nativos que por lá encontrámos e que vieram a dar, posteriormente, um valor humano acrescentado a este tão minúsculo país. Cientificamente não há nem nunca houve esses tais caucasianos puros, belos e inteligentes. Hoje todos somos mistura, como os diferentes lotes de café ou os “blended” uisques que para aí se vendem.
Mais do que se dizer caucasiano importa mais ser-se humano, solidário e defensor de causas que considere justas. Em pleno século XXI o atual Secretário Geral da Nações Unidas, António Guterres, diz num seu artigo a que deu o título de “O paradoxo da solução dos problemas mundiais” o seguinte: “Injustiça, desigualdade, desconfiança, racismo e descriminação estão a lançar sombras escuras em todas as sociedades. Devemos reforçar a dignidade e a decência humanas e dar respostas às ansiedades das pessoas.”
Não me parece que quem se queira ilustrar auto-intitulando-se simplesmente de “caucasiano” possa vir a ser útil ao seu País e a defender a dignidade e a decência humanas que António Guterres proclama no seu artigo.
Caucasiano, um termo que entrou há uns tempos na moda. Como muitos outros, hoje apelidados de clichés, ou lugares-comuns, dando ares de grande sabedoria e superioridade. O texto, é muito interessante e demonstra bem o que se ouve entre nós, num esforço de recuperar um passado que nunca existiu e nos lembramos como desajustado. Ou não fossemos nós, um povo que modestamente se misturou com outras raças no desenvolvimento do país e no próprio Império Português.
Uma história cheia de grandes heroísmos, algumas vezes levianamente esquecida, onde o racismo pouco significado tinha. Os sete mares por onde navegámos e o comportamento nas terras conquistadas, nunca se poderiam comparar com os padrões estéticos da Grécia Antiga, ou melhor ainda aos vestígios das legiões romanas que por aqui andaram, impondo a submissão esclavagista e a sua superioridade.
Ser caucasiano, para muitos, poderá ter os mesmos padrões estéticos de uma raça branca, ainda que longe da considerada beleza masculina de Adónis comparando-nos aos parâmetros gregos e romanos, com a mente e o corpo treinado para a guerra. Talvez ainda nas proporções corporais e de beleza, tão defendidas por Vitrúvio, onde a face deveria ser 1/10 do comprimento da figura humana ; a cabeça – 1/8 ; e o toráx – 1/4, num modelo de compleição exemplar … !
GostarGostar