Pedreiras de Xisto – Foz Côa

Longe, vão os tempos das aulas de geologia onde aprendíamos as formas de clivagem dos minerais que nos era dado a conhecer, por vezes, numa forma pouco atractiva. Uma forma pouco convidativa para quem ainda não sentia a beleza destes fenómenos da Natureza. Íamos fixando os planos de clivagem cúbicos, os romboédricos e os octoédricos, sem entender muito bem, exceptuando os pequenos cristais de quartzo já pouco cristalinos, pelo uso do passar de mãos, deixando-nos adivinhar as formas resultantes de um golpe firme.
Uma matéria apaixonante, que nem sempre me entusiasmou pela ausência de estímulo sobre o conhecimento da Natureza, que constantemente pisamos. E tudo vem à memoria que os tempos nos trazem aos poucos, aumentando a curiosidade sobre aquilo que se vê e aprecia nos mais diversos panoramas da vida.
Num passeio por terras do Douro e Foz Côa, entre as paisagens apaixonantes de grandes vinhedos, nas encostas dos rios, deparei-me com pequenos lotes de pequenos postes feitos em pedra de Xisto, preparados para aplicar nas imensas filas de vinha e vedações de propriedades.
Conhecidos por Esteios do Foz Côa, este material fabricado artesanalmente, tornou ainda mais rica, uma zona que há muito ouvia apelidada de pobre, pela dureza do isolamento e da vida. Uma dureza com o mesmo significado da sua pedra, tão desperdiçada e desvalorizada, durante tanto tempo. Hoje, fazendo jus à sabedoria e ao esforço das suas gentes.
Era vulgar, vê-los noutras zonas, sem nunca lhes ter ligado a importância que esta pequena indústria extractiva tem para o desenvolvimento de uma das regiões mais esplendorosas do país. A resistência e a dureza daquela pedra de Xisto, e o processo como é clivada, veio dar-me, de igual forma, o interesse que aquelas aulas de geologia nunca me poderiam ter dado. Não, porque não se soubesse ensinar, mas porque não me transmitiam o gosto de conhecer uma realidade tão expectante…!
Este pequeno vídeo, cedido gentilmente por Rui Campos, um amigo dedicado à fotografia profissional e interessado nos assuntos regionais, mostra-nos o trabalho surpreendente da forma como se talha uma pedra de Xisto, única no país e na Europa, numa belíssima lição ao ar livre, na maior das naturalidades, sem ajudas de máquinas especializadas. O corte de uma pedra quase tão dura como o aço, cujo batimento do martelo nos transmite o surpreendente som da sua vibração. A melhor lição de clivagem de um mineral tão brutal como as Terras do Demo, que Aquilino Ribeiro tão bem soube descrever nos seus romances…!







2 pensamentos sobre “Pedreiras de Xisto – Foz Côa

    • É verdade ! O vídeo mostra bem a dureza desta forma de exploração mineira, como tantas outras, onde a carência de estudos e apoios tecnológicos, aqui se encontra bem patente. Estou certo, que outras soluções poderiam dar melhores condições e melhor rentabilidade a quem tão penosamente se dedica a este trabalho…! O que me levou a incluir este assunto, não foi mais do que a curiosidade da sua formação rochosa e as diversas aplicações, tão singulares e tão pouco conhecidas. Igualmente, a dureza e o som das vibrações ao longo do seu comprimento, demonstram bem a sua semelhança ao aço, como muitos a comparam. Uma riqueza, que se junta a uma das paisagens mais fabulosas do nosso interior, onde as vinhas do Baixo Douro e Côa são soberanas…! Terras de Xisto, que continuam a dar-nos o prazer de apreciar uns dos melhores vinhos do mundo !

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