Há dias, épocas, períodos da vida em que escrever, mesmo para quem o faz com regularidade, assume travos de sabor amargo, de aparente incapacidade de comunicar. Sobram-nos temas mas a inexplicável secura da inspiração priva-nos de transformar em textos o que vamos observando à nossa volta. Estamos mais disponíveis para olharmos para o que vai mal, do que para o que nos parece ir melhor. Inspiração sufocada.
Acontece que nessas fases o refúgio mais vulgar é o da leitura, olhar para o que outros escreveram. E recorrendo ao desabafo de Almada Negreiros apetece dizer:
A BEM
ATÉ O INFERNO
A MAL
NEM O CÉU
E continuando a citá-lo acabei por cair nestes versos tão atuais:
E continuam a nascer soldados
que morrem ou escapam da guerra
e as guerras passam e voltam
por mor de haver soldados
soldados e guerras
monótonos como tambores
para o passo certo
até ao fim do mundo.
Desculpem o pequeno desabafo de hoje. Pequeno e triste. Prometo voltar depressa com espírito mais livre e menos sufocado.
Pois, volte sempre…! Há dias assim, tingidos de escuro, obrigando a maiores esforços. Que as tágides que o inspiram, não se fiquem estendidas na Linha, a apanhar banhos de Sol.
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