Era impossível, no dia de hoje, não abordar o tema das comemorações dos 50 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974. A partir de amanhã Portugal terá vivido mais um dia em Democracia do que em ditadura. Não quero produzir um texto longo nem repetitivo relativamente ao que já foi dito sobre aquela data. E ao que, certamente, muito se vai escrever nos próximos tempos.

Exprimo apenas o meu desabafo pessoal e sentido relembrando-me que nasci numa época em que a ditadura já navegava a pano largo. Fui, portanto, criado numa época em que as coisas se passavam como todos hoje sabemos que se passavam. Todo este tempo de vida deu-me oportunidades e criou-me situações que dariam para longas histórias. Não interessam, parte delas até já foram escritas e divulgadas.

Mas o que quero relembrar a mim próprio foram as ansiedades, as expectativas, algumas participações, as alegrias transbordantes sem cinismos nem segundas intenções. As graves atribulações que a ditadura me impôs já passaram, ultrapasseia-as, foram resgatadas pelo que resultou dos molhos de cravos vermelhos que me habituei a ver. Habituámo-nos a ajudar, cada um no seu desempenho, a manter a frescura dos cravos, mesmo no meio das proclamações nostálgicas que tantas vezes apareceram.

Acabou-se, estamos em Democracia da qual devemos aprender as lições com que, dia a dia, somos confrontados.

Os meus filhos ainda nasceram em tempo de ditadura mas rapidamente se aperceberam do que estava para acontecer. E tiveram a felicidade de viver, em direto, esses dias de transformação. Os meus netos já não a conheceram, essa tal ditadura, a não ser pelas leituras. Está nas mãos desta gente dar seguimento à Liberdade de que, desde que nasceram, benificiaram.

Para que todos possamos dizer, como nos tão relembrados versos da canção: “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”!