DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

Fiquei fascinado por estar incluido neste dia. Porque ser idoso nos tempos que correm é, entre muitas outras coisas, naturalmente, ter muita sorte.

Este Dia foi proclamado pela Resolução 45/106 na Assembleia Geral da ONU de 14 de Dezembro de 1990. Comemora-se este ano, portanto, pela 32ª vez. O tema do ano passado foi a “Equidade digital para todas as idades”, afirmando a necessidade do acesso das pessoas mais velhas ao mundo digital. Terá resultado? Não sei, não consultei as estatísticas.

Interessou-me mais perceber que durante as próximas 3 décadas o número de pessoas idosas, em todo o mundo, mais do que duplica, atingindo mais de 1,5 mil milhões de pessoas em 2050. Consideram-se idosos todos os que tenham 65 anos ou mais.

O Dia celebra-se a 1 de Outubro e, este ano, 2022, a mensagem da Diretora Regional da OMS para a África, Drª. Matshidiso Moeti, incui diversas afirmações interessantes. “A esperança de vida para os africanos é agora de 56 anos, menos que a média mundial de 64 anos.

Perante isto dir-se-á que atingir os 64 e ultrapassar os 65 é mais do que uma aventura, é uma epopeia. O tema deste ano é a “Resiliência das pessoas idosas num mundo em mudança”, recordando-nos as contribuições significativas que as pessoas idosas ainda têm de fazer para as nossas vidas. Comigo, que já estou nessa classificação há muitos anos, podem contar. Farei o que a ultrapassadíssima sabedoria de que disponho me permitir e, sobretudo, o que as artroses, falta de vista, ciática e outras maleitas congéneres (principalmente a paciência, muita paciência) me autorizem. Diz a Senhora Moeti que a década de 2021 a 2030 será a década para o Envelhecimento Saudável da ONU. Direi eu, para quem for vivo, claro!

Diz a Senhora: “A maioria dos mais de mil milhões de pessoas com mais de 60 anos em todo o mundo vive em países de baixo e médio rendimento”. E, no Dia de hoje, a Senhora Moeli deseja comprometer-se a fazer as mudanças necessárias para promover o envelhecimento saudável. Em quatro áreas fundamentais: a) Procurar ambientes adaptados aos idosos, livres de barreiras físicas e sociais; b) Combater a descriminação etária; c) Garantir o acesso a serviços essenciais de saúde de boa qualidade; d) Oferecer recursos de reabilitação quando necessários.

Percebe-se que, no lugar que ocupa na OMS, a Senhora Moeli não poderia fazer outros votos que soam, em boa verdade, às intenções da Madre Teresa de Calcutá que, pela devoção demonstrada, chegou a santa.

Falo e escrevo sentado no meu cadeirão dos 80 e muitos anos, quase 90. E, em boa verdade, não me posso nem devo queixar perante as estatísticas mundiais invocadas. Tenho ainda, felizmente, a capacidade de olhar para o mundo com duas óticas diferentes: a de quem se assombra e aprecia as maravilhas que as novas técnicas e os progressos da humanidade têm sabido criar; e a de quem, ao longo dos seus anos de vida, acompanhou factos e comportamentos que se deveriam manter por serem imutáveis: a educação, a cultura, a disciplina, a ética, a amizade, a solidariedade. Há já quem diga: “Um conservador a falar”. Não me considero como tal mas não critico quem assim pensar. É livre de o dizer.

Mas mais do que as estatísticas das idades e do Dia que se consagra aos Idosos, o que verdadeiramente me ocorre e me deprime num dia destes é ter que reconhecer que, hoje mesmo, neste dia, morrerão milhares de pessoas em todo o mundo sem atingirem, nem de longe, a idade que justifique a Celebração.

E recordo, com indizível tristeza, muitos dos meus amigos que há muitos anos nos deixaram e não puderam viver esta data de “Celebração”. Como dizia há dias um colunista de um jornal que leio regularmente, perante o facto de ter falecido um grande amigo seu: “Qualquer dia já não tenho ninguém com quem conversar!” E não são só os que morrem. São também os que, não nos deixando fisicamente, nos deixam não nos conhecendo, iludidos de si próprios e da vida em que sempre lutaram e foram felizes consigo próprios e com os seus.

É ingrata a missão da Drª Moeli. Uma luta, acredito que devotada, mas cujas consequências a prazo, como ela tão bem explica, vai ultrapassar as barreiras da decência e do humanismo.

Dia Internacional do Idoso! Até quando cada um de nós poderá ser alvo dessa “comemoração”?

Um pensamento sobre “DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

  1. Desconhecia em absoluto a existência desta comemoração. Um assunto muito interessante, que me fez pensar na quantidade de idosos que passam os dias deambolando pelos Centros Comerciais para ver gente, como a reviver um pouco daquele seu mundo, que há muito lhes fugiu. A necessidade de se sentirem acompanhados, numa ilusã, onde um eventual sorriso de simpatia, lhes animaria o espírito esgotado de tantos invernos já passados. Possivelmente, os meus quase 88 anos, cobertos de uma patine ilusória, não serão muito diferentes…!

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