Num interessante artigo de hoje no DN, escrito por Joana Amaral Dias (a quem peço desculpa pela citação), psicológa clínica com quem não estou muitas vezes de acordo com o que escreve, fiquei hoje subscritor das suas ideias no tocante à veemente recomendação do presidente do Banco Santander para os portugueses não manterem o hábito (segundo ele) de “jantar fora às sextas-feiras”. Trata-se de um padrão de consumo elevado. Realmente não podemos deixar de pensar duas vezes nesta estonteante declaração. Atendendo aos lucros recorde do seu banco em 2022, com o salário milionário de que desfruta (fora os extras muitas vezes não tributados) que ideia faz ele das dificuldades por que têm de passar muitos dos seus próprios depositantes para lhe pagarem, religiosamente, os juros obscenos que lhes são exigidos? Deve imaginar que esta praxe de comer bifes e de beber copos generosamente acompanhados por damas de companhia (como disse em tempos um ministro holandês antes de ser neerlandês) seria uma habitual prática portuguesa.

Não, Sr. Presidente. Os portugueses são cada vez mais parcimoniosos nos seus gastos e não podem ser atacados por, de vez em quando, lhes apetecer ir jantar fora com uns amigos. Enquanto Dirigente da Associação Cristã de Empresários e Gestores e do Centro Paroquial São Francisco de Paula deveria estar muito mais próximo do que é real, das Pessoas, que vivem espartilhadas por poderosos impostos e pelos juros obscenos a que o seu banco os obriga. Se, porventura, está alheio a esta realidade, o que é ainda mais grave, e sendo considerado o 19º empresário mais poderoso em 2022, Pedro Castro e Almeida, o banqueiro de quem estamos a falar, deveria praticar aquilo que as Instituições da sua fé lhe preceituam. Em declarações públicas afirmou adotar “os critérios de Cristo na sua vida pessoal e profissional”, dizendo também “que o mundo do trabalho o inquieta”. A esses compromissos não devia faltar.

Percebe-se, no entanto, que há por aqui um poder hereditário muito forte: o seu pai foi quadro do Totta e dirigente do Santander, enquanto o seu irmão lidera o negócio do BBVA em Portugal. Formou-se e aderiu às mesmas instituições de onde também sairam Horta Osório, Stock da Cunha e Nuno Amado. Sabe-se também que a sombra da Opus Dei nunca se afasta destas hierarquias poderosas e, em conjunto com outra instituição também de realidade translúcida, a Maçonaria, constituem, segundo os especialistas, os dois mais poderosos patronos das organizações empresariais em Portugal e em muitos outros países. Sabe, Sr Presidente, que até nas Forças Armadas essas duas instituições se degladiam e os oficiais suspeitos de pertencerem a uma ou outra dessas organizações têm, por vezes, fortes contratempos na altura de promoções de alto nível.

Não, senhor presidente, os portugueses, na sua grande maioria, não têm hábitos de consumo desenquadrado das dificuldades diárias com que são confrontados. A Banca, a famosa Banca que tanto se socorre dos governos em épocas de crise, não tem, em tempos de maiores folgas, comportamentos de apoio à população que a alimenta e que não contradigam “os critérios de Cristo” tão invocados por esta administração. Como diria Eça de Queiroz no seu tão em moda romance “O Crime do Padre Amaro”: que Deus lhes perdoe.